"Viver Depois de Ti" já estava envolvido em polémica antes da estreia nas salas dos Estados Unidos a 3 de junho.

Tudo por causa da história: Emilia Clarke (da série "A Guerra dos Tronos") interpreta Louisa, que vai trabalhar para uma mansão para dar assistência a Will, um jovem e abastado banqueiro (Sam Claflin, de "The Hunger Games") que ficou recentemente tetraplégico.

Gradualmente, a excêntrica e criativa jovem que aceitou o emprego para ajudar a pagar as contas consegue chegar ao cínico em que Will se transformou após o acidente, mas apesar de se apaixonarem, este permanece determinado a não continuar a viver.

A escolha de um ator saudável para interpretar uma personagem com deficiência é frequente no cinema e até já levou alguns a falarem em "cripface", numa adaptação do "blackface", a prática teatral do século XIX que também foi utilizada nos primeiros anos do cinema de atores brancos se pintarem para interpretar personagens negras.

No entanto, mais do que a escolha de Sam Caflin, é a própria história, baseada num best-seller de 2012 da autoria de Jojo Moyes, que a própria adaptou ao grande ecrã, que está a ser considerada manipulativa.

A mistura de romantismo com deficiência e a vontade de morrer está a enfurecer um pequeno, mas pouco discreto grupo de ativistas, que está a reagir através do hashtag #MeBeforeEuthanasia [eu antes da eutanásia].

"A mensagem deste filme é que é melhor esta pessoa morrer para ser útil a ela do que viver", afirmou o ator Zack Weinstein, que sofreu uma lesão na espinal medula semelhante à de Will e que agora é tetraplégico.

"Estão a usar [a deficiência de Will] para manipulação emocional? Isso tem o seu lugar, mas é muito difícil ver os factos da minha vida serem usados para isso", acrescentou.

Outro ator, Grant Albrecht, diz que "romantizar a cobardia é, na verdade, perpetuar um estereótipo", quando na realidade se abandonam "as pessoas a sério com deficiência que estão a lutar para manter a sua sanidade e sustento e a quem não são dadas oportunidades em Hollywood".

Para outros ativistas, a mistura de romantismo com a representação da deficiência de "Viver Depois de Ti" apenas é mais um capítulo de uma tendência preocupante.

Por cada "Amigos Improváveis", o maior sucesso internacional do cinema francês dos últimos anos, que retratava a amizade divertida e forte que se estabelecia entre um rico aristocrata paraplégico e um jovem dos subúrbios praticamente acabado de sair da prisão que contratava para o assistir no dia a dia, existe um "De Quem É a Vida, Afinal?", "Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos" ou "Mar Adentro".

Desta forma, defendem os que protestam, o cinema parece dar mais destaque às histórias em que as personagens com deficiência querem morrer, excluindo outras representações, fazendo passar para a consciência pública que as suas vidas valem menos quando estão num corpo inválido.

"A televisão e o cinema parecem adorar estas pessoas que querem morrer. Estão menos interessados em abordar os restantes de nós que podem querer viver, mas que para o conseguirem estão a lutar para ter acesso a cuidados de saúde e sociais", comentou Liz Carr, outra atriz que participou no protesto.

"Quando pessoas sem deficiência falam de suicídio, são desencorajadas e oferecem-lhes ajuda. Embora seja legal, não é visto como algo tão desejável. No entanto, quando uma pessoa deficiente fala disso, o debate subitamente é ultrapassado por termos como 'escolha' e 'autonomia' , e as pessoas estão a correr para defender esses preciosos princípios, enquanto é raro falar de prevenção e apoio à saúde mental. Que tipo de mensagem é esta que estamos a dar às pessoas deficientes e não-deficientes?", concluiu.

Trailer "Viver Depois de Ti".