Um novo filme que promove teorias conspiratórias amplamente desacreditadas que reforçam as denúncias de fraude eleitoral feitas pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tornou-se um sucesso de bilheteria.

Apesar das advertências de especialistas, "2000 Mules" [2000 mulas], dirigido por Dinesh D'Souza, arrecadou mais de 1,2 milhões de dólares nas bilheteiras desde a sua estreia no final de maio. Um valor ínfimo quando comparado com os 160 milhões da estreia de "Top Gun: Maverick", mas o suficiente para ser considerado um sucesso, pelo seu custo e pelas poucas salas que exibem o filme.

O realizador chegou a ser condenado pela Justiça por violação das leis de financiamento eleitoral, mas foi beneficiado por um indulto concedido pelo então presidente republicano.

Com grandes sacos de pipoca, um grupo de idosos cinéfilos juntou-se  num cinema do estado da Virgínia para uma sessão matinal. Deixando de lado títulos como "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", ou "Sonic 2: O Filme", escolheram o documentário de D'Souza, que promete "expor a fraude generalizada e coordenada das eleições de 2020, suficiente para mudar o resultado global".

"A alma da democracia"

Dinesh D'Souza à esquerda em "2000 Mules"

O filme começa com eleitores anónimos que, animados, depositam as suas cédulas em urnas estampadas com a bandeira americana, enquanto D'Souza diz ao público que "as eleições são a alma da nossa democracia". O ecrã começa então a escurecer, enquanto o cineasta afirma que as eleições presidenciais de 2020 "assombram a mente americana".

Como milhões de americanos, incluindo Trump, o realizador alimenta a desacreditada teoria de que os democratas contribuíram para a fraude nos resultados da última disputa presidencial, apoiando-se no uso generalizado do voto pelo correio durante a pandemia de COVID-19.

"Não podemos seguir em frente, a não ser que saibamos a verdade", continua na sua voz em "off".

Na tentativa de comprovar esta "teoria", rejeitada por todas as autoridades americanas relevantes no assunto, D'Souza filma-se a telefonar  para marcar um encontro com o grupo True the Vote, sediado no Texas, que diz "apoiar a integridade das eleições".

Numa espécie de hangar equipado com servidores de informática, dois membros do referido grupo afirmam ter provas da existência de uma operação bem planeada por um grupo que, "como um cartel", contratou "mulas" para encherem as urnas eleitorais em vários estados-chave. O seu objetivo: obter a vitória do democrata Joe Biden em 2020.

Para validar a sua teoria, dizem basear-se em grandes quantidades de dados de localização anónimos de aplicativos de smartphones. Segundo o True the Vote, estes registos mostram as idas e vindas destas "mulas" entre as sedes de diversas ONGs e os postos de votação.

É um "roubo" e um "crime", afirma D'Souza, indignado.

As teorias promovidas no filme foram seriamente questionadas por inúmeros especialistas em desinformação. Entre outros pontos, elas alegam que um estafeta, um taxista ou um carteiro poderiam ser considerados como parte da rede de “mulas” que faziam esses trajetos.

Para Trump e os seus seguidores, trata-se, no entanto, da prova definitiva da fraude que vêm denunciando há um ano e meio.

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