Aníbal Simão é o barbeiro de serviço, tem 63 anos e apaixonou-se pelo artista norte-americano (1935-1977) quando pela primeira vez lhe ouviu a voz em "Love me Tender". "Ele tinha um timbre tão grave, tão forte, que eu adorei ouvi-lo e até pensei que fosse negro", recordou à Lusa o proprietário da Barbearia-Museu Elvis. "Acho que ele é um artista intemporal porque foi inovador na sua época, mantém-se atual ainda hoje e vai continuar a ouvir-se daqui a 500 anos", acrescenta.
Aníbal Simão só lamenta "que em Portugal não prestem ao Elvis tanta atenção como no estrangeiro" e é esse desinteresse que se propõe combater com o almoço-convívio do dia 2 de fevereiro. A iniciativa envolve, afinal, vários admiradores do "Rei", já que a ideia de realizar o evento surgiu quando a presidente do clube de fãs "Elvis 100%" apresentou o barbeiro ao artista de tributo Fernando Peças. Esse, disposto a conhecer a barbearia-museu dedicada ao intérprete de "Jailhouse Rock", sugeriu então o encontro coletivo em Oliveira de Azeméis, para cujo espetáculo convidou também António Carlos Coimbra.
Para os mais de 100 apreciadores de Elvis esperados na cidade, o dia começará assim com a visita ao estabelecimento onde, além de discos e livros sobre o cantor de "Blue Suede Shoes", a sua imagem se poderá encontrar ainda em quadros, vestuário, serviços de café, moedas, bonecas matrioscas, gravatas, toalhas de praia, bilhetes da casa-museu Graceland e até num pequeno altar religioso, onde não falta uma vela sempre acesa.
A música-ambiente é sempre de Presley e as únicas variações permitidas são para "artistas que também foram amigos dele", como Roy Orbison ou Dean Martin. A peça "mais valiosa", por sua vez, é a moldura com um autógrafo do "Rei", um pequeno retalho da toalha que ele usava no barbeiro e uma mecha de cabelo do próprio cantor.
"Quem me dera ter sido barbeiro dele", desabafa Aníbal Simão. "Era um artista fenomenal, mas muito humilde e boa pessoa, porque também tinha vivido na miséria - coisa com que me identifico porque, quando eu era novo, a minha família não morria à fome, mas a fartura também não era muita", explica.
Desde esses primeiros anos, Aníbal Simão já foi motorista militar e operário da construção civil emigrado, até se decidir pelo ofício que o pai sempre sonhara ter e para o qual motivou depois os seus filhos. "Eu nunca podia ter sido cantor, que não tenho jeito nenhum para isso", reconhece o colecionador. "Mas gosto de ser barbeiro, tenho clientes fiéis há 45 anos e não sou dos que despacham o serviço a correr, porque faço as coisas como têm que ser feitas, sem andar a despachar ninguém", garante.
Quanto ao dinheiro que vem gastando ao longo dos anos na sua coleção sobre Elvis Presley, Aníbal Simão diz que prefere nem fazer as contas. "Já sei que há quem não perceba isto e diga que sou maluco", admite. "Mas eu já não sou novo, vivo sozinho e isto ajuda-me a viver, porque às vezes bate-me uma solidão tremenda e é o Elvis que me faz andar para a frente", confessa.
@Lusa
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