Mas, se o primeiro trabalho do cantor e compositor era repetido na ponta da língua, já o segundo acabou por passar mais despercebido. Ainda assim, mesmo quando era este o protagonista do palco, o público não desarmava. Ora dançava, ora escutava atentamente – facto que não passou despercebido ao jovem cantor, que chegou a elogiar a atenção com que era escutado –, ora pedia muitas canções.

Após um tímido “boa noite, obrigada por terem vindo”, a noite abriu com “Fuga nº3 da Rua Nestor” e “Capim-Limão”, do recente “Sábado”. Seguiu-se a primeira ovação da noite e o reconhecimento do tema “Vagalumes Cegos”, de “Canções de Apartamento”. E, sempre que Cícero ia buscar o seu anterior disco, era certo e sabido que tínhamos um coro bem ensaiado na plateia.

Entre o primeiro e o segundo disco, seguiram-se “Fuga nº4”, “João e o Pé de Feijão”, “Duas Quadras” e “Ela e a Lata”, estes dois de “Sábado”. “É muito impressionante tocar do outro lado do Oceano”, afirmou, às tantas, Cícero que, cada vez mais, se deixava levar pelo calor que enchia a sala: o físico e o emocional, aquele que, afinal, mais conta.

Depois de “Ela e a Lata”, foi novamente um tema do anterior trabalho, “Açúcar ou Adoçante”, a arrancar as vozes do público da calmaria. E depois do delicioso “Porta, Retrato”, uma das mais calminhas, com o carioca a deixar-se levar pelo “sonzinho” bom, e de “Zelo”, foi hora para “Tempo de Pipa”, o tema mais conhecido e aquele pelo qual o público mais aguardava. Uma canção de amor, com um ritmo brasileiro que se cola na pele, suave e doce, como Cícero é.

Mas também houve momentos de rock, com Cícero a mexer-se muito em palco, apesar do espaço exíguo, que partilhava com mais quatro músicos: Frederico Ferreira, na bateria; Alexandre Bernardo, na guitarra; Bruno Schulz, nos teclados; e Bruno Giorgi, no baixo. “Pra Animar o Bar”, “Ponto Cego” e “Laiá Laiá” foram cantados de seguida, com Cícero a perguntar, imediatamente depois, se podia cantar mais uma calma. O público diz que sim e alguém pede: “Pelo Interfone”! “É mesmo essa, mas tenho medo de ficar chato”, responde o músico brasileiro. “Fala pra ele que ele é um sonho bom, que mudou o tom da tua vida…”, são os versos de abertura de mais uma canção que leva aquele ritmo doce e quente do Brasil, naquele que foi o momento mais bonito da noite.

E depois de “Asa Delta”, a saída do músico em palco, com o público a exigir o regresso de Cícero. “Cícero, cadê você, eu vim aqui só p'ra te ver!”, ouvia-se num coro de vozes femininas. “Vocês gostaram? Mesmo?”, pergunta Cícero, emocionado pelo carinho das pessoas. E o encerramento da noite fez-se com “Fravo, Por Acaso”, antes de Cícero apresentar os músicos e deixar um sentido: “Muito obrigado!”.

O rosto de Cícero, antes de sair do palco, e o rosto das pessoas que saíam calmamente para a noite diziam tudo: há momentos que só vivendo, porque as palavras acabam por estar a mais.

Texto: Helena Ales Pereira
Fotografia: Marta Ribeiro