A popular série documental da Netflix sobre a Fórmula 1 oferece às grandes tabaqueiras um meio eficaz para promover os seus produtos, apesar das proibições em vigor, constatou um estudo publicado esta quarta-feira.

A plataforma de streaming lançou recentemente a quinta temporada de "Fórmula 1: A Emoção de um Grande Prémio", série que aumentou ainda mais a popularidade da competição automobilística, especialmente nos EUA.

Mas segundo muitos observadores, a obra mostra imagens de carros patrocinados por marcas de cigarro, inclusive em países onde a publicidade do tabaco é proibida.

"No total, 1,1 mil milhões de minutos de imagens difundidas no mundo inteiro mostraram conteúdo ligado ao tabaco" durante a quarta temporada da série, indicaram num recente estudo a Formula Money, que recolhe dados ligados à Fórmula 1, e a ONG antitabaco STOP.

Metade dos episódios desta temporada contêm marcas ligadas ao tabaco desde o primeiro minuto, segundo este relatório intitulado "Driving Addiction: F1, Netflix and Cigarette Company Advertising" ("Vício ao Volante: F1, Netflix e a Publicidade das empresas de cigarros", em tradução literal).

As marcas Philip Morris International (PMI), patrocinadora da Ferrari, e British American Tobacco (BAT), da McLaren, estiveram "muito presentes na série", segundo o estudo.

Público jovem

"As investigações sugerem que PMI e BAT chegam a novos públicos graças à série, mesmo a pessoas que não acompanham as corridas de F1", acrescentou o estudo, referindo-se a uma audiência geralmente mais jovem.

A série contribuiu para aumentar a notoriedade da principal categoria do automobilismo em todo o mundo.

"O aumento do número de espectadores significa que mais pessoas veem a marca que os patrocinadores da Fórmula 1 colocam nos carros", explica o relatório.

"A Netflix tem a responsabilidade de não oferecer conteúdo que, embora de maneira indireta, promove as marcas de cigarros", explica Jorge Aldaty, da STOP, à France Presse (AFP).

Contactada pela AFP, a Netflix não quis comentar a situação.

Há décadas que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que administra a Fórmula 1, recomenda que não seja permitido às companhias de tabaco patrocinar a competição.

Os fabricantes deixaram de promover as suas marcas de cigarros tradicionais, mas em alguns casos continuam a promover outros produtos, como cigarros eletrónicos.

"Eles vivem nesta zona cinzenta à volta de que é e o que não é marketing do tabaco", diz Alday.

Procurada pela AFP, a FIA afirma "manter a sua posição firme quanto à publicidade do tabaco e continuar com as recomendações que fez em 2003".

"Não estamos em posição de interferir nos acordos privados entre as equipas e os seus patrocinadores, nem nos acordos de difusão", explicou a federação.

Publicidade milionária

Segundo o estudo, PMI e BAT gastaram cerca de 40 milhões de dólares (37,81 milhões de euros, à cotação do dia) em publicidade na Fórmula 1 em 2022.

Os cigarros eletrónicos e as gomas de nicotina da BAT "foram as marcas mais visíveis na McLaren ao longo de toda a temporada", afirma a mesma fonte.

Estes produtos aparecem em 13 corridas de um total de 22, inclusive no Grande Prémio do México, apesar das fortes restrições em matéria de publicidade vigentes no país.

A PMI, uma das patrocinadoras mais antigas da F1, reduziu a sua participação de maneira significativa, mas continua a beneficiar da publicidade. Mantém-se como parceira da Ferrari, mas os seus logos não aparecem nos carros da equipa, segundo o relatório.

Contactado pela AFP, o vice-presidente de comunicação da PMI, Tommaso Di Diovanni, respondeu que o acordo entre a Netflix e a F1 "não tem nada a ver" com a sua empresa, afirmando que a marca não aparece nos carros e nos equipamentos dos pilotos desde 2007.

Mas o estudo afirma que este gigante do tabaco, que gastou cerca de 2,4 mil milhões de dólares em publicidade desde a sua entrada neste desporto em 1971, beneficiou das imagens históricas que aparecem na série.

Caroline Reid, coautora do relatório e membro da Formula Money, explica em comunicado que "só um minuto de imagens históricas apresenta cinco marcas de cigarros diferentes, entre elas a Marlboro, da PMI".

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