Esta quarta-feira, as ações da Netflix perderam 35,1% do seu valor, o equivalente a 54,4 mil milhões de dólares. Acumulando com outro golpe em janeiro, a empresa perdeu 65% do seu valor nos últimos seis meses.

A razão para a mais recente derrocada foi o anúncio na noite anterior de que perdera 200 mil subscritores entre janeiro e março, o que não acontecia há uma década e contrariou a sua previsão de crescer 2,5 milhões. Pior, a própria Netflix antecipa que espera perder mais dois milhões no trimestre de abril a junho.

Netflix perde milhares de subscritores e ações caem na Bolsa de Nova Iorque
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Após um forte crescimento durante a pandemia, o mercado esperava um ajustamento, mas não tão forte. A plataforma do streaming explicou que a queda deveu-se principalmente à dificuldade de conseguir novos subscritores em todo o mundo e também à suspensão do seu serviço na Rússia após este país ter invadido a Ucrânia.

Na apresentação dos resultados, Reed Hastings, "chairman" e co-CEO, também atribuiu culpas à partilha ilegal das contas entre utilizadores, que estimou afetar de 100 dos atuais 221,64 milhões de subscritores.

Para combater esta prática, prepara-se um apertar do controlo, lançando uma nova modalidade de subscrição que permita essa partilha mediante o pagamento de um valor adicional e algo que sempre tinha sido recusado: o lançamento de uma versão gratuita, financiada pelos anúncios publicitários.

No entanto, os analistas e muitos utilizadores das redes sociais falam de outras razões para a crise de subscritores, que não estão relacionadas com a acusação de excesso de liberalismo feita por Elon Musk numa mensagem no Twitter que se tornou viral (o "vírus da mentalidade woke", como lhe chamou o multimilionário).

Aumento dos preços e uma concorrência cada vez mais forte

Além do fim da pandemia, os analistas avançaram que a quebra de subscritores também se deve ao impacto da concorrência de plataformas: Disney+, HBO Max, Apple TV+, Amazon Prime Video e Peacock estão cada vez mais fortes.

Com o lançamento de outras plataformas, a Netflix foi perdendo vários atrativos, como os conteúdos Disney (principalmente os filmes Marvel) e da Warner Bros, mas para a revista Forbes, o maior dano é que a plataforma se tornou demasiado cara.

Numa altura em que o custo de vida está a aumentar e os concorrentes oferecem conteúdos de qualidade e boas condições a preços mais competitivos, a Netflix perdeu 640 mil subscritores nos EUA e Canadá (compensados pelos ganhos no mercado asiático), onde os preços têm vindo sistematicamente a aumentar e um "Plano Premium", que permite ver filmes e séries em HD ou 4K até quatro ecrãs em simultâneo, já custa 20 dólares por mês (€15,99 em Portugal).

Por uma grande margem, é muito mais do que pedem os maiores concorrentes: Disney+ (8 dólares nos EUA), HBO Max (15 dólares, sem anúncios), Amazon Prime Video (9), Apple TV+ (5), Hulu (13, sem anúncios) e Paramount Plus (10, sem anúncios).

Já o "Plano Standard", por 15 dólares (€11,99 em Portugal), corta o conteúdo em 4K, mantido pela maioria dos rivais, e desce para dois ecrãs, enquanto o "Plano Base", por 10 dólares (€7,99 em Portugal), continua a ser mais caro do que vários dos concorrentes e com menos opções, descendo para um ecrã e nem sequer incluindo HD.

Por tudo isto, a Slashfilm e outros preveem que, se apertar o controlo da partilha ilegal das contas, a Netflix arrisca-se a ter o contrário do que procura: perder ainda mais subscritores, que poderão assinar dois outros serviços pelo que estavam a pagar.

Por comparação, piores séries. E muitos filmes perdem-se pelo caminho

Euphoria

Aos preços mais elevados dos planos das assinaturas da Netflix correspondem muito mais lançamentos, mas a revista Forbes e vários utilizadores nas redes sociais destacam que, pelo menos nas séries, os rivais parecem estar a ganhar a dianteira na qualidade e impacto mediático e cultural.

Sim, a Netflix teve sucessos nestes primeiros meses de 2022 com a segunda temporada de "Bridgerton" e ainda "Vikings Valhalla", "Inventing Anna", "Pieces of Her", "Archive 81", "In From the Cold" e "Anatomy of a Scandal". Seguem-se "Ozark" e "Better Call Saul", mas que estão a chegar ao fim.

Enquanto o Disney+ domina principalmente graças às novas séries Marvel e "Star Wars" (e alguns filmes que não lançou nos cinemas por causa da pandemia), a HBO Max (e HBO nos EUA) lançou a segunda temporada de "Euphoria" e ainda "Peacemaker", "Julia", "Minx", "The Gilded Age", "Tokyo Vice", "Our Flag Means Death" e "Raised by Wolves". Já por 25% do que custa a Netflix, a Apple TV+ apresentou "Severance", "Pachinko", "Slow Horses", "The Afterparty", "Servant" e "Roar".

E os filmes? Por cada "Aviso Vermelho", "Não Olhem Para Cima" e "O Projeto Adam", muitos perdem-se pelo caminho nos menus da Netflix. E apesar do investimento e impacto na corrida aos Óscares, "O Poder do Cão", "A Filha Perdida" ou "Tick, Tick... Boom!" ficaram longe de estar entre as primeiras escolhas dos subscritores.

Cancelamentos prematuros das séries num catálogo desamparado

"The OA"

Imagine-se o que teria sido se a AMC tivesse desistido de "Breaking Bad" por ser apenas um sucesso moderado nas primeiras temporadas.

A Total Film destaca que a Netflix não dá tempo para as séries atingirem o seu potencial e investe principalmente nos grandes eventos com impacto mundial, como "Stranger Things", "The Crown", "Squid Game", "Bridgerton" e "The Witcher".

Apesar de assumir riscos com várias séries, se estas não atingem os objetivos são canceladas e as histórias ficam "penduradas", à revelia dos seus criadores: por causa disto, reagindo às análises sobre os maus resultados da plataforma, vários utilizadores disseram nas redes sociais que evitam investir o seu tempo e expectativas em novas séries até terem a certeza que são renovadas para mais temporadas.

À conta do seu famoso e secreto algoritmo que ajuda a determinar o que continua ou fica pelo caminho, a plataforma já defraudou por exemplo os fãs que acompanharam "The OA", "The Society", "Chilling Adventures of Sabrina", "Anne With an E", "The Dark Crystal: Age of Resistance", "American Vandal", "Archive 81" ou "Cowboy Bebop".

Este parece ser um círculo vicioso: há muito por onde escolher, mas com tantos lançamentos é impossível prestar atenção a tudo, a nível de comunicação e nos conteúdos que se veem destacados quando se entra na plataforma, com a consequente queda no esquecimento da grande maioria das propostas.

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