A caminho dos
Óscares 2023
As nomeações para os Óscares são anunciadas esta terça-feira e o SAPO Mag vai acompanhar a emissão ao minuto a partir das 13h30 (hora de Portugal continental), com atenção especial a três produções portuguesas que podem entrar na corrida.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas regressará no anúncio deste ano a um evento em direto com a presença da imprensa e publicistas na sua sala de cinema (Samuel Goldwyn Theater) pela primeira vez desde 2016 e a conduzir a apresentação vão estar Riz Ahmed, nomeado para o Óscar de Melhor Ator em 2021 por "Som do Metal" e vencedor da estatueta dourada de Melhor Curta-Metragem em Imagem Real no ano passado por "The Long Goodbye", e Allison Williams, conhecida pela série "Girls" e os filmes "Foge"(2017) e "M3GAN", o primeiro grande sucesso de bilheteira de 2023.
Logo nos primeiros minutos ficaremos a saber se "Ice Merchants”, do realizador João Gonzalez, e "O Homem do Lixo", de Laura Gonçalves, surgem ou não entre as cinco vagas para Melhor Curta-Metragem de Animação, após terem chegado às 15 finalistas, escolhidas entre as 81 que se tinham qualificado.
Já "O Lobo Solitário", de Filipe Melo, está na "shortlist" de 15 para Melhor Curta-Metragem em Imagem Real, categoria onde se tinham qualificado 200 filmes, e a última previsão da revista especializada The Hollywood Reporter coloca-a na quarta posição para ser nomeada.
Qualquer nomeação seria um feito histórico para o cinema português, já que ultrapassaria as duas curtas de animação que ficaram pela fase dos finalistas, "História Trágica com Final Feliz" em 2006 e “Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias” em 2019, ambas de Regina Pessoa.
A cerimónia está confirmada para a casa "tradicional", o Dolby Theatre, a 12 de março, com Jimmy Kimmel a regressar pela terceira vez como anfitrião, após 2017 (o ano da famosa confusão de envelopes para Melhor Filme entre "La La Land" e "Moonlight") e 2018.
A celebrar um número importante (a 95.ª cerimónia), a sua missão é conduzir com segurança um evento "descarrilou" com a bofetada de Will Smith a Chris Rock há um ano e recuperar as audiências, que ficaram nos 16,6 milhões de espectadores nos EUA (por comparação, a última cerimónia apresentada por Kimmel chegou aos 26.5 milhões).
Uma corrida a Melhor Filme como não se via há muito tempo
Esta é a primeira temporada de prémios praticamente sem restrições desde 2020 e que recuperou muito do "buzz" que existia antes da pandemia, com atores e realizadores a fazerem campanha por sessões especiais de cinema, festivais, festas, cerimónias e passadeiras vermelhas, tudo para chamar a atenção dos 9.579 membros da Academia do direito a voto (contagem oficial de 6 de janeiro).
Toda esta atividade revelou uma tendência clara: os Óscares não vão ser dominados apenas por filmes que poucos ouviram falar ou viram (se viram) em casa, ou os produzidos pelas plataformas de streaming.
Como não acontecia há muito tempo, é muito provável que grandes produções e sucessos de bilheteira (os "blockbusters") como "Top Gun: Maverick", de Joseph Kosinski, "Avatar: O Caminho da Água", de James Cameron, "Elvis", de Baz Luhrmann, e "Black Panther: Wakanda Para Sempre", de Ryan Coogler, surjam entre os dez nomeados para Melhor Filme.
Na lista de títulos de prestígio, o grupo mais forte é constituído por "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", de Daniel Kwan e Daniel Scheinert (ao seu nível, com um orçamento de 25 milhões de dólares e receitas de bilheteira de 100 milhões, um sucesso comercial da primeira metade de 2022); "Os Espíritos de Inisherin", de Martin McDonagh; "Os Fabelmans", de Steven Spielberg; e "Tár", de Todd Field.
As duas vagas que restam para Melhor Filme devem sair de uma lista composta por "A Baleia", de Darren Aronofsky; "A Voz das Mulheres", de Sarah Polley; "Aftersun", de Charlotte Wells; "Babylon", de Damien Chazelle; "Triângulo da Tristeza", de Ruben Östlund; e o alemão "A Oeste Nada de Novo", de Edward Berger.
A grande interrogação é precisamente até onde chegará a grande sensação das últimas semanas na temporada de prémios que é a produção anti-guerra da Netflix, que lidera com 14 nomeações a corrida aos BAFTA (os prémios da Academia Britânica, com muitos membros a também votarem para os Óscares) e é uma nova adaptação do romance de Erich Maria Remarque, a primeira em alemão; uma versão norte-americana ganhou o Óscar de Melhor Filme de 1930.
Seja quantas nomeações receber além de Melhor Filme Internacional, parece ser a melhor hipótese de representação das plataformas de streaming, apenas um ano após uma presença tão forte na categoria de Melhor Filme e a vitória histórica de "CODA – No Ritmo do Coração", da Amazon Prime Video (que apostou na super produção de 140 milhões de dólares "Emancipação", com Will Smith, que nunca ganhou visibilidade).
Atores e realizadores: como é habitual, poucas vagas para tantas candidaturas
Com apenas cinco vagas, as categorias de interpretação e a de Melhor Realização têm mais potencial para surpresas e omissões inesperadas. Tanto mais que nas quatro reservadas para os atores, só metade das 20 vagas parecem apostas seguras.
Para a sempre muito concorrida categoria de Melhor Ator, são incontornáveis Colin Farrell ("Os Espíritos de Inisherin"), Austin Butler ("Elvis") e Brendan Fraser ("A Baleia"), pelo que sobram duas vagas que parecem ser mais disputadas por um grupo formado por Bill Nighy ("Viver"), Tom Cruise ("Top Gun: Maverick"), Paul Mescal ("Aftersun") e Adam Sandler ("Hustle").
Cate Blanchett ("Tár") e Michelle Yeoh ("Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo") são as únicas certezas para Melhor Atriz e a disputa da estatueta dourada, à frente de um grupo formado por Viola Davis ("A Mulher Rei"), Danielle Deadwyler ("Justiça para Emmett Till"), Ana de Armas ("Blonde"), Olivia Colman ("Império da Luz"), Margot Robbie ("Babylon") e talvez, a acreditar em algumas especulações dos últimos dias, Andrea Riseborough ("To Leslie").
Quem ficará muito provavelmente de fora é Michelle Williams, que chegou a ser considerada uma favorita com "Os Fabelmans", mas foi ignorada pelas nomeações do Sindicato dos Atores e os BAFTA, com os analistas a acreditarem que teria mais hipóteses de ser nomeada (e ganhar) se tivesse aceite submeter a sua candidatura para as atrizes secundárias, que tem como presenças garantidas Angela Bassett ("Black Panther: Wakanda Para Sempre"), Jamie Lee Curtis ("Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo") e Kerry Condon ("Os Espíritos de Inisherin"), seguidas de muito perto por Hong Chau ("A Baleia"), Stephanie Hsu ("Tudo em Todo..."), Dolly de Leon ("Triângulo da Tristeza") e Jessie Buckley ("A Voz das Mulheres").
Uma categoria incerta para fazer antecipações por causa de candidatos fortes nos mesmos filmes é a de Ator Secundário: Ke Huy Quan ("Tudo em Todo...") e Brendan Gleeson ("Os Espíritos de Inisherin") são apostas seguras, com as previsões para as três vagas a serem divididas principalmente entre Barry Keoghan ("Os Espíritos de Inisherin"), Paul Dano e Judd Hirsh ("Os Fabelmans"), Eddie Redmayne ("O Bom Enfermeiro") e, mais distante, Brad Pitt ("Babylon").
Pelo trabalho atrás das câmaras e após duas vitórias consecutivas de mulheres (Chloé Zhao por "Nomadland" e Jane Campion por "O Poder do Cão"), a temporada de prémios tem favorecido principalmente homens para Melhor Realização, o que provavelmente continuará a provocar controvérsia até à cerimónia.
A cineasta com mais hipóteses parece ser Sarah Polley ("A Voz das Mulheres"), mas a categoria é tão disputada que James Cameron ("Avatar: O Caminho da Água") não é favorito para estar nas cinco vagas e há analistas que acreditam que mesmo Steven Spielberg pode ficar de fora com "Os Fabelmans", embora o consenso é que ele ainda faz parte do grupo "seguro" e é mesmo o favorito à vitória, juntamente com Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos como os Daniels ("Tudo em Todo..."), Martin McDonagh ("Os Espíritos de Inisherin") e Todd Field ("Tár").
Há quem aposte que não fica de fora Joseph Kosinski ("Top Gun: Maverick") ou Baz Luhrmann (Elvis"), mas tal como tem acontecido desde 2018, o cada vez mais influente núcleo de votantes internacionais da Academia pode colocar aqui um representante, provavelmente Edward Berger ("A Oeste Nada de Novo") ou S.S. Rajamouli (pelo fenómeno que tem sido o épico indiano "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução").
Filmes internacionais e animações
A candidatura portuguesa "Alma Viva", da realizadora luso-francesa Cristèle Alves Meira, falhou a presença entre os 15 finalistas para uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Internacional, aumentando para 39 o recorde negativo do país com mais candidaturas submetidas sem chegar às nomeações.
O consenso anda à volta de "A Oeste Nada de Novo" (Alemanha), "Close", de Lukas Dhont (Bélgica) e "Decisão de Partir", de Park Chan-wook (Coreia do Sul), com os títulos mais referidos para as duas vagas que sobram a serem "Argentina, 1985", de Santiago Mitre (Argentina); "EO", de Jerzy Skolimowski (Polónia); "Saint Omer", de Alice Diop (França); e "The Quiet Girl", de Colm Bairéad (Irlanda).
A categoria é tão forte que não são esperadas nomeações para alguns dos finalistas: "Bardo, Falsa Crónica de Umas Quantas Verdades", de Alejandro González Iñárritu (México); "Corsage - Espírito Inquieto", de Marie Kreutzer (Áustria); "Holy Spider", de Ali Abbasi (Dinamarca); ou "Joyland", de Saim Sadiq (Paquistão).
Para Melhor Longa-Metragem de Animação não faltarão certamente o grande favorito "Pinóquio de Guillermo del Toro" (Netlix) e ainda "O Gato das Botas: O Último Desejo" (DreamWorks), "Turning Red - Estranhamente Vermelho" (Pixar) e "Marcel the Shell With Shoes On" (A24), com uma única vaga disputada pelo japonês "Inu-Oh" (Science SARU) e "Wendell & Wild" (Netflix).
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