![Dennis Quaid é Ronald Reagan: filme sobre antigo presidente divide o público e capta as divisões nos EUA](/assets/img/blank.png)
Os críticos de cinema e o público nem sempre concordam - mas raramente pareceram tão divididos como em relação a "Reagan", um 'biopic' extremamente lisonjeiro do antigo presidente republicano (1911 - 2004), lançado poucos meses antes de outra eleição profundamente polarizada nos EUA.
Com estreia em Portugal prevista para 10 de outubro, o filme, protagonizado por Dennis Quaid como Ronald Reagan, foi lançado na semana passada e possui um 'score' de audiência positivo de 98% no 'site' Rotten Tomatoes. Mas impressionou apenas 21% dos críticos.
A maioria dos críticos profissionais arrasou o filme como uma hagiografia desajeitada que omite as falhas de um líder controverso, enquanto milhares de respostas de fãs acusaram os críticos elitistas de criticarem um filme “edificante” e “patriótico” por causa da sua própria política de esquerda.
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“Adiciona-se a política a isto e, de repente, fica extremamente distorcido”, concordou o realizador Sean McNamara.
Lendo muitas das críticas, "descubro que definitivamente estão a atacar Reagan... em vez de apenas a produção do filme", disse à France-Presse (AFP).
Mas, em vez de fugirem disso, os cineastas e publicitários por trás de "Reagan" apoiaram-se ativamente na receção dividida do filme.
Um comunicado de imprensa desta semana vangloriava-se do “maior fosso entre críticos e fãs na história dos filmes de Hollywood lançados no grande ecrã”.
Um veterano publicitário de Hollywood, que não está envolvido no filme, disse à AFP que essa afirmação "parece-me uma manobra de relações públicas".
Independentemente disso, o 'timing' do filme numa temporada eleitoral febril certamente ajudou a chamar a atenção.
O analista independente de bilheteira David A. Gross disse que o lucro bruto de 10 milhões de dólares do fim de semana de estreia do filme estava "acima da média" para uma biografia política.
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Baseado no livro de Paul Kengor de 2006, The Crusader: Ronald Reagan and the Fall of Communism ["O Cruzado: Ronald Reagan e a Queda do Comunismo", em tradução literal], o filme narra a história de vida do 40.º presidente dos EUA desde a infância, passando por Hollywood, até à política estadual e nacional.
Os cineastas dizem que o momento do lançamento do filme, tão próximo de uma das mais tumultuadas campanhas presidenciais dos EUA de todos os tempos, é uma coincidência.
O filme foi anunciado pela primeira vez em 2010, finalmente rodado em 2020 e depois adiado ainda mais pela pandemia de COVID-19 e pelos ataques de Hollywood.
"Se se ver este filme através das lentes de um ano não eleitoral... ter-se-ia apenas visto, penso, mais como um filme", diz McNamara.
“Mas acho que agora, quando as pessoas olham para isto, é impossível não ver as semelhanças.”
Na verdade, o filme começa com Reagan a ser baleado em 1981, ecoando a tentativa de assassinato do também republicano Donald Trump este verão.
Também retrata Reagan a enfrentar protestos nas universidades o seu rival democrata em debates presidenciais sobre questões como o avanço da idade do presidente.
“Essas coisas aconteceram nos últimos meses e de repente”, diz o realizador.
"Portanto, até eu a ver o filme agora penso: 'Uau, isto está a acontecer hoje'... Fiquei chocado com as semelhanças", comenta.
Alimentando ainda mais a reputação divisiva do filme, Jon Voight – o proeminente ator conservador de Hollywood, que é outro protagonista – alegou que o Facebook estava a censurar anúncios do filme.
A Meta disse à AFP que "uns poucos anúncios" do filme foram identificados incorretamente por um algoritmo como partilhas relacionadas com as eleições - o que exigiria autorização prévia e categorização - e por isso foram temporariamente restritos. Mas eles foram rapidamente restaurados.
Como realizador de vários filmes baseados na fé cristã, McNamara está habituado a fazer filmes “para o público” que não irão necessariamente agradar aos críticos.
Mas para o realizador, o abismo nas respostas a “Reagan” tem sido ainda maior, sublinhando as fortes divisões que assolam a nação.
Embora o apogeu de Reagan na década de 1980 também tenha sido uma época de "muita violência", ainda era uma "nação mais amável e gentil", onde as pessoas podiam discordar politicamente, mas ainda assim encontravam-se para beber ou um churrasco, diz McNamara.
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O público mais velho está a conectar-se especialmente com “Reagan” porque se lembra daquela época e “vê algo que estava a acontecer na América naquela época e que não está acontecer agora”, destaca.
O que o próprio Reagan pensaria do atual clima político?
“Reagan era um grande comunicador e acho que teria tentado preencher essa lacuna e conversar com as pessoas”, diz McNamara.
“Acho que a coisa mais importante seria ele olhar para o mundo hoje e dizer: 'Gostaria que tentassem fazer compromissos só um pouco mais'”.
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