O Festival de San Sebastián abre esta sexta-feira com uma homenagem ao mestre do cinema de animação japonês Hayao Miyazaki e uma grande polémica pela questionável exibição de um documentário-entrevista com um líder histórico da ETA.

Juliette Binoche, Gabriel Byrne, François Cluzet, Emmanuelle Devos, Griffin Dunne, Aidan Gillen, Mads Mikkelsen, James Norton e Dominic West são algumas das estrelas que marcarão presença no evento na cidade do norte de Espanha, que, no entanto, não contará com a presença de Javier Bardem.

O ator espanhol ia receber um dos prémios honorários Donostia, mas o seu apoio à greve dos atores de Hollywood fez com que a entrega fosse adiada para a próxima edição.

Hayao Miyazaki

O festival, que decorre até sábado, 30 de setembro, será aberto com a estreia europeia de "Kimitachi wa Do Ikiruka" ("O Menino e a Garça", em tradução literal), o mais recente filme de Hayao Miyazaki.

Aos 82 anos e quinze longas-metragens, Miyazaki será homenageado com um prémio Donostia, que agradecerá a partir do Japão.

O cineasta de Tóquio alcançou fama mundial em 2001 com “A Viagem de Chihiro”, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, mas antes disso dirigiu outras obras conhecidas como "O Castelo no Céu" (1986), "O Meu Vizinho Totoro" (1988), "Porco Rosso - O Porquinho Voador" (1992) e "Princesa Mononoke" (1997), bem como depois "O Castelo Andante" (2004).

Em 2014, recebeu um Óscar honorário por toda a sua carreira.

ETA e um líder histórico

No me llame Ternera

No sábado será apresentado "No me llame Ternera", um documentário de Jordi Évole e Màrius Sánchez que apresenta uma entrevista com José Antonio Urrutikoetxea, conhecido pelo nome de código Josu Ternera, dirigente da extinta organização independentista armada basca ETA, responsável por mais de 850 mortes.

Mais de 500 pessoas, entre familiares de vítimas ou pessoas ameaçadas pela organização, assinaram uma carta a solicitar a retirada do filme, acusando-o de fazer "parte do processo de branqueamento do ETA e da trágica história terrorista no nosso país, transformada num relato justificatório e banalizante".

"Acreditamos que o filme 'No me llame Ternera' primeiro tem que ser visto e depois submetido à crítica, e não o contrário", explicou, em comunicado, José Luis Rebordinos, diretor da competição, recusando a exclusão.

Os realizadores defenderam a sua posição: “Fizemos este filme porque temos uma responsabilidade com a história do nosso país, que em parte está muito marcada pelo terrorismo da ETA”.

José Antonio Urrutikoetxea, de 72 anos, foi o dirigente que leu o comunicado anunciando a dissolução do ETA em maio de 2018. Ele dirigiu a organização desde o final dos anos 1970 até ser preso em 1989 na França.

A Justiça espanhola pede a sua extradição devido ao atentado contra uma residência-quartel da Guarda Civil, em 1987, em Saragoça, no qual morreram 11 pessoas, entre elas cinco crianças.

Bossa nova, culinária e dureza militar

"Heroico"

Dezesseis filmes concorrerão à Concha de Ouro, entre eles os dos realizadores argentinos María Alché e Benjamín Naishtat ("Puan"), e Benjamín Naishtat ("La práctica"), da realizadora espanhola Isabel Coixet ("Un amor"), do grego Christos Nikou ("Fingernails"), o norte-americano Noah Pritzker ("Ex-Husbands") ou o francês Robin Campillo ("L'île rouge").

Na secção oficial, mas fora de competição, chega a segunda longa-metragem de animação e musical do realizador espanhol vencedor do Óscar Fernando Trueba e do cartunista Javier Mariscal, sobre a infeliz e desconhecida história do pianista brasileiro Tenório Jr., companheiro regular de Vinicius de Moraes, desaparecido durante a ditadura argentina.

Inserem-se no festival séries como a dedicada ao cantor e músico espanhol C. Tangana ("Esta ambición desmedida"), ou a argentina "Nada", comédia sobre o encontro entre um crítico gastronómico totalmente inútil em assuntos práticos e uma paraguaia que contrata como assistente.

Por fim, uma dezena de filmes latino-americanos concorrerão ao prémio Horizontes, entre eles o mexicano "Heroico", de David Zonana, sobre a terrível jornada pelo Colégio Militar de um cadete indígena mexicano, que será lançado praticamente ao mesmo tempo no seu país, onde causou polémica.