Sean Young foi uma das atrizes "do momento" nos anos 1980, quando entrou em filmes como "O Pelotão Chanfrado", "Blade Runner", "Wall Street" e "Alta Traição".

Porém, acabou por ganhar a fama de ter mau feitio e escandalosos conflitos com os colegas tornaram-na uma pária em Hollywood. Foi despedida de "Wall Street" (1987) por Oliver Stone e James Woods processou-a por assédio (ele perdeu e pagou uma indemnização, mas a atriz diz que conseguiu o que queria, destruir a sua carreira junto dos estúdios).

Foi ainda despedida de "Dick Tracy" (1990) pelo realizador e protagonista Warren Beatty porque não a acharam suficientemente doce e maternal como Tess Trueheart nas cenas com o jovem Charlie Korsmo. Ela diz que foi por ter recusado as suas investidas sexuais, ele mantém que foi uma decisão artística.

Outro episódio famoso foi toda a campanha que fez para ser Catwoman em "Batman Regressa" (1992) junto do realizador Tim Burton e do protagonista Michael Keaton, incluindo tentar invadir reuniões no estúdio. O papel acabou por ir para Michelle Pfeiffer após Annette Bening ficar grávida... de Warren Beatty.

Sean Young à esquerda em 2020

Mas numa entrevista ao The Daily Beast, Sean Young conta a sua versão da história que a levou a ganhar a reputação de ser "difícil" e entrar na lista negra: a de uma carreira sabotada por uma mão cheia de homens poderosos e vingativos, que acabou por fazê-la cair num muito divulgado vício do álcool durante vários anos.

Um deles terá sido o realizador Ridley Scott: a cena de amor agressiva com Harrison Ford em "Blade Runner" terá sido a vingança por ter recusado o seu assédio, mesmo após ele ter começado a namorar com Joanna Cassidy, que interpretava Zhora no clássico de ficção científica.

Na sequela, "Blade Runner 2049", produzida por Scott, Sean Young teve direito a uma participação simbólica de 30 segundos como holograma.

"E não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Ficou muito claro que eles sabiam que o público ficaria chateado que eu não entrasse, mas eles não queriam que me queixasse disso publicamente. Portanto, pagaram-me algum dinheiro, fizeram-me assinar um contrato de confidencialidade e deram-me 30 segundos. E eu concordei. Deram ao meu filho Quinn um emprego nas artes visuais e disse que estava tudo perdoado. Ele é muito talentoso", contou.

Wall Street (1987)

O realizador Oliver Stone é descrito como um "bastardo" que diminuiu o seu papel em "Wall Street" e a despediu após ser criticado por forçar uma desconfortável Daryl Hannah a usar o vestido branco que se vê na cena da grande festa.

E se Michael Douglas foi "maravilhoso", Charlie Sheen, o outro protagonista, foi "horrível", colocando-lhe nas costas um papel com fita adesiva a dizer "c***".

"O Charlie estava muito na cocaína nesse filme e é isso que a cocaína faz às pessoas", comentou.

Tim Burton não teve "sentido de humor" durante a fase "Catwoman" e Steven Spielberg foi outro dos homens de Hollywood que prejudicaram a reputação após ter perdido o papel de Marion Ravenwood em "Os Salteadores da Arca Perdida" (1980).

"Ele não me maltratou. Vi-o numa festa de Ano Novo e disse-lhe 'Enganaste-me. Achei que ia conseguir o papel.' E isso realmente ofendeu-o. Ele estava todo 'Não te enganei! Eu não!' E eu fiquei 'Uau, acalma-te. Não quis dizer que foste má pessoa ou algo do género, apenas pensei que conseguiria o papel. Levaste-me duas vezes à Califórnia [para os testes]'.", recordou.

"Muito sensível. E é preciso lembrar, ele fez isso [prejudicar] com o Bill [William] Hurt. Steven queria-o em 'Parque Jurássico' e o Bill não, e não era isso que ele queria ouvir. O Steven tem poder suficiente para te cancelar. Ele cancelou a Megan Fox", acrescentou, recordando o papel de Spielberg como produtor no despedimento da jovem atriz de "Transformers 3" após ter chamado "nazi" ao realizador Michael Bay.

Em relação a Warren Beatty, Sean Young até diz que ele nem foi o que se portou pior: "Acho que a parte desprezível ou difícil é que ele provavelmente pensou que me estava a tratar muito bem. [...] Não é apenas o Warren - é geral. Desde que começou a indústria do cinema que as mulheres são tratadas como uma mercadoria. Havia sempre alguém a agarrar-nos e eu simplesmente ignorei. Quer dizer, já olharam para o Harvey Weinstein? Como é que ele vai conseguir ter sexo se não tiver poder? Nunca!".

Em 2017, a atriz revelou que rejeitou liminarmente o produtor condenado por violação após este se exibir grosseiramente quando estavam a fazer o filme "Fome de Sedução" em 1992: "Acho que não devias tirar essa coisa para fora porque realmente não é bonito. Guarda essa coisinha".

Além de Michael Douglas e do realizador e comediante Carl Reiner (de "O Pelotão Chanfrado"), Jim Carrey é o outro homem que fica bem no retrato durante a entrevista, por ter lutado pela sua contratação para "Ace Ventura - Detective Animal" (1994), contra a vontade da produtora.

"Foi o único ator protagonista que fez isso por mim. O Jim apareceu e disse 'Não, não, não. O que quer que vocês andem a ouvir é treta. Ela é ótima", recordou.