Kevin Hart anunciou nas suas redes sociais que já não vai ser o próximo apresentador da cerimónia dos Óscares. A decisão surgiu menos de 48 horas depois do próprio ter anunciado publicamente que seria o anfitrião da emissão de 2019, o que levou a que ressurgissem imediatamente no espaço público algumas piadas de tom homofóbico que o humorista teria feito não só em espetáculos ao vivo há cerca de 10 anos como também em tweets que entretanto foram sendo apagados. A polémica instalou-se e a sequência de eventos foi muito rápida, com o próprio humorista, após alguns avanços e recuos, a anunciar publicamente no Twitter que desistia de apresentar a cerimónia.

"Escolhi desistir de ser o apresentador da próxima cerimónia dos Óscares... isto é porque não quero ser uma distração numa noite que deve ser celebrada por tantos artistas espantosamente talentosos. Peço sinceramente desculpa à comunidade LGBTQ pelas minhas palavras insensíveis no passado", partilhou no Twitter.

Este pedido de desculpas surgiu após duas publicações no Instagram em que o ator reconhecia as pressões que estava a sofrer para reconhecer os seus erros no passado, mas que foram piorando cada vez mais a situação ao recusar reconhecer a dimensão do sucedido.

No primeiro, ele reconhece que "A minha equipa ligou-me e disse "Oh meu Deus Kevin, toda a gente está incomodada com os tweets que fizeste anos atrás"," ao que ele teria respondido "Pá, tenho quase 40 anos. Se vocês não acreditam que as pessoas mudam, crescem, evoluem à medida que vão envelhecendo, eu não sei o que vos dizer. Se querem colocar as pessoas numa posição em que têm sempre de justificar o passado, coloquem. Não sou o tipo certo para isso, pá".

Esta resposta de desafio às pressões parece ter piorado ainda mais a situação e horas depois o humorista colocou outro vídeo no Instagram a declarar que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que organiza a entrega dos Óscares, lhe terá feito um ultimato: ou pedia desculpa ou ficava de fora da cerimónia.

A reação do humorista foi a de manter a sua posição: "optei por não pedir desculpa. A razão porque optei por isso foi porque já abordei esse tema diversas vezes. Não é a primeira vez que isto surge. Já discuti isto. Já falei sobre isto. Já disse onde estava o certo e o errado. Já disse quem eu sou agora versus o que eu era nessa altura. Já o fiz. Não vou continuar a regressar no tempo e a mergulhar no antigamente quando eu já evolui e estou num lugar completamente diferente na minha vida".

A posição de confronto parece ter piorado ainda mais a situação e menos de duas horas depois Hart divulgou o Tweet em que finalmente pedia desculpa e anunciava que desistia da ser o anfitrião da cerimónia.

Já em 2011, a Academia despedira Brett Ratner do papel de produtor dos Óscares quando este disse em entrevista que "ensaios são para maricas", pelo que muitos se surpreenderam com a escolha de Hart para a função de anfitrião, principalmente numa época em que a determinação de rejeitar comentários e comportamentos homofóbicos é cada vez mais vincada em Hollywood.

O humorista já tinha sido várias vezes criticado no passado pela leviandade com que fazia piadas de teor homofóbico, desde tweets em que chamava alguém de "fat faced fag" ou em que usava o termo "no homo" para se descrever, até espetáculos de stand-up, tendo sido particularmente criticado um show de 2010 com uma parcela em que o ator fazia uma piada sobre o medo que tinha do filho de três anos ser homossexual: "um dos meus maiores medos é que o meu filho cresça e se torne homossexual. Isso é um medo. Reparem que eu não sou homofóbico, não tenho nada contra homossexuais, sejam felizes. Façam o que quiserem. Mas eu, sendo um homem heterossexual, se puder impedir o meu filho de ser gay, vou fazê-lo".

Foi este espetáculo de 2010 que originou uma das maiores críticas da organização não-governamental GLAAD , cujo foco é a monitorização da forma como os ‘media’ retratam a comunidade LGBT. Já antes desta desistência do anfitrião, a organização afirmou ter apresentado uma queixa junto do canal de televisão ABC, emissora dos Óscares, e na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para "discutir a retórica e o registo anti-LGBT de Kevin".

O anúncio de que seria o próximo anfitrião

Foi o próprio ator e comediante que anunciou nas redes sociais na terça-feira ao fim da tarde nos EUA (início da madrugada de quarta-feira em Portugal).

"Durante anos têm-me perguntado se alguma vez seria o anfitrião dos Óscares e a minha resposta foi sempre a mesma... disse que seria a oportunidade de uma vida para mim como comediante e que irá acontecer quando fosse suposto. Estou tão contente por dizer que finalmente chegou o dia para eu ser o anfitrião dos Óscares", escreveu no Instagram.

Pouco depois, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas também fez o anúncio oficial para a 91ª cerimónia.

Aos 39 anos, Kevin Hart teria a difícil missão de tentar contrariar a 24 de fevereiro de 2019 a erosão das audiências da cerimónia dos Óscares, que atingiram o valor mais baixo da sua história em 2018 com 26,5 milhões de espectadores.

Não lhe falta experiência ao "vivo": a sua carreira começou no circuito de "stand-up comedy" antes de Judd Apatow o escolher para um papel secundário na série de TV "Undeclared" (2001).

Apesar de ter durado apenas uma temporada, isso foi suficiente para chegarem as primeiras ofertas para o cinema, entrando em filmes como "Scary Movie 3" (2003), "Soul Plane" (2004), "Scary Movie 4" (2006), "Não Há Família Pior!" (2010)  e "Grudge Match: Ajuste de Contas" (2013).

Durante este período manteve os espetáculos ao vivo de comédia e a carreira ganhou mais visibilidade graças ao sucesso do "reality  show" "Real Husbands of Hollywood" (2013-2016) e aos filmes "Penso como Um Homem" (2012), "Polícia em Apuros" (2014), que teve uma sequela dois anos mais tarde, "Sobre a Noite Passada" (2014), "O Amigo do Peito" (2015) e "Faz-te Homem" (2015).

Em 2015, já a revista Time colocava-o como umas das 100 pessoas mais influentes do mundo, mas decisivo foi o ano a seguir, quando, além de ter sido uma das vozes da animação "A Vida Secreta dos Nossos Bichos", estabeleceu uma parceria cómica com Dwayne Johnson em "Central de Inteligência".

O impacto foi tal que os dois foram logo escolhidos para apresentar a cerimónia dos MTV Movie Awards (2016) e já se juntaram para "Jumanji: Bem-Vindos à Selva" (2017), que terá uma sequela em 2019.

Já este ano, encontrou outra parceira perfeita em Tiffany Haddish para mais um sucesso de bilheteira: "A Turma da Noite" (2018).

Kevin Hart também foi o anfitrião dos prémios BET em 2001, dos MTV Video Music Awards em 2012, do Comedy Central Roast dedicado a Justin Bieber (2013) e em três programas do Saturday Night Live.

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