Esta terça-feira, a revista The Hollywood Reporter (THR) avança com novas informações que revelam até que ponto a Netflix quer remover Karla Sofía Gascón da campanha de "Emília Pérez" aos Óscares.

No dia anterior, o estúdio já divulgara a mais recente atualização da campanha, conhecida por FYC [Four Your Consideration], que 'apagou' completa e ostensivamente o rasto da protagonista do filme de Jacques Audiard nomeado para 13 Óscares, a primeira atriz abertamente transgénero nomeada para Melhor Atriz, transferindo o foco para Zoë Saldaña, na corrida para Melhor Atriz Secundária.

Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
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A campanha centrada na atriz espanhola de 52 anos, que fazia dela e do filme um símbolo inovador, progressista e moral virado para o futuro, caiu por terra de forma espetacular a 30 de janeiro com as polémicas e pedidos de desculpa consideradas pouco convincentes relacionadas com várias mensagens nos últimos anos nas redes sociais sobre o Islão e os muçulmanos, George Floyd, o povo chinês, Hitler e até a cerimónia 'afro-coreana' dos Óscares de 2021, descobertas pela jornalista Sarah Hagi.

Existiu um primeiro e breve pedido de desculpa de Karla Sofía Gascón no próprio dia através da Netflix, mas a atriz fez outro mais longo à revista The Hollywood Reporter na sexta-feira e deu uma entrevista de uma hora em lágrimas à CNN Español no domingo: segundo a imprensa especializada, ambas sem conhecimento do estúdio.

Na segunda-feira, a revista Variety publicava um artigo demolidor proclamando que as suas reações à controvérsia fizeram dela 'o Donald Trump da temporada dos Óscares': alguém que não ouve os conselhos de quem a rodeia, apresenta justificações 'prolixas e absurdas' para as suas atitudes e apresenta-se como vítima de uma conspiração sem nome.

"Emília Pérez": Netflix 'apaga' protagonista Karla Sofía Gascón da campanha para os Óscares
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Agora, segundo o bem informado jornalista Scott Feinberg da THR, a atriz já não vai viajar de Espanha até Los Angeles para participar numa forte semana de campanha, o que fará parte da mesma mudança estratégica para a Netflix salvar um investimento de mais de 30 milhões de dólares na campanha para o que parecia até há uma semana a sua mais forte possibilidade de finalmente conquistar a estatueta de Melhor Filme.

O plano incluía a presença com Jacques Audiard, Zoë Saldaña e Selena Gomez no almoço de gala do American Film Institute em Beverly Hills na quinta-feira; a mediática cerimónia dos Critics Choice Awards em Santa Monica na sexta-feira à noite; representar a equipa do filme como apresentadora na cerimónia do sindicato dos produtores americanos em Los Angeles no sábado à noite; e a participação no Festival de Santa Barbara no domingo como uma das homenageadas com um prémio de 'virtuosismo', com direito a uma entrevista individual, tal como Gomez e a também nomeada Fernanda Torres ("Ainda Estou Aqui").

O novo artigo da THR diz que a Netflix quer manter Karla Sofía Gascón longe de Hollywood: a relação entre as duas partes é descrita como sendo de 'alta tensão' e a comunicação só é feita através do agente da atriz.

'Não há grande interesse por parte da Netflix em proporcionar as cortesias habituais oferecidas por um estúdio a alguém nomeado para os Óscares, como transporte e alojamento, para facilitar a sua presença nos restantes encontros da temporada de prémios", disseram as fontes de Scott Feinberg.

O distanciamento não é apenas do estúdio: outras pessoas que estariam em alguns dos eventos, nomeadamente o de Santa Barbara, deixaram sinais de que poderiam cancelar a sua participação caso se mantivesse Karla Sofía Gascón.

Já em especulação, o jornalista aponta que poderá estar presente em eventos da temporada mais próximos, como no sábado nos prémios Goya (os "Óscares de Espanha").

Desde que começou o escândalo, a mesma imprensa especializada diz que a pergunta é a mesma em Hollywood: como é que foi possível esta queda tão espetacular?

O mistério centra-se principalmente na Netflix e no profissionalismo da sua equipa: "Emília Pérez" foi comprado no Festival de Cannes em maio do ano passado, onde ganhou o Prémio do Júri e o seu elenco feminino o prémio de Melhor Atriz, e houve meses para examinar o rasto nas redes sociais de Karla Sofía Gascón, ainda que em castelhano.

O próprio Jacques Audiard também recebeu críticas por dizer que o castelhano é a "língua dos pobres e dos migrantes".

Outra pergunta será como tudo isto vai afetar o palmarés de "Emília Pérez" na 97.ª edição dos Óscares, marcada para 2 de março de 2025 e cuja votação decorre de 11 a 18 de fevereiro.

Zoë Saldaña e a canção 'El Mar' continuam a ser vistos como apostas seguras, mas os analistas acreditam que as outras categorias se tornaram mais competitivas, incluindo a de Melhor Filme Internacional, onde o concorrente mais direto é precisamente "Ainda Estou Aqui".

TRAILER "EMÍLIA PÉREZ".