Começámos esta viagem fazendo o percurso inverso. De armas e bagagens, voámos para Manchester e começámos a noite a dançar ao som do rock electrónico de New Order, num set onde “Age of Consent” e “Blue Monday” fizeram o público dançar, e “Cerimony”, a música de transição de Joy Division para New Order, abriu o caminho para as restantes partes do concerto. Durante o intervalo, “Closer”, dos Nine Inch Nails, deu a dica para o próximo ato que se viria a desenrolar no palco do Armazém.

“Atrocity Exhibition”, a primeira faixa de "Closer", convidou-nos a entrar [This is the way. Step inside] num outro período de tempo, de volta ao final dos anos 70, início dos anos 80. As luzes de palco tornaram-se mais difusas, criando ambiente e contrastando com as coloridas luzes que, durante a primeira parte do espetáculo, iluminaram o espaço do Cais do Sodré. Se há músicas que têm o poder de nos levar no espaço e no tempo, podemos dizer que as de Joy Division integram este lote, pela influência que tiveram em inúmeras das bandas que ouvimos nas rádios e visitam o nosso país, e por serem marco de um período pós-punk muito vincado. Hook entregou ao público as músicas que este queria ouvir e cantar, e foi quase possível, com um pé em Lisboa e outro em Manchester, fazer esta viagem.

A dor e a melancolia das músicas de “Closer” e “Unknown Pleasures” foram cantadas e entoadas por um Armazém F cheio por um público bastante homogéneo, em grande parte vestido de preto, numa das maiores concentrações de t-shirts com a capa deste último disco aqui mencionado já vista por cá. A maior delas estava no palco, sobre um dos amplificadores, e no fundo, acompanhada também da capa de Closer. Um bom pano de fundo para este regresso, com a duração de mais de duas horas e meia, em que a energia de temas como “Isolation”, “Disorder”, “She’s lost Control”, “Shadowplay” ou “Interzone”, recebidos de braços no ar, saltos constantes, danças frenéticas e letras na ponta da língua, contrastou com a carga e intensidade de faixas como “Passover”, “Day of the Lords” ou “Twenty Four Hours”. Uma noite que, por certo, terá tocado de forma diferente cada um dos presentes, pela vivência e tempo de convivência com cada uma destas faixas.

“Digital”, “Atmosphere”, “Transmission” e “Warsaw” foram os bónus extra-álbum para os fãs, que saltavam e gritavam, numa alegria claramente partilhada por todos. Uma noite única, que voltou a dar vida a uma das maiores da Factory, em Lisboa. “Love Will Tear Us Apart” foi a despedida em grande, que deixou um público satisfeito à saída, de pés na terra, em 2014, e já na capital portuguesa.

Texto: Rita Bernardo

Fotografia: Nuno Bernardo