Se Vera Farmiga convence como Norma Bates num papel muito mais ativo do que o esperado, Freddie Highmore ("Charlie and the Chocolate Factory" e "Finding Neverland"), na versão jovem e moderna da personagem celebrizada por Anthony Perkins, consegue o equilíbrio certo entre o adolescente aparentemente normal e um psicopata em formação.
Mais do que uma prequela contemporânea, "Bates Motel" recria e reinventa a adolescência perturbada de Norman Bates do clássico de Alfred Hitchcock e da obra original de Robert Bloch, explorando a relação disfuncional com a sua mãe. Não se trata de uma nova versão de "Psycho", muito embora se reconheça a presença de elementos do filme e de um ligeiro toque hitchcockiano de suspense e realismo em determinadas situações - como a sequência de cenas em que mãe e filho escondem, apagam vestígios e se livram do corpo do violador que a atacou, logo no primeiro episódio.
Mas a grande referência ao clássico do mestre do suspense, a par dos protagonistas, é o espaço onde a ação decorre, o gótico Bates Motel, que mantém as características originais. Os cenários e os trajes datados de meados do século passado fundem-se com as referências aos dias de hoje, como o uso de telemóveis ou do iPod de Norman, conferindo-lhe um estilo retro. Livres das amarras da adaptação, os criadores Carlton Cuse (Lost), Kerry Ehrin ("Friday Night Lights" e "Parenthood"), produtores de sucesso, e Anthony Cipriano, responsável pelo argumento da série, podem conduzi-la ao sabor da sua imaginação.
A vida deste rapaz
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No início, Norman surge como um típico jovem adolescente, um pouco tímido e empenhado em ser um bom filho, que desperta o interesse das raparigas e é marginalizado pelos rapazes. Porém, a instabilidade semeada pela mãe depressa começa a despontar uma personalidade perturbada que o levará à loucura e o transformará no assassino em série de "Psycho".
Norma Louise Bates sempre foi um grande mistério. Até agora só a conhecíamos através das projeções de alguém que perdeu o juízo, que vive obcecado por ela, de uma mente insana, da perceção toldada de Norman. "Bates Motel" revela-a uma mulher fria, violenta, maléfica insinuante, sexy e provocante, mas mantém a mãe controladora, possessiva e manipuladora, implícita no clássico de Hitchcock. A responsabilidade que impõe ao filho, dominando-o e impedindo-o de se integrar no meio social ou a ideia vincada que lhe passa de que todas as mulheres, à sua excepção, são prostitutas, evidenciam uma mente enleada e desconcertante. Não se trata de uma vítima inocente. Norma encoraja o complexo de Édipo no filho, confundindo-o numa altura crucial para o seu desenvolvimento psíquico e para a construção de uma identidade.
Mas desengane-se quem esperava assistir apenas à problemática adolescência de Norman Bates, dominada pela sua relação doentia com a mãe. Os criadores não se cingem à dupla de protagonistas e enriquecem a história, estendendo-a a outras personagens tão assustadoras, desajustadas e desenquadradas quanto os Bates e responsáveis pelas reviravoltas da trama. Como Emma (Olivia Cooke) que sofre de fibrose cística ou a chegada de Dylan (Max Thieriot), o meio-irmão rebelde de Norman, tido como o elemento mais normal da família e do qual pouco se sabe. O Xerife Romero (Nestor Carbonell), que levanta suspeitas de práticas criminosas de tortura, exploração sexual e tráfico de mulheres, intensifica o mistério e o suspense da trama, sobretudo porque nada garante que as acções desta personagem sejam reais e não apenas o resultado das alucinações produzidas pela mente desequilibrada do jovem Bates.
As audiências conquistadas logo nos primeiros episódios levaram a A&E, que transmite a série nos EUA, a anunciar uma segunda temporada. Em Portugal, "Bates Motel" é exibida pela TV Séries.
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