“Para mim é um sentimento misto de muita alegria e de uma profunda gratidão, porque, numa altura em que o país atravessa sérias dificuldades, as pessoas disponibilizaram o seu tempo e o seu dinheiro, para me ouvirem cantar”, disse à Lusa Ricardo Ribeiro. “Não os devo desapontar e cantar o melhor que puder e souber”, rematou o intérprete que, neste espetáculo, em que passará em revista os vários álbuns, até ao mais recente “Largo da Memória”, terá as participações especiais de Pedro Joia, Pedro Caldeira Cabral e Rabih Abou-Khaul. O fadista atua em Lisboa e no Porto, depois de ter esgotado, no passado dia 5, o Elebash Center em Nova Iorque.

Ricardo Ribeiro, de 32 anos, com quatro álbuns editados em nome próprio e várias participações noutros discos, reconhece que tem feito uma carreira “a pulso, em que nada foi facilitado”. “Tudo o que tenho feito e construído tem sido apenas com suor e dedicação, sem pisar ninguém, seguindo sempre o meu caminho. O que pretendo é ser musicalmente honesto, seguindo a minha lógica artística”, disse o intérprete de “A Porta do Coração”.

Esgotar estas duas salas “emblemáticas” é, para o fadista, um reconhecimento do trabalho feito, mas também “um motivo para ainda trabalhar mais”. Nestes dois espetáculos, Ricardo Ribeiro vai interpretar um tema que ainda não gravou, “Gaivota Perdida”, uma criação de Celeste Rodrigues, e um inédito, “Grãos de Areia”, para o qual Abou-Khaul fez a música, sendo a letra de António Rocha. Desta dupla, o fadista irá interpretar “Adolescência perdida”, que registou no álbum que gravou com o tangedor de alaúde, e que foi o primeiro que Abou-Khaul gravou com uma voz. Com o músico libanês irá também interpretar o tema “Tarab”, do poeta árabe do século IX Hasan ibn al-Missîsi, traduzido por Adalberto Alves, com música de Pedro Joia.

Com Pedro Caldeira Cabral, Ricardo Ribeiro partilhará a interpretação de um instrumental, “Quando nasceste”, de sua autoria e que dedicou à filha, assim como “Cantiga de seguir”. Pedro Jóia, com o qual fez o recital em Nova Iorque, afirmou que “já é da casa” e partilhará a interpretação de todos os temas de “Largo da Memória”, álbum editado no final do ano passado.

O título do disco remete para uma questão pela qual o fadista sempre se tem batido - a defesa da memória histórica, quer a nível pessoal quer coletiva - e também para o bairro da Ajuda (é um "mimo" para o bairro lisboeta), onde viveu parte da sua infância e adolescência, e onde se localiza um "Largo da Memória". “Precisamos de ter memória, até para não cometermos os mesmos erros, mas este disco são as histórias que fazem a minha história de 32 anos de vida. Com 42 anos, gravarei outro disco de outra forma e com outras componentes”, disse.

Este disco - “uma memória de futuro", parafraseando Fernando Pessoa - é também “muito intenso”, pela forma como interpreta cada um dos fados, "sendo crente mesmo que se diga que não se crê”, como disse Agostinho da Silva. Para falar do sentimento que o liga ao álbum, que será a base do alinhamento dos concertos, Ricardo Ribeiro citou os fados que gravou, desde o menor, acompanhado por Ricardo Rocha, ao Fado Tertúlia, com o tema “Não rias”, passando pelo “Fado Alentejo”, “As malhar do amor”, acompanhado pelos músicos Pedro Castro e Jaime Santos, e a “Cantiga de Seguir”. Para o fadista o fado é “fruto de todas as culturas que passaram por Lisboa, que é o seu verdadeiro berço”.

Além dos convidados especiais, Ricardo Ribeiro será acompanhado por um quarteto de cordas e também por Pedro de Castro, na guitarra portuguesa, Jaime Santos, na viola de fado, e Francisco Gaspar, na viola baixo.

@Lusa