O filme tailandês "A Useful Ghost" ["Um Fantasma Útil", em tradução livre), de Ratchapoom Boonbunchachoke, recebeu o prémio máximo da Semana da Crítica, uma secção paralela do Festival de Cannes dedicada aos jovens talentos e cujo júri foi presidido pelo espanhol Rodrigo Sorogoyen.

A história centra-se numa mulher que morre de uma doença respiratória cujo espírito reencarna num aspirador para proteger o marido quando ele começa a ter os mesmos sintomas.

Por seu lado, "Ciudad Sin Sueño", a primeira longa-metragem de Guillermo Galoé, sobre Cañada Real, um bairro clandestino de barracas nos subúrbios de Madrid (e o maior da Europa) onde centenas de famílias lutam para sobreviver, viu distinguido o seu argumento.

Impregnada de realismo social e já considerado pelos críticos um dos grandes filmes espanhóis de 2025, "Ciudad Sin Sueño" conta a história de Toni, um adolescente de 15 anos que ajuda o avô a encontrar e vender sucata. Mora com os pais e irmãos num terreno neste bairro onde não há água canalizada e os cortes de eletricidade são diários.

Quando Bilal, o seu melhor amigo, anuncia que se vai mudar para a França, o seu mundo desmorona, e não sabe se deve apegar-se às tradições da sua família cigana ou deixar as raízes para trás em busca de um futuro melhor.

O Cañada Real "está longe, muito longe, e no entanto existe hoje, e muito perto. As duas crianças filmam-se (com um telemóvel) nos destroços de um carro, mudam a cor do céu e do lixo no ecrã, e o filme torna-se um poema à infância, à noite, à liberdade. Um poema com a beleza áspera e selvagem dos pântanos que ninguém jamais visita", afirmou a Sociedade Francesa de Autores e Compositores Dramáticos (SACD), que concedeu o prémio a Galoé e ao seu co-argumentista Víctor Alonso-Berbel.

O realizador passou anos a visitar o bairro e as suas famílias, participando em 'workshops' e atividades para se ambientar.

"Cheguei a La Cañada há 12 anos [...] Estava perto da minha casa e fiquei impressionado. Foi um impacto enorme ver como uma sociedade, como um espaço tão distante do mundo, era ao mesmo tempo tão perto do centro e tinha esta invisibilidade", explicou o cineasta de 39 anos em entrevista à France-Presse.

As famílias dividem-se entre ficar em La Cañada, com as suas tradições e a sua forma de vida, como defende o avô de Toni, ou mudarem-se para Madrid, para um apartamento, como querem fazer os pais do jovem.

"As personagens enfrentam esta perda, esta perda de uma forma de viver, com todos os seus costumes, os seus valores, que também reivindicam com muito orgulho", diz Galoé, que já fez uma curta-metragem sobre o tema, "Aunque es de noche" (2023), que competiu em Cannes e ganhou um Goya (os "Óscares de Espanha").

"Ciudad Sin Sueño" está entre os títulos que ainda aspiram à Câmara de Ouro, que premeia filmes estreantes e é entregue no sábado, juntamente com o palmarés oficial do Festival de Cannes.