![Live Freedom II no Teatro Tivoli: Uma troca solidária pelos direitos de todos](/assets/img/blank.png)
Como anfitriões, responsáveis por ajudar a passar o tempo enquanto alterações cénicas e questões técnicas se resolviam, esteve presente (embora pela metade) a equipa das Manhãs da Rádio Comercial: Vasco Palmeirim e Nuno Markl.
O ambiente era ora tenso, ora descontraído. Quando os casos apoiados eram apresentados para toda a plateia, o silêncio imperava, numa óbvia e entendida dor pelos problemas alheios. Mas toda essa tensão quebrava-se quando os momentos musicais decidiam ter início. Eis que, por volta das 22h00, já com umas gargalhadas dadas e com todos informados sobre o propósito do evento, explicação a cargo de Teresa Pina, responsável pela Amnistia Internacional, entra em palco Sérgio Godinho, apresentado por Vasco Palmeirim como sendo um “puto que está agora a começar": "Se não conhecem o trabalho dele, vão comprar, que ele ainda vai dar que falar”.
Sérgio Godinho deu a cara pelo caso de um jornalista etíope, Eskinder Nega, que foi preso pela oitava vez, sendo que desta foi condenado a 18 anos de prisão, por ter, simplesmente, criticado o governo, pedindo que a liberdade de expressão fosse respeitada no seu país. Com um alinhamento cheio de mensagens de revolta e com vontade de mudar o mundo, o cantautor que tão bem conhece Portugal encheu o Tivoli de sucessos, mesmo só com 30 minutos de concerto. “Vampiros”, “O Primeiro Dia”, “Quatro Quadras Soltas” e “Acesso Bloqueado” foram alguns dos temas que fizeram parte do repertório do artista. Findo o mini-concerto e sempre com palavras de força para aqueles que todos os dias sofrem com os abusos dos seus próprios governantes, Sérgio Godinho abandona o palco para dar entrada aos mestres de cerimónias.
De guitarra na mão, Palmeirim apresenta uma espécie de medley que, juntamente com Markl, iria tocar: “Resolvemos tentar pegar em músicas de vários artistas e encaixar letras do Sérgio Godinho. Não ensaiámos, praticamente, por isso não esperem nada de bom”. Com um blazer de camurça beje emprestado por um espetador sentado na plateia – o Sr. Bernardo, como se fartou de mencionar -, Markl pega num instrumento que apelida de “mini-submarino” e emite uns sons que quase pareciam saídos de uma vuvuzela esganiçada, causando o riso geral.
Desafio ultrapassado, era altura de Luísa Sobral pisar o palco e de mais duas causas serem defendidas: Yorm Bopha, uma ativista pelos direitos à habitação no Camboja, detida por acusações de agressão que podem ter sido forjadas, e Ihar Tsikchanyuk, um ativista bielorusso pelos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros), que foi espancado pela polícia apenas por ser homossexual.
Envergando um curto vestido verde, que apelidou de sua fatiota natalícia e pelo qual veio, mais tarde, a pedir desculpa ao pai, por ser tão curto, Luísa Sobral entrou em palco para espalhar doçura e meninice pelo Tivoli. Com um pequeno tema à capela, abriu as hostes para “I Was In Paris Today”, seguindo-se mais um par de músicas, até que o espírito natalício invadiu a casa de espectáculos. Como todos os membros da banda a envergar um belo gorro vermelho na cabeça, interpretou-se "Canção de Natal". “Xico” veio fechar o concerto que se queria bem mais longo, mas ainda vinham daí os Batida e o tempo já se tornava escasso. De sorriso na cara e transbordando doçura, Luísa Sobral, "uma menina tão doce que até causa cáries", como Palmeirim referiu, deu lugar a mais uma volta de histórias com os animadores da Comercial.
Desta vez, Markl partilhou com os presentes o pior dia da vida dele, que não foi assim há tanto tempo. Mas a história é grande e vamos só resumir: o homem é mesmo um azarado daqueles.
Os Batida resolveram escolher, não um caso específico, mas uma comunidade no seu total. Nabi Saleh, na Cisjordânia, desde 2009 que se manifesta pacificamente, pedindo o fim da ocupação e da política de expansão dos colonatos da Cisjordânia. Com muita força de vontade (e de braços, ora não fosse preciso bater naqueles tambores com tamanha veemência) “Bazuca” entrou em altos ritmos, para dar início ao concerto da noite, para aqueles que ainda resistiam às horas. Curto mas bom, foi a cereja no topo do bolo para tentar animar todos os presentes, que ficaram de coração apertado com os casos que presenciaram da Amnistia.
Marta Ribeiro
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