O realizador japonês, atualmente com 82 anos e cujo último filme, “As Asas do Vento”, é de 2016, inscreveu na história do cinema clássicos como “A Princesa Mononoke”, “A Viagem de Chihiro”, “Ponyo à Beira-Mar” e “O Castelo Andante”, entre outros.

Para muitos portugueses, no entanto, os primeiros trabalhos a envolver Miyazaki a ficarem inscritos no imaginário popular são as séries televisivas “Conan - o Rapaz do Futuro” e “Heidi” - cujas produções originais pertencem aos anos 70.

Conforme lembra a historiadora, o cineasta já tinha 20 anos de indústria até começar a assinar os seus primeiros trabalhos. Antes dele, outro dos grandes, Isao Takahata (de “O Conto da Princesa Kaguya” e “O Túmulo dos Pirilampos”), já estava estabelecido e virá ser o descobridor e um dos mentores de Miyazaki.

Vale lembrar que, por estes tempos, a já muito produtiva animação japonesa estava marcada, entre outros, pelo revolucionador da Manga Osamu Tezuka - o qual, no entanto, ao emigrar para o Anime faz alguns “maus negócios” para a produção nipónica ao tornar os custos mais baratos sacrificando a qualidade do produto final.

Assim, Takahata tem a clara ideia de se opor a essa forma de trabalho e os mestres que, no futuro, fundarão junto ao produtor Toshio Suzuki os estúdios Ghibli, em 1985, surgem claramente preocupados com uma produção de qualidade.

O cineasta assina a sua primeira longa-metragem em 1979 (“O Castelo de Cagliostro”) e “Nausicaa do Vale do Vento”, de 1984, marca a estreia dos Ghibli. “Da união entre o mentor, o produtor e o realizador só podia sair algo bom”, observa Cátia Peres.

Não que estivessem sempre em total sintonia, conforme ela recorda. Muito diferente de Miyazaki, Takahata era conhecido por não ser muito disciplinado e não entregar os projetos nos prazos e dentro dos “budgets”. Ao contrário, o realizador de “A Viagem de Chihiro” é conhecido por ser um completo “workaholic” e que, eventualmente, acabou por ter mais sucesso em função da mais eficaz gestão dos seus talentos.

Como em muitos casos acontece, a figura familiar (o filho, o também cineasta Goro, disse que foi “0% pai e 100% cineasta) é diferente daquilo que o celebrizou ao construir um cinema baseado num forte sentido ético - com temas com fortes preocupações ecológicas, anti-militaristas e de igualdade de género. Peres relembra o caso, por exemplo, do Oscar recebido pelo realizador em 2004 , por “O Castelo Andante”, filme inspirado na Guerra do Iraque - o qual ele recusou-se a receber por não entrar em países em guerra.

Miyazaki é um caso especial de popularidade no Ocidente. A professora de história da animação acredita que o cineasta consegue efetivar a combinação de dois aspetos profundos - que ligam, de um lado, eventos da realidade que nos afetam (a sua temática) ao mesmo tempo que transporta estes problemas para o mundo da fantasia onde, por momentos, poderemos ser heróis e superar os obstáculos.

“Não há um ‘happy ending’ ao estilo Walt Disney. Coisas muito graves foram abordadas mas, ao mesmo tempo, há uma libertação da realidade e a esperança de que as coisas vão ficar melhor”, complementa.

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