![Silence 4 na MEO Arena: A estrela de Sofia](/assets/img/blank.png)
Com cortinas encarnadas no palco, bem ao estilo da capa que ilustra o disco “Only Pain Is Real”, a voz de Sofia agradece a presença de todos, antes de arrancar o concerto. ‘A Little Respect’, tema dos Erasure que os Silence 4 tornaram seu, oferece voz a uma sala já visivelmente composta, apesar das longas filas para a entrada na plateia.
O palco ia-se compondo à medida que os temas, como ‘Borrow’, se fizeram avançar: primeiro, um gigante peixe-dourado à esquerda; depois, várias cadeiras suspensas sob as cabeças de David, Sofia, Rui e Tozé. Juntar-se-ia Sérgio Godinho, para interpretar ‘Sextos Sentidos’, cuja letra o próprio escreveu quando os Silence 4 se encontravam numa fase inicial da carreira.
‘My Friends’ motivou um automóvel a descer do cimo do palco, «estacionando» à direita, para que David Fonseca invocasse alguns dos seus momentos habituais nos seus espetáculos a solo, subindo até o carro de megafone em punho e disparando a palavra contra a audiência.
Já ‘Angel Song’ arrancaria o primeiro humedecer aos cantos do olho, com Sofia Lisboa visivelmente emocionada com a sua letra – «Hello. Don’t be scared. I want you to know, you’re not dead» –, dado o contexto da sua vida. Aliás, a vocalista havia mencionado que, mesmo em caso de morte, quereria que a audiência cantasse esta sua parte do tema. Felizmente, houve um anjo que a quis escutar 13 anos depois dos últimos concertos de Silence 4.
Enquanto um ecrã já se mostrava no fundo, surge um grande farol em palco a iluminar ‘Eu Não Sei Dizer’, antes da incendiária ‘Only Pain Is The Real’ devolver a primeira escuridão da sala.
O primeiro encore da noite é feito no centro da Meo Arena. David Fonseca justifica que a sala de ensaios da banda não é maior do que aquele pequeno palco montado entre o público, replicando-o para nova descarga de emoções. Uma versão muito especial e tocante de ‘Invincible’, dos Muse, é dedicada por Sofia à sua irmã, que a motivou e salvou através de uma doação de medula, levando esta a atravessar o público para atingir o palco e proporcionar um misto de aplausos e lágrimas. Lágrimas, estas, de felicidade. David, não deixando de parte o seu característico humor, refere que inúmeras faixas foram deixadas de parte do disco de estreia e, aproveitando a ocasião do pequeno espaço que dispõe no centro da Meo Arena semelhante ao de ensaio, apresenta ‘Self Suficient’. Segue-se ‘Silence Becomes It’, que deu nome ao disco mas que, por teimosia, foi deixada de fora. E não sendo possível iluminar a sala com velas, tal como a banda desejaria, pediram-se telemóveis no alto para lhes dar luz durante ‘Goodbye Tomorrow’.
O segundo encore seria feito no regresso ao palco propriamente dito, entre distribuição de fundos conseguidos nos espetáculos para a Liga Portuguesa Contra o Cancro e agradecimentos ao público. Repetiram-se as célebres ‘Borrow’, desta vez maioritariamente instrumental e com a voz a cargo do público, e ‘My Friends. Em modo reprise e com direito a ser entoada a capella, voltaria ‘A Little Respect’. Seria uma boa forma de despedida de Lisboa, com Sofia a juntar-se aos fãs junto às grades, entre abraços, cumprimentos e sorrisos. Mas existiria um terceiro encore: ‘Angel Song’ também seria repetida.
As saudades de uns, a primeira vez de outros e a curiosidade de terceiros juntaram-se para a ovação final a uma banda que se fez sentir durante cerca de duas horas e meia, não dispensando os últimos e múltiplos aplausos da noite. Os presentes, que cumpriram uma clara tendência na faixa etária de quem viveu os anos de ouro de Silence 4, levaram para casa a difícil tarefa de controlar reações incidentes a um concerto que carregou treze anos de fado, circunstância, sucesso, dor e luz.
Feitas as contas, a reunião deu-se por um motivo feliz: a vida volta às mãos da estrela da noite, Sofia, numa escolha que não lhe coube fazer.
Texto: Nuno Bernardo
Fotografia: Marta Ribeiro
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