
Nesta altura do concerto, Jamie já conquistou por completo a audiência e aproveita para fazer uma pequena pausa e trocar umas palavras com o público. Em primeiro lugar, agradece a todos os que o têm apoiado nesta sua viagem de mais de dez anos, e a quem se dirige aos seus concertos. Depois, elogia Portugal e os portugueses, e diz que somos “atraentes” enquanto povo – mais as mulheres do que os homens, sublinha. Por fim, conta-nos que foi à praia em Cascais com os elementos da sua banda, horas antes de subir ao palco do Estádio Municipal de Oeiras, e confessa ter-se sentido um alienígena perante as condições climatéricas e perante os banhistas e surfistas portugueses (“Englishman In Cascais”?).
Antes de prosseguir com o concerto, Jamie introduz a canção que se segue. A história da música gira em torno de um personagem que nos tempos de infância teve dificuldades em afirmar-se na sua escola e conseguir a atenção das raparigas. Certo dia, decidiu ingressar pelo mundo da música e aprender a tocar piano (familiar, não?), algo que o levou a ganhar alguma notoriedade e... o resto da história já a conhecemos... Assim sendo, e estabelecendo uma comparação com a personagem da série “Happy Days”, Jamie Cullum pede à sua banda “some New Orleans stuff” e canta o tema “When I Get Famous”.
Não deixa de ser interessante ver alguém que vive a milhas do berço do jazz evocar as sonoridades da cidade natal do estilo e sair-se tão bem na sua interpretação. A verdade é que Jamie Cullum consegue fazer bem a oscilação entre o seu lado mais jazzístico e a sua vertente mais apopalhada (no sentido estrito da palavra pop). Em “Just One Of Those Things” foi possível encontrar o borbulhar da sua veia musical mais ligada ao estado de Luisiana, e em “I’m All Over It” a sua inclinação mais popular e orelhuda.
De seguida, o soar das primeiras notas de “Don’t Stop The Music”, versão para o original de Rihanna, que misturou ainda uns versos da canção “Diamond”, também ela pertencente à cantora oriunda dos Barbados, levou boa parte da plateia a levantar-se e a aproximar-se do palco para dançar e ver mais de perto o músico britânico. Primeira reação: sacar para fora o dispendioso smartphone e registar o momento para a posteriori – típico.
Podemos dizer que a reta final do concerto de Jamie Cullum foi quase inteiramente dedicada ao álbum “The Pursuit”. Depois de ter levado o público à euforia com “Don’t Stop The Music”, o artista seguiu com “I’m All Over It”, e “Mixtape”, que provocou coros uníssonos no estádio municipal de Oeiras. Foi sob esses mesmos coros que Jamie Cullum abandonou o palco, regressando pouco depois para interpretar o tema “If I Ruled The World”. Uma boa dose de emoção esteve presente nestes minutos finais do concerto, não só na plateia, mas também no palco. Visivelmente comovido, Jamie Cullum recebeu a devida ovação por parte de um público que ficou notavelmente satisfeito com a prestação do artista.
Muitas vezes torcemos o nariz e desconfiamos quando algum músico pisa solo nacional e se desfaz em elogios sobre um país que muitas vezes nem sequer chega a visitar. São inúmeros os casos em que o mesmo discurso e a mesma lengalenga é repetida de país para país, alterando simplesmente o nome da cidade e, em certos casos, polvilhando a narrativa com algumas palavras da respetiva língua. No entanto, há casos em que tal discurso nos aparenta vir das entranhas, transparecendo alguma sinceridade. Este é um deles. Não metemos as mãos no fogo pela paixão que Jamie Cullum diz sentir por Portugal, no entanto a felicidade e a emoção que vimos estampada no seu rosto, a cada vez que foi aplaudido pelo público, comprova esse sentimento. De qualquer forma, nós gostamos dele e esperamos vê-lo mais vezes por cá.
Texto: Manuel Rodrigues
Fotografia: David Sineiro
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