A vida de uma jovem a entrar na adolescência vista pelo prisma das suas cinco emoções principais é o tema de
«Inside Out», o novo filme da Pixar, com estreia agendada para junho de 2015 e cujas primeiras imagens foram mostradas em primeira mão pelo seu realizador,
Pete Docter, no Festival Internacional de Animação de Annecy, a decorrer até final da semana. E se o cineasta já tinha provado o seu talento ao assinar dois dos filmes mais sensíveis e amados do estúdio,
«Monsters Inc - Monstros e Companhia» e
«Up - Altamente», desta vez parece preparado para ultrapassar todas as expectativas, com um projeto muito arriscado.
A premissa do filme é a de que todos os seres humanos são conduzidos por uma de cinco emoções principais: a alegria (na imagem, à esquerda), a tristeza, o medo, a fúria ou a repugnância, aqui corporizadas por personagens de personalidade a condizer. «Inside Out» centra-se numa menina de 12 anos, Riley, e na forma como esse quinteto a tenta orientar pela vida, operando-a a partir da sua mente como se estivesse num centro de comando. Complicado? As cenas apresentadas em Annecy comprovam que Docter conseguiu traduzir em sequências aparentemente simples uma história com um ponto de partida muito complexo, que envolve outros seres humanos, sempre com os mesmos pressupostos.
No centro de tudo, como sempre na Pixar, está uma origem muito humana e familiar: Docter é pai de uma filha de 15 anos, que era sempre muito feliz na infância mas que quando entrou na adolescência começou a ter reações e comportamentos incompreensíveis para os pais. O filme explica essas variações de humor com os comandos erráticos das cinco emoções, que se tornam mais coordenados com a experiência, ou seja, à medida que as pessoas crescem. No meio disto há uma viagem pelo cérebro humano, que envolve um estúdio de cinema onde se concretizam os pesadelos, um parque temático onde reina a imaginação, e até locais específicos para o pensamento abtrato e os pensamentos desordenados em cadeia.
Se tudo correr como previsto, «Inside Out» devolverá a Pixar aos seus melhores momentos, com um filme emotivo, um tema que nunca foi tratado daquela maneira, personagens cativantes e um drama familiar sobre o crescimento no centro da narrativa. A julgar pela reação efusiva em Annecy às primeiras imagens, a Pixar pode ter voltado a atingir o «jackpot» criativo após os menos estimulantes «Carros 2» e «Monstros: A Universidade»: se todo o filme for como a cena da familia à mesa de jantar apresentada na sessão, Docter terá outro clássico entre as mãos.
Os trunfos da Disney
A Disney, por seu turno, apresentou dois projetos com estreia simultânea nos EUA já no final de 2014: a curta-metragem
«Feast» e a longa-metragem
«Big Hero 6 - Os Novos Heróis». O primeiro já está terminado e teve a sua primeira apresentação pública em Annecy, com aplauso estrondoso da audiência.
O realizador é Patrick Osborne, até então co-diretor de animação, que aproveitou o novo programa de desenvolvimento de curtas-metragens do estúdio que incentiva os funcionários a submeterem ideias para fitas curtas. As melhores são depois selecionadas e o proponente poderá apresentá-las ao responsável criativo do estúdio, o incontornável John Lasseter. De todas as propostas, foi «Feast» que recebeu luz verde para avançar, com uma pequena equipa alocada à produção do projeto.
Tal como os anteriores «Paperman» e «Get a Horse», «Feast» praticamente não tem diálogos, nem deles precisa. A história gira em redor de um cão e é apresentada sempre em redor dos momentos em que lhe é colocada a comida. Através desse dispositivo, o espetador acompanha a história do animal, do seu dono e o do que vai acontecendo na vida de ambos, de forma tão eficaz como divertida e comovente.
A história surgiu da utilização de uma «app» que tem permitido ao realizador gravar clips diários de um segundo às suas refeições, que quando juntos em filme dão uma ideia precisa da evolução do tempo na casa e na família. Com um estilo visual que, à imagem de «Paperman», cruza a animação tridimensional com a imagética 2D, «Feast» será apresentado em complemento com a longa-metragem «Big Hero 6 - Os Novos Heróis», e é já uma boa aposta para as nomeações aos Óscares da especialidade.
Osborne foi também co-diretor de animação de
«Big Hero 6» mas deixou as tarefas de apresentação para Bérénice Robinson, responsável pela pós-produção da película e que, por ser natural de França, pôde fazer as honras da casa em francês e inglês.
Além de alguns desenhos de produção e cenas novas do filme nunca antes vistas fora das quatro paredes da Disney, foram revelados também novos detalhes sobre o argumento desta fita baseada numa BD pouco conhecida da Marvel. A ação decorre na cidade de San Fransokyo, mistura de São Francisco e Tóquio (com a Golden Gate e as ruas inclinadas da primeira misturadas com os edifícios e arquitetura da segunda), e centra-se em Hiro Hamada, um jovem de 14 anos apaixonado pela robótica, que é levado à Faculdade de Tecnologia da cidade por Tadashi, o seu irmão mais velho, que quer evitar que ele se meta em sarilhos. Quando Tadashi morre, Hiro tenta ultrapassar a dor e homenagear o irmão usando Baymax, o robô especializado em enfermagem em que ele estava trabalhar quando faleceu, para combater o crime como super-herói, com uma ajudinha da tecnologia de micro-rôbos que ele próprio está a desenvolver.
As primeiras imagens apresentam uma dose muitíssimo bem calibrada de sentimento, aventura e humor, três elementos que parecem surgir em parcelas muito generosas nesta nova fita da Disney, realizada por
Don Hall e
Chris Williams. Tudo apoiado numa componente visual de encher o olho, a julgar pela sequência mostrada em Annecy de Hiro e Baymax a voarem por sobre a cidade. Com estas imagens iniciais, o filme dá os primeiros passos na rota dos Óscares, num ano que ainda não revelou grandes contendores ao troféu de Melhor Longa-Metragem de Animação.
«Big Hero 6 - Os Novos Heróis» estreia internacionalmente no final de 2014, mas chega a muitos países da Europa, como a França e o Reino Unido, no início de 2015. Em Portugal, a data de estreia definitiva ainda não foi divulgada.
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