Marion Crane e Sam Loomis são amantes, mas não podem casar-se por falta de dinheiro. Um dia, o patrão de Marion encarrega-a de depositar no banco 400 mil dólares que acabara de receber dum cliente. Marion vê assim a possibilidade de resolver os seus problemas financeiros, decidindo fugir com o dinheiro, mas, e em virtude do mau tempo, é forçada a parar num motel no caminho.

Esta é a sinopse de "Psico", um filme estreado a 16 de junho de 1960 e que provou ser o mais revolucionário da carreira do sempre inovador Alfred Hitchcock. Protagonizado por Janet Leigh, Vera Miles, Martin Balsam e Anthony Perkins, no mítico papel de Norman Bates, a fita aterrorizou plateias e continua a dar que falar sempre que a cópia restaurada é reposta nas salas ou, mais recentemente, quando surgiu a série "Bates Motel" (2013).

No cinema e televisão surgiram várias sequelas nos anos 1980 e até um "remake" de 1998 que decididamente não ficou para a história onde Gus Van Sant recriou o clássico plano a plano com Vince Vaughn e Anne Heche.

Vale ainda a pena ver "Hitchcock", um filme de 2012 com Anthony Hopkins no papel do mítico realizador, quando mais não seja pela recriação dos bastidores da criação da película.

O original é inimitável e além de permanecer o seu trabalho mais popular 60 anos após a estreia nos cinemas, eis 10 razões que comprovam que "Psico" é o mais revolucionário na carreira de Alfred Hitchcock:

1. A inspiração num livro inadaptável - O filme baseia-se num livro sobre um "serial-killer", inspirado no caso real do criminoso Ed Gein: "Psycho", de Robert Bloch, foi publicado em 1959 e era, para os padrões da Hollywood da época, verdadeiramente inadaptável ao cinema, pelo elevado grau de violência e alusão à sexualidade, supostamente impossível de fazer aprovar pelo chamado Código de Produção, que a partir de 1930 procurou erradicar imagens explícitas de sexualidade e violência nos filmes feitos nos EUA. Hitchcock insistiu, fez as alterações que considerou necessárias (por exemplo, Norman Bates deixou de ter uma obsessão pela pornografia, como no livro) e, contra tudo e todos, levou a sua visão avante, numa altura em que o Código começava a ser mais permissivo, por força da liberalização de costumes.

Norman Bates (Anthony Perkins)

2. A carreira colocada em risco - Alfred Hitchcock era o realizador mais famoso do mundo, não só pelo sucesso dos seus filmes (entre eles, e só na década de 1950, constavam "O Desconhecido do Norte-Expresso", "Chamada para a Morte", "Janela Indiscreta", "O Homem Que Sabia Demais", "A Mulher Que Viveu Duas Vezes" e "Intriga Internacional), mas também pelas aparições que fazia na série televisiva "Alfred Hitchcock Apresenta". Mas nem isso fez com os estúdios de Hollywood, nomeadamente a Paramount, com quem o realizador tinha então uma relação mais regular, aceitassem produzir o filme. O cineasta financiou a película do próprio bolso, o que o levou a hipotecar a casa, e filmou-o de forma económica com a equipa da série de televisão. Podia ter perdido tudo, mas o sucesso esmagador e inesperado do filme, o maior sucesso de bilheteira de sempre de um a preto e branco, tornou-o um homem rico.

3. A morte da personagem principal - Na história do cinema, nunca antes (e poucas vezes depois) um realizador teve a ousadia de matar a personagem principal antes do meio do filme. O espectador acompanha Janet Leigh desde o início de "Psico" e a morte inesperada dela deixa a audiência sem nada a que se agarrar.

4. O assassínio no chuveiro - A mítica cena do assassínio no chuveiro era também invulgarmente arrojada. Por um lado porque a vítima, que estava a tomar banho, tinha de estar obviamente nua, o que não podia ser mostrado segundo as regras do Código. Por outro, porque para contornar essa limitação, Hitchcock filmou-a de 77 ângulos diferentes e com 50 cortes, o que lhe amplificou ainda mais o efeito de choque. O censor insistiu que viu a vítima nua e a faca a entrar-lhe no corpo, e o realizador provou de seguida que era tudo sugestão, não havendo uma única imagem de partes íntimas do corpo da atriz e muito menos da lâmina a entrar-lhe na carne. Foi tudo efeito da montagem, da música de Bernard Herrman, dos efeitos sonoros de uma faca a entrar numa melancia e do molho de chocolate a fazer de sangue.

5. A sexualidade explícita para a época - A imagem de um casal a partilhar a mesma cama, ainda por cima como amantes e não como casados, era inédita no cinema norte-americano, pelo menos no posterior a 1930. E isto sucede logo na cena de abertura, em que Marion é vista de sutiã, o que também era coisa praticamente nunca vista.

6. As imagens da casa de banho - Também a imagem de uma sanita e de uma personagem a puxar o autocolismo era algo que não se via no audiovisual norte-americano da altura. E até no próprio trailer, Alfred Hitchcock conseguiu colocar isso.

7. A banda sonora de referência - A banda sonora de Bernard Herrman é uma das mais eficazes da história do cinema na amplificação do impacto de uma cena nos espectadores. A importância do trabalho do compositor foi tal que o próprio Hitchcock assumiu que "33% do efeito do filme se deveu à música", colocando-o em grande destaques nos créditos da película, imediatamente antes do seu próprio nome, posição geralmente reservado aos produtores.

8. Uma promoção inédita- A estratégia de publicidade do filme foi absolutamente revolucionária, com o próprio realizador a substituir-se aos atores nas entrevistas, tudo para evitar que o segredo do filme fosse divulgado. Hitchcock já tinha instruído os seus colaboradores para comprarem todos os livros de "Psycho" que encontrassem nas livrarias e proibiu os visionamentos antecipados do filme pela crítica, para impedir qualquer divulgação do enredo da fita antes da estreia. Além disso, os cinemas foram instruídos para não deixarem qualquer espectador entrar depois do início do filme.

9. As imagens subliminares - A utilização de imagens subliminares na cena final do filme era então absolutamente inusitada. Hitchcock intercalou alguns "frames" do rosto cadavérico da mãe na cena final, com a cara de Anthony Perkins. Como o cineasta hesitou se deveria ou não fazê-lo, optou por lançar algumas cópias com essa imagem subliminar e outras sem ela.

10. O fundador dos "slasher-movies" - "Psico" é considerado o primeiro "slasher film", com psicopatas a matarem várias vítimas de forma brutal, antecedendo um sub-género que se tornaria muito popular a partir da década de 70, em séries como "Halloween", "SextaFeira 13", "Pesadelo em Elm Street" ou "Gritos".

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