Entre quinta e domingo, os adeptos da música que se faz em Portugal vão juntar-se aos mil habitantes da aldeia, situada a cinco quilómetros de Tomar, que acolhe o Bons Sons, organizado pela associação cultural Sport Club Operário de Cem Soldos, a cada dois anos.

“Neste momento, estamos com muito mais bilhetes vendidos do que há dois anos”, disse à Lusa o diretor do festival, Luís Ferreira.

Para o primeiro dia, Luís Ferreira destaca a atribuição dos Prémios Megafone, promovidos pela Associação Megafone 5, criada em homenagem ao músico João Aguardela, que morreu em 2009.

A atribuição dos Prémios Megafone, que pretendem distinguir músicos ou entidades que contribuem para as tradições musicais portuguesas, inclui a atuação das três bandas finalistas – Charanga, Omiri e Nó D’Alma (a partir das 22h15) – e também dos Galandum Galundaina (00h45), que venceram a primeira edição, em 2010.

Entre os 55 concertos, que se vão realizar em oito palcos, durante quatro dias, Luís Ferreira destaca a atuação conjunta de We Trust e da Banda Filarmónica Gualdim Pais, de Tomar (domingo, 21h15), por resumir “o que é o festival Bons Sons", que pretende trazer "a vanguarda e a contemporaneidade ao espaço rural".

Outra das novidades desta edição é a receção ao campista, que, já hoje, começa a aquecer os que vão chegando, com um concerto dos Holy Nothing (22h15) e a dupla de djs Bons Rapazes (23h15).

Em 2012, o Bons Sons recebeu 35 mil pessoas, que puderam vivenciar o “bairrismo” dos habitantes locais.

O festival é um momento de “pertença muito importante”, realça Luís Ferreira, explicando que a iniciativa fortalece “o ego” dos cemsoldenses e “cria uma relação afetiva” com os mais novos e os que estão na diáspora.

“O Bons Sons acontece durante cinco dias, mas a aldeia acontece em 365”, lembra. Se, por um lado, “o festival foi feito à imagem e semelhança de Cem Soldos”, que lhe deu uma “personalidade comunitária”, também o Bons Sons “obrigou a aldeia a crescer”.

Luís Ferreira salienta, porém, que a aprendizagem resultante do festival é também aplicada noutras atividades, pois “Cem Soldos não é só o Bons Sons”. Dois anos depois da última edição, Cem Soldos está hoje “mais experiente”, com equipamentos e áreas de lazer “muito mais adequadas”, refere.

Mas não é só música que o festival tem para oferecer. “Venha viver a aldeia” é o mote que serve de pretexto a muitas atividades paralelas, incluindo passeios de burro.

O centro de exposições “Armazém” será ocupado por trabalhos expostos no Walk&Talk, festival de artes urbanas, e os artesãos e alfarrabistas nacionais vão instalar-se nas ruas do centro de Cem Soldos.

O orçamento de 400 mil euros do festival é financiado em apenas um quinto por patrocinadores, dependendo, para o resto, de receitas próprias (bilheteira e serviços), que depois são aplicadas em projetos de desenvolvimento da aldeia.

“Temos estado sempre em crise e não há novidade nesse sentido”, desvaloriza Luís Ferreira, salientando que o festival tem “muito poucos recursos” e conta, por isso, com muitos voluntários locais, que dedicam “o seu trabalho ao bem comum”.

Iniciado em 2006, o Bons Sons apanhou “a crise no início” e continuou “em contraciclo”, recorda, reconhecendo que, a cada edição, “o contexto económico tem sido sempre cada vez pior”, apesar de hoje “a marca” do festival ser “muito mais forte”.

@Lusa