Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.

Em tempo de verão, destacamos do vasto e diverso catálogo recheado de filmes clássicos e modernos da Filmin cinco propostas para um belíssimo serão de cinema. E ao contrário das atuais tendências, nenhuma passa as duas horas!

A Primeira Noite (1967)

Com a banda sonora inesquecível de Simon & Garfunkel, esta comédia dramática e romântica homenageada e parodiada há mais de 50 anos marcou gerações de espectadores como um símbolo do movimento de contracultura que existia na América da década de 1960 e do confronto entre a geração que enfrentou a Segunda Guerra Mundial e os seus rebeldes filhos.

Dustin Hoffman lançou a carreira no grande ecrã e tornou-se uma estrela da noite para o dia com o papel de Ben Braddock, o jovem inexperiente sobre o mundo real que, após acabar a universidade, desafiava os ideais e a moral da geração dos seus pais, e queria acabar com a hipocrisia e a corrupção da sociedade em que vivia. Numa reviravolta irónica, acabava seduzido e amante de uma amiga da família, a Sra. Robinson (de respeitável mãe de família a predadora, uma magnífica Anne Bancroft), mas a ligação eletrizante complicava-se de forma inesperada quando se apaixonava pela sua filha.

Um autêntico vendaval social que se traduziu num sucesso gigantesco de bilheteira, o único Óscar de "A Primeira Noite" em sete nomeações foi para o realizador Mike Nichols, a confirmar o estatuto de grande autor apenas um ano após a estreia no cinema com "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", mas a entrada na cultura popular foi instantânea. E tal como "Bonnie & Clyde", este foi um dos primeiros filmes a romper com a Hollywood clássica e a anunciar a revolução que estava a chegar, sendo essencial para perceber a revolução  que iria transformar o cinema norte-americano na década de 1970.

O Charme Discreto da Burguesia (1972)

Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, esta virulenta sátira à burguesia é um dos melhores e mais engraçados títulos na carreira de Luis Buñuel.

Sem nada a provar ("Os Esquecidos", "Viridiana", "O Anjo Exterminador", "A Bela de Dia" e "Tristana - Amor Perverso" já tinham mais do que garantido o lugar entre os gigantes do cinema), Buñuel, então com 72 anos, propunha uma história bizarra à volta de um grupo da alta sociedade que enfrentava a impossibilidade em concretizar um jantar. De grupo em grupo, de convite para convite, chegam atrasados ou adiantados, ou as refeições são interrompidas por misteriosos intrusos, militares ou gangsters.

Na sua juventude como surrealista, Buñuel usava um estilo violento para criticar a sociedade. Fazer o mesmo através do humor foi a sua reação quando a violência social estava normalizada no início dos anos 1970. E a ironia mais brutal de "O Charme Discreto da Burguesia" talvez seja que os próprios atores, entre a mais fina nata do cinema europeu da época (Fernando Rey, Delphine Seyrig, Stéphane Audran, Jean-Pierre Cassel, Michel Piccoli...) faziam parte da classe que estavam a satirizar, para já não falar do próprio Buñuel, que chegou a dizer um dia que ser realizador de cinema era provavelmente a profissão mais burguesa do mundo!

O Meu Tio (1958)

Jacques Tati foi o protagonista de todos os seus filmes e, com exceção de "Há Festa na Aldeia", onde era o distraído carteiro François, e de "Parade", a personagem foi sempre a mesma, colou-se-lhe à pele e é uma das mais conhecidas do cinema: o sonhador e desajeitado Sr. Hulot.

"O Meu Tio", o seu terceiro filme, é uma comédia contra o aborrecimento e absurdos do dia-a-dia que contrastava o mundo estéril e ultramoderno de uma família moderna e pobre de espírito e o mundo muito mais simples da personagem inconfundível com o seu chapéu, cachimbo e gabardine. Com grande inventividade técnica, o mestre francês da comédia satirizava de forma delirante e inteligente os utensílios modernos, mas a crítica certeira era à devoção quase religiosa que as pessoas lhes dedicavam, tão atual em 1958 como agora....

Entre o burlesco e a poesia, este mundo do Sr. Hulot conseguiu a proeza de conquistar um Óscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Um Homem Sério (2009)

Após o triunfo absoluto de "Este País Não É Para Velhos" (2007), os irmãos Coen viraram-se para a comédia absurda com um elenco de estrelas com "Destruir Depois de Ler" (2008), mas o reencontro com o melhor do seu cinema aconteceu a seguir, com o mais discreto "Um Homem Sério" (2009), nomeado para dois Óscares, incluindo Melhor Filme.

Ancorado num brilhante Michael Stuhlbarg, este foi um regresso ao registo em que Joel e Ethan Coen estão mais à vontade, a comédia negra, centrada em Larry Gopnik, um marido adorável, pai empenhado e um professor de física neurótico que, de repente, vê tudo na vida certinha no "Midwest" dos EUA de 1967 a sair dos eixos: a mulher abandona-o e o seu novo amante convence-o a sair de casa e a mudar-se para um motel, naturalmente a bem dos filhos. Para complicar, cartas anónimas difamatórias ameaçam a carreira. A seguir, o atual companheiro da mulher morre num acidente de automóvel e ela acha que Larry é que deve pagar o funeral. O que mais poderá acontecer-lhe? Como se vai descobrir, muito...

Orgulho e Preconceito (2005)

Um dos grandes acontecimentos do cinema de 2005 foi esta adaptação impecável e improvável de um dos maiores clássicos da literatura. A contribuir para a surpresa: Keira Knightley, lançada por "Joga Como Beckham" (2002) e transformada pela máquina de Hollywood em símbolo carnal e feminista (!) em "Piratas das Caraíbas" (2003), era uma belíssima atriz dramática.

O seu charme é decisivo para esta ser uma das mais bem sucedidas adaptações das obras românticas de Jane Austen, mas seria injusto não destacar o talento revelado por Joe Wright a fintar os clichés dos filmes de época, mostrando ser um cineasta com futuro, ao voltar a contar a história das cinco irmãs Bennet e o abalo provocado com a chegada de um jovem rico e os seus amigos. A inteligente e determinada Lizzie, a segunda irmã mais velha, conhece o bonito e arrogante Mr. Darcy (Matthew Macfadyen em tempos pré-"Succession") e parecem criar o par perfeito, mas rapidamente são divididos por orgulho e preconceito...

Impecável, Keira Knightley foi justamente uma das quatro nomeações de filme para os Óscares, começando aqui uma colaboração artística com Joe Wright que resultaria em alguns dos seus melhores papéis no cinema com "Expiação" (2007) e "Anna Karenina" (2012).