É suposto os seres humanos a viver em sociedade sufocarem e sublimarem, através de regras e fantasias, o seu instinto de destruição. Mas… e se esse aparato falhar?

É essa a investigação a qual se propõe o cineasta inglês Michael Pearce no seu filme “Besta”, que lhe rendeu um BAFTA na categoria de Filme de Estreia.

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O filme narra uma história passada numa ilha britânica de Jersey, onde Moll (Jessie Buckley) é uma mulher de 27 anos que vive sob o rigoroso controlo de uma mãe autoritária e uma família pouco empática. Tudo muda quando conhece Pascal Renouf (Johnny Flynn, num belo trabalho de caracterização), selvagem até na aparência.

Mas a previsibilidade deste modelo de história de amor é enganadora: obviamente o caos instala-se, mas ao espectador resta usufruir de outras nuanças num filme cujo tema é “a besta” que vive dentro de cada um.

Não só no título como em diversos momentos, as ligações com os animais espalham-se como signos do instinto interiorizado – como logo no começo, onde ela ouve a história das orcas que enlouquecem em cativeiro.

Moll está no limite quando recebe do caçador ilegal Pascal um livro sobre animais. Quando questionada sobre o que vê naquela homem rude, distante do seu meio, ela responde que “é o cheiro” e, quando um jovem polícia com cara de “nerd” lhe propõe um relacionamento, é o "seu cheiro" que mais detesta.

Paralelamente ao romance e aos confrontos familiares, a polícia da localidade investiga uma série de hediondos crimes de violação e assassinato de jovens raparigas. Pascal é, a partir de certa altura, o principal suspeito.

Michael Pearce cresceu na ilha que retrata, que também serviu de inspiração para o caso “Beast of Jersey”, justamente uma série de crimes que aterrorizaram a região semelhantes aos que o filme retrata ocorridos entre 1957 e 1970.

Neste caso, liga-se com o tema de "Besta" o facto de que o assassino era um pacato homem “normal”, Edward Paisnel, com família, conhecido em toda a cidade e sem antecedentes criminais. Por outras palavras, a “besta era interior”.

Paralelamente e como fonte de inspiração, Pearce tentou juntar os seus próprios conflitos interiores sobre o seu local de nascimento – de um lado cercado por uma natureza paradisíaca e de outro por uma atmosfera humana extremamente sufocante.

"Besta" estreia nas salas de cinema portuguesas a 4 de abril, ficando disponível a partir de dia 11 na plataforma “online” Filmin e em DVD.