Tim Burton nunca foi um fã de circo, ficava irritado com as imagens de animais em jaulas e, sobretudo, com os palhaços. Mas abandonar tudo e unir-se a um "grupo de inadaptados" sempre foi uma ideia que lhe agradou.
E tudo fica ainda melhor se o espetáculo tem um elefante que pode voar: o aclamado cineasta de 60 anos está pronto para o lançamento da nova versão, em imagem real, do clássico da Disney "Dumbo".
"O que gostava em Dumbo era a ideia da imagem de um elefante que voa e que é um inadaptado. Este tipo de situação tem um grande apelo para mim", disse à agência AFP.
O realizador de "Eduardo Mãos de Tesoura" e "Ed Wood" contou que, na escola, era considerado "esquisito", o que acredita tê-lo libertado em parte para ser o que desejava, sem precisar fingir, mas ao mesmo tempo este é um sentimento presente nos seus filmes.
"O inadaptado usa isso pelo qual é julgado para algo positivo". E, no caso de Dumbo, são as orelhas gigantes.
Nesta versão, os animais não falam - Dumbo não tinha diálogos no original de 1941 - e os personagens humanos têm um papel mais relevante, ao contrário da animação em que ficavam em segundo plano e eram percebidos quase como vilões.
Ao contrário do "remake" de "A Bela e o Monstro", quase uma cópia do clássico animado de 1991, "Dumbo" é bastante diferente do original.
"Senti-me livre porque não tinha que seguir muito" a história original, salienta o realizador.
"Não é realmente uma história, e sim uma fábula muito simples", acrescenta
Mas o filme conserva naturalmente várias partes do original, como a cena comovente com a canção "Baby Mine", quando Dumbo visita a mãe enjaulada.
De "Batman" a "Dumbo"
Em "Dumbo" - que estreia no dia 28 de março -, o pequeno elefante nasce no circo de Max Medici (Danny DeVito) e é colocado sob responsabilidade da família de Holt Farrier (Colin Farrell), um veterano da Primeira Guerra Mundial que durante os combates ficou viúvo, perdeu um braço e o seu número no circo.
Entre as suas frustrações, ele não consegue estabelecer uma ligação emocional com os filhos, que são os responsáveis por descobrir o que Dumbo é capaz de fazer.
Filmado em estúdios gigantescos nas proximidades de Londres, o principal desafio da produção, revelou Burton, foi o facto do seu protagonista nunca ter pisado o "set": o elefante foi criado por computador e o resultado final só foi visto há poucas semanas.
"Tínhamos um animal de peluche. Nós tínhamos um tipo, Ed [Osmond], que aprendeu movimentos de elefante, que usava um traje especial. Foi muito valioso", esclarece.
Embora Burton nunca tenha sido um fã do circo, ele sempre apreciou a ideia "romântica" de fugir para se unir a um grupo.
"Sempre gostei do conceito e da ideia de que o circo reúne pessoas de todo o mundo que não se encaixam na sociedade e viram uma família de esquisitos. Disso gosto", assegura.
Burton volta a trabalhar com DeVito e ainda Michael Keaton, os seus parceiros em "Batman Regressa" (1992), mas agora com papéis invertidos: o antigo herói interpreta o vilão da história, V.A. Vandevere, dono de um parque de diversões futurista que se associa a Medici para aproveitar o número de Dumbo.
"Altos e baixos"
O primeiro trabalho de Burton foi nos estúdios Disney, mas durou pouco.
"Não tinha paciência para ser animador", declarou, sem esconder um sorriso, antes de fazer a piada de que foi contratado e demitido pelo estúdio mais vezes do que se consegue recordar: "É uma longa história familiar de alguma forma estranha. Tem os seus altos e baixos".
Embora tenha predileção pelos inadaptados, Burton resgata nos clássicos da Disney - mais adocicados do que as suas criações - a abordagem de temas difíceis como a morte ou a separação familiar, que considera tabu para as audiências modernas.
O realizador recorda-se de uma sessão de "Pinóquio" (1940) com "crianças a chorar e pais a gritar".
"O que mudou? O mundo está pior, mas as pessoas são mais protetoras, não sei", interroga-se.
Ao ser questionado sobre novos projetos, Burton nega estar a trabalhar numa sequela de outro filme seu com Michael Keaton, "Os Fantasmas Divertem-se"".
Duas vezes nomeado para os Óscares (pelas animações, "A Noiva Cadáver" e "Frankenweenie"), o cineasta afirma que não perde o sono com o prémio.
"Sinto-me afortunado de apenas fazer filmes. De facto, saio do caminho de fazer filmes para vencer Óscares porque é um processo cansativo", conclui.
TRAILER "DUMBO".
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