folk rural e rock musculado
Quarta sessão da XII Edição do Festival de Corroios, dia de jogo - Porto (0) Sporting (1). Não quisemos que o futebol nos roubasse público, o que chega a ser o pesadelo de muitos músicos que vêm os concertos condenados a uma sala vazia em dias de clássico. Deixámos que os ânimos do desporto rei acalmassem e logo depois, foram muitos os que se deslocaram até ao Ginásio Clube de Corroios para acompanhar as actuações dos The Guys From The Caravan e dos
The Doll and the Pupetts. Para o final estava reservada a actuação dos novatos
Triplet, que em 2004 pisaram aquele mesmo palco como banda concorrente e arrecadaram um belíssimo segundo lugar. Nesse ano os vencedores foram os
The Poppers, uma das bandas revelação em 2006 com o CD de estreia "Boys Keep Swinging".
The Guys From The Caravan são um exemplo claro de como o universo musical português é tão volátil e talvez por isso, tão interessante. A volatilidade é associada à fragilidade e infelizmente nem todas as bandas podem ter a duração dos Xutos & Pontapés. Bandas como The Guys From The Caravan para já só podem sonhar com a solidez numa carreira na música, mas ao mesmo tempo, é lhes permitido saltar de um projecto para o outro com desprendimento suficiente para fazerem mais e diferente.
Anteriormente numa outra banda de cariz mais pop (Blue Cherry), "os mocitos da caravana"? surgem agora com uma sonoridade inovadora no contexto português, quer musical quer até cultural. Um registo folk, assumidamente rural (numa altura em a maior parte da comunidade artística cria a sua própria tribo urbana), utilizando instrumentos tradicionais e uma postura de palco descomprometida. É assim e com uma pitada de ironia que contam histórias de amor e desamor vividas num universo que nos é tão distante e ao mesmo tempo tão próximo. Porque tudo pode mudar, as aldeias podem virar cidades mas a maneira como um coração bate continua a ser a única coisa que nos une século após século.
Enquanto The Guys From The Caravan subiam a escada para o triunfo, o vocalista Bruno Vasconcelos teve um vislumbre da plateia e num tom irónico comentou "a sala está tão vazia, tenho tanto medo"¦"?. Não tinham motivos para isso, depressa a sala se compôs e o som festivo da banda contagiou o público.
Pouco depois, entraram em palco "Maria Dollita e os seus muchachos"? ou mais precisamente,
The Doll and the Puppets. É impossível não criar empatia imediata com esta banda. Todos eles, sem qualquer excepção, são de uma simpatia e humildade inesgotáveis. Embora se denotem grandes diferenças de
"lifestyle"? entre os vários elementos da banda, a verdade é que transpiram uma coesão incrível que me leva a acreditar que enquanto a Doll e os Puppets se conseguirem divertir em palco vão continuar a dar-nos música. E para nós é um prazer, tal como foi vê-los e ouvi-los no palco do Ginásio de Corroios. Um concerto a rasgar, com rock possante e a voz de Maria Dollita rouca e profunda a conferir uma certa tensão sexual entre ela e o público. O seu vestido multicolor tipo "cai cai"? e a sua atitude, num misto de ingenuidade e insaciedade deixaram o público de olhos posto nela. Naquela noite o ditado popular "à grande e à francesa"? ganhava um novo significado.
The Dool And The Puppets foram grandes em palco, cantaram em francês e espalharam simpatia com o público, que depois do concerto se dirigiu a eles para lhes dar os parabéns, em especial a Maria Dollita, qual bonequinha de pele candida, braços nus e uns "totós"? de menina reguila.
No final o público premiou os
The Dool And The Puppets com 88 preferências e os The Guys From The Caravan com 46, reflexo da simpatia e postura arrojadas demonstradas pela banda torrejana.
Os últimos a entrar em palco foram os
Triplet e o seu teen rock, com nuances de metal e uma postura de palco tipicamente suada, afinal de contas é assim que deve ser quando se fala de rock. Jasmin, a vocalista não é portuguesa, mas ao seu jeito tentou comunicar e interagir com o público utilizando um português desajeitado mas encantador. De destacar a amplitude vocal de Jasmin de registos doces e juvenis até outros definitivamente hardcore e ameaçadores.
A quarta sessão do Festival de Música Moderna de Corroios voltou a marcar pela positiva, mais um capítulo na história da música nacional. E nem o desporto rei entre os titãs Sporting e Porto, conseguiu estragar a festa. Para a semana há mais e por isso queremos continuar a contar com a vossa presença, não só para assistir mas também para intervir. Este ano o público também tem peso na decisão final, assim como será oferecido um prémio extra à banda mais votada pelo público.
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