O investigador Carlos Natálio afirmou hoje à Lusa que os projetos de educação para o cinema precisam de condições institucionais e financeiras e uma maior coordenação para que possam chegar a mais pessoas.
O investigador resumia assim uma das notas dominantes de um debate dedicado à educação sobre cinema, na iniciativa “Novos Encontros do Cinema Português”, que começou hoje no Batalha – Centro de Cinema, no Porto.
No âmbito destes encontros, foram encomendados trabalhos a quatro investigadores, a partir de inquéritos e conversas com profissionais ligados ao cinema português, em quatro eixos: Educação (Carlos Natálio), Produção (Mariana Liz), Crítica (José Bertolo) e Distribuição e Edição (Paulo Cunha).
No debate dedicado à Educação, Carlos Natálio traçou as linhas gerais do panorama da educação para o cinema em Portugal para públicos da escolaridade obrigatória, referindo que já existem vários projetos educativos focados na promoção e divulgação de práticas de cinema, como a associação Filhos de Lumière, o festival IndieJunior, a Cinemateca Júnior e os serviços educativos de alguns cineclubes.
No entanto, o investigador disse que subsistem dificuldades, nomeadamente falta de apoio à concretização dos projetos, burocracia na constituição de parcerias, assimetrias geográficas e falta de especialização de mediadores culturais.
“Como é que nós criamos condições para que as pessoas saibam todas que metodologias existem de norte a sul e, a partir das escolas, consigam perceber como podem aceder a essa metodologia. Não é só um diálogo em abstrato, é criar condições para que esse diálogo se torne efetivo”, afirmou Carlos Natálio à Lusa no final do debate.
O investigador espera que destes encontros saia uma vontade de trabalhar a comunicação entre todos os projetos que existem de educação para o cinema, nomeadamente com a realização de um encontro anual e a criação de uma plataforma que “funcione como epicentro de metodologias”.
E sugeriu que o Plano Nacional de Cinema (PNC), por ser de iniciativa pública, seja “uma espécie de coordenador desse processo”, desde que tenha condições económicas para tal.
“Se o Plano Nacional de Cinema não tiver mais financiamento e se não existirem entidades privadas que possam garantir estes espaços de cooperação e partilha, torna-se difícil que se dê o passo seguinte – que é passar de redes locais e mais ou menos informais para uma perspetiva mais global. Não no sentido de aplainar e fazer tudo igual, é no sentido de preservar quem está a fazer as melhores coisas e poder dar-lhes alcance de poder fazer um pouco maior”, resumiu Carlos Natálio.
No debate dedicado à Educação participaram João Rodrigues, da associação Filhos de Lumière, o professor e realizador João Mário Grilo, o artista Lubanzadyo Mpemba, da associação União Negra das Artes, o professor Manuel Guerra e a pedagoga Sílvia Bereny, da Organização Social do Movimento das Pontes Educativas.
Do muito que foi debatido e apresentado, com exemplos concretos do que é trabalhar conceitos e práticas ligadas ao cinema em contexto escolar, ficou essa ideia comum de necessidade de partilha de conhecimento e de conquista de mais condições, nomeadamente por parte do poder político, para que os projetos existam.
A este propósito, a coordenadora do PNC, Elsa Mendes, admitiu que o Plano Nacional de Cinema não pode assumir sozinho o papel de dar mais peso à educação para o cinema nas escolas portuguesas: “Precisa de ajuda, porque tem pouquíssimos recursos financeiros. E é aí que temos de mexer”.
João Mário Grilo disse que “a coisa mais triste que pode haver é que o filme acaba nele. […] A escola pode ser um lugar onde essa possibilidade de um filme se levar a sério se constitui verdadeiramente”.
Os “Novos Encontros do Cinema Português” são uma iniciativa do Batalha - Centro de Cinema, do Clube Português de Cinema – Cineclube do Porto e da Fundação Calouste Gulbenkian e terminam na quarta-feira.
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