Foi um CCB perto do esgotamento que recebeu a visita dos Animal Collective, que decidiram revelar um pouco do que andam a inventar em estúdio para um futuro longa duração. E, se “Merryweather Post Pavillion” mostrava uma banda em estado de graça, fundindo na perfeição melodias pop com sabor a praia e a mar a um mundo electrónico de inspiração alucinogénica e muito dançável, o novo caminho que os Animal Collective escolheram seguir não poderia estar mais desviado.
O quarteto fantástico composto por Avey Tare, Panda Bear, Deakin e Geologist fez-se cercar e envolver por projecções gelatinosas enquanto fulminava a assistência com temas furiosos, através dos quais traçámos as nossas próprias projecções e devaneios: como soaria o heavy metal se tivesse sido descoberto por uma tribo da amazónia; imaginar os Beach Boys a viver o skate à moda do Hélio, descendo Alfama e outros bairros alfacinhas de inclinação respeitosa em cima de uma tábua instável; ouvir uma canção de amor de inspiração caribenha; assistir a uma conspiração nos confins da floresta preparando a revolta animal; ver velhinhas assustadas com pitbulls e rotweillers a rosnar e presos a trelas demasiado frágeis; observar os Fiery Furnaces calçando Doc Martens com os pés enfiados dentro de água; escutar um reggae num final de tarde na praia já depois das gaivotas perderem a vergonha e se deliciarem com os restos em amena cavaqueira; presenciar um encore que decidiu entrar no território dub e que, apesar dos muitos pedidos, decidiu não convocar as “My Girls” para o acontecimento.
Mais do que um motivo para uma festa de arromba, o concerto dos Animal Collective foi um momento de estática contemplação; como ver um encantador de serpentes enquanto sustemos a respiração e evitamos qualquer movimento com medo de uma mordidela venenosa.
Pareceu a certa altura estarmos a assistir a um documentário onde quarteto de cientistas, adeptos da perfeição, trabalhava num laboratório tentando encontrar a fórmula secreta para o lado mais cerebral da música. O que, por vezes, deixa pouco espaço para que o corpo se deixe levar pela surpresa e pela dança, incomodado com tanto fervor intelectual. Saímos hipnotizados, mas longe de termos entregue o nosso amor de forma incondicional.
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