Da adaptação muito livre do livro "Do Androids Dream of Electric Sheep?", de Philip K. Dick, publicado em 1968, surgiu um "film noir" futurista que surge sistematicamente nas listas dos melhores títulos da história do cinema: "Blade Runner: Perigo Iminente".

Os primeiros planos do filme de Ridley Scott, com as chamas industriais e a banda sonora de Vangelis, anunciam a visão pessimista de um futuro representada pela decadente Los Angeles em 2019, aqui uma cidade escura, poluída e labiríntica.

Nela descobrimos o anti-herói, Rick Deckard (Harrison Ford), um antigo polícia caçador de recompensas contratado para perseguir replicantes, andróides tão próximos da existência humana que tinham de ser "reformados".

A estética de "Blade Runner" influenciou outros filmes, séries, videojogos e bandas desenhadas. Até o design de carros. E muito se escreveu sobre os seus temas, da religião ao meio-ambiente, da imigração à globalização, da engenharia genética à clonagem, acima de tudo da solidão e desumanização da sociedade e o que definia um ser humano ou significava estar vivo.

Não é só um filme, na verdade nunca foi apenas isso, mas quanto mais muitas das suas tendências e temas se tornaram realidade, mais a experiência de o ver se aproxima da transcendência.

A ironia é que todo este legado, que se tornou tão forte que culmina, 35 anos mais tarde, na existência da sequela "2049", não devia existir: o primeiro "Blade Runner" foi um semi-flop comercial.

No verão de 1982, os espectadores preferiram "Star Trek II" e principalmente "E.T. - O Extraterrestre". A incompreensão estendeu-se aos críticos, divididos sobre o que significava tudo aquilo.

As reações de uns e outros foram principalmente de frustração pois Ridley Scott vinha do sucesso de "Alien, o Oitavo Passageiro" (1979) e principalmente porque Harrison Ford já era a estrela de "Star Wars" e "Os Salteadores da Arca Perdida".

Apesar de mais bem recebido na Europa, mesmo quando chegou à época dos prémios, "Blade Runner" ficou-se pelas nomeações para as categorias técnicas mais óbvias.

Só que o filme não morreu e logo nos primeiros anos aumentaram os admiradores graças à exibição na televisão e ao VHS. Ao mesmo tempo surgiu toda uma mitologia em redor da existência de uma versão original (o chamado "workprint"), sem a narração de Harrison Ford imposta pelo estúdio após as reações negativas nas sessões de teste.

A descoberta do "workprint" e as reações positivas das sessões esgotadas em alguns cinemas e um festival entre 1990 e 1991, quando foi exibido erradamente como "a versão do realizador", convenceram o estúdio a aceitar financiar o restauro de uma "versão definitiva" com aprovação de Ridley Scott, que chegou às salas para festejar o 10º aniversário e fez disparar o culto: "Blade Runner" deixou de ser um "segredo" de artistas e académicos.

Finalmente 'redescoberto', reavaliado e compreendido, ainda havia uma pessoa insatisfeita com "Blade Runner": Ridley Scott, que preparou um "Final Cut", a primeira versão em que teve controlo artístico total, que chegou aos cinemas por altura do 25º aniversário em 2007.

Seguiu-se uma gloriosa edição em DVD com cinco discos, que parecia o fim da história do mítico filme. Não era: a partir de 5 de outubro vamos reencontrar Rick Deckard e Harrison Ford em "2049"...

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