O “Halloween” chegou aos remotos confins do interior do Brasil. O que não o acompanhou foi a “modernidade dispensável” – aquela que vai aos fundamentos da estrutura patriarcal-cristã, intrinsecamente homofóbica.

Por isso não será uma grande ideia estabelecer um triângulo amoroso à vista de todos. Especialmente se for entre dois homens homossexuais e uma mulher grávida de um deles.

Mas é o que fazem os protagonistas de “A Cidade do Futuro”, Gilmar (Gilmar Araújo), Igor (Igor Santos) e Milla (Milla Suzart) em mais um registo de docuficção. Cada um à sua maneira vai enfrentar as diferentes reações de desprezo, silêncio, ódio e violência, da família e da população local.

A proposta dos realizadores Cláudio Marques e Marília Hughes entrelaça a trajetória do trio com as próprias origens traumáticas (e verídicas) da cidade onde se passa a ação – local surgido após uma enorme imigração forçada durante a ditadura para construção de uma barragem.

Trabalho bastante mais cadenciado do que o dinâmico “Depois da Chuva” – a obra anterior onde a dupla falava de jovens, anarquismo, luta contra o regime militar e outro momento marcante da história do Brasil, a transição para a democracia nos anos 80.

Dada a força que vem reencontrando os discursos de ódio primitivo, a existência de “A Cidade do Futuro” é um manifesto por si – e cujo título fornece um comentário para um passado de enormes mentiras e um futuro que ainda não chegou.

Heróis invisíveis

Quem lutou por um mundo melhor à boa maneira dos cineastas alternativos foi o austríaco Michael Glawogger.

Ele foi o Herói Independente do Indie 2006 e em 2014 teve morte súbita ao contrair malária, em África. Era lá que filmava o “Untitled”, que o festival mostra este ano e que foi finalizado pela sua montadora, Monika Willi.

Já “Ghost Hunting”, de Raed Andoni, distinguido com o Urso de Prata em Berlim, traz a reconstrução de um centro de interrogação em Jerusalém. Esta é feita com base nos testemunhos de uma série de homens que lá foram torturados e humilhados há 30 anos, recuperando memórias traumáticas e promovendo uma expiação coletiva.

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