O polémico documentário sobre o Islão radical "Salafistes" [Salafistas], com imagens de propaganda do Estado Islâmico (EI), foi proibido para menores de 18 anos na França.

"Decidi seguir o conselho da Comissão de Classificação de Obras Cinematográficas", anunciou a ministra da Cultura da França, Fleur Pellerin depois de a comissão se pronunciar, "por uma ampla maioria", a favor da proibição de "Salafistes" para menores de 18.

A ministra justificou sua decisão, "levando em conta a tomada de posição [do documentário] de difundir, sem comentários, cenas e discursos de uma violência extrema".

Segundo fontes ligadas ao Ministério francês do Interior, o ministro Bernard Cazeneuve também se posicionou, fortemente, neste sentido.

O corealizador do filme, François Margolin, classificou de "hipocrisia" a decisão, bastante incomum, do governo francês.

Para Margolin, que produziu o filme com o jornalista mauritano Lemine Ould Salem, "é uma verdadeira hipocrisia querer fingir proteger os menores, já que se trata de censura pura e simples".

"Na verdade, a proibição para menores de 18 anos impede qualquer difusão pela televisão e dificulta muito a exploração do filme em salas de cinema", acrescentou François Margolin, cuja carreira enquanto produtor inclui os prestigiados "O Voo do Balão Vermelho", de Hsiao-Hsien Hou, e "Boarding Gate - Porta de Embarque", de Olivier Assayas, ambos de 2007.

A decisão do governo foi tomada após vários dias de polémica, com os diretores de "Salafistes" a ser acusados de fazer apologia do terrorismo. Segundo o jornal conservador "Le Figaro", trata-se de "uma revoltante verborreia que não ajuda em nada a compreender o inaceitável".

Rodado sobretudo no Mali, na Tunísia e na Mauritânia, entre 2012 e 2015, o documentário mostra, em raras sequências no terreno, membros da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (Aqmi).

Sem narração em "off" ou comentários, o filme é entrecortado por imagens de propaganda e vídeos - alguns bastante violentos - do Estado Islâmico (EI).

Uma outra sequência alimentou a polémica e acabou por ser retirada da obra: imagens nítidas da execução do polícia francês Ahmed Merabet pelos extremistas Saïd e Chérif Kouachi, autores do atentado cometido contra a revista satírica "Charlie Hebdo", a 7 de janeiro de 2015. A sequência foi considerada particularmente chocante pelos sindicatos de Polícia.

O documentário será lançado esta quarta em poucos cinemas - dois em Paris, dois no subúrbio parisiense e um na província -, acompanhado de um aviso sobre a classificação etária.

No cinema, a proibição para menores de 18 deve estar expressamente clara nos anúncios, cartazes e salas.

Essa nova polémica ilustra o clima tenso do debate público na França, envolvendo questões sobre o Islão radical, o jihadismo e o terrorismo.