Vestida de branco, como sempre, Simone entrou em palco e, ao som de Sangrando, deixou a voz soltar-se em envolvente firmeza, dando início, assim, ao jogo de longos aplausos que se foi repetindo de canção em canção. Começar de Novo e Face a Face encaminharam-na para o “boa noite” à plateia, mote para que a intérprete se mostrasse honrada pela estreia na Casa da Música e pelo regresso ao Porto. E mesmo antes de continuar com mais uma composição de Ivan Lins, Atrevida, foi com atrevimento e piada que, por entre votos de tempo bem passado, Simone se desresponsabilizou da escolha do repertório.

A pausa no cancioneiro romântico fez-se de seguida com Lá Vem a Baiana. Simone, baiana, podia muito bem não estar de saia rodada, como na canção, mas não resistiu a uns passinhos de samba promovidos pela batucada ligeira. Seguiram-se Fullgás, tema celebrizado por Marina Lima, nos anos 80, e O que Será (a Flor da Terra), da autoria de Chico Buarque, com a entoação marcada por descidas e subidas de tom.

Mais aplausos calorosos no fim de Jura Secreta e de Encontros e Despedidas acentuaram a devoção pela Cigarra, alcunha da cantora batizada pela canção com o mesmo nome, próxima na lista. A versão de Eu Sei que Vou Te Amar, um original de Vinicius de Moraes e António Carlos Jobim, cantada contidamente, tons abaixo, levou à primeira ovação em pé, de um público que se mostrou rendido praticamente desde o primeiro instante.

Dos temas cantados pela cantora ao longo das últimas quatro décadas houve oportunidade para mais revisitações aos grandes nomes da música brasileira, desde Roberto Carlos a Jorge Ben. No mesmo tom de alegria de Ive Brussel, Simone canta Tô Voltando, esperamos que em jeito de promessa, já que os acenos ao público deixaram adivinhar o anúncio do fim.

Para o primeiro encore, perante uma plateia respeitosamente compenetrada, a cantora baiana interpretou, a capela, Foi Deus, tema levado além-fronteiras por Amália Rodrigues. Regressou ao palco, uma vez mais, com Alma aguçada, para rematar a noite de celebração.

Pelas mãos de Simone, que já havia recebido flores, distribuíram-se rosas brancas, um gesto de agradecimento que se tem vindo a fazer tradição e que esta noite não pôde faltar.

Confere o alinhamento do concerto:

Sangrando
Começar de Novo
Face a Face
Atrevida
Lá Vem a Baiana
Fullgás
O que Será (a Flor da Terra)
Jura Secreta
Encontros e Despedidas
Cigarra
Eu Sei que Vou Te Amar
Iolanda
Outra Vez
Sob Medida
Migalhas
Loca
Deixa Eu Te Amar
Ive Brussel
Tô Voltando

Foi Deus

Alma

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: Filipa Oliveira