1h da manhã da passada quinta-feira. Lux Frágil. Tudo pronto para Bruno Cardoso encarnar Xinobi no concerto de apresentação do álbum de estreia, 1975.
Em entrevista ao Sapinho, o DJ e produtor já tinha previsto o que viria aí: “Só o facto de ser tocado já é muito especial. Mas vai ser a formação clássica de banda: um baterista, dois guitarristas, um baixista, um teclista e, neste caso, vou cantar eu… vai cantar toda a gente no fundo. A miúda que canta o Mom and Dad vai cantar essa e mais algumas e vai tocar piano porque ela é exímia nisso. Já que a tenho como amiga e colaboradora, achei que era ideal convidá-la. Basicamente é isso: é uma estreia do meu disco em formato banda.”
A apresentação de 1975 decorreu de forma pacífica. Com Moullinex , que se juntou ao protagonista da noite - Xinobi -, o concerto ganhou outra dimensão, principalmente no palco onde se aparecia estar a assistir a um concerto de amigos para amigos, num ambiente de pura diversão e gosto musical. Recheada de momentos com instrumentais, o concerto de apresentação do primeiro disco de Xinobi foi uma mistura entre soundbytes que já habitavam a nossa memória, como os singles de 1975 e de Moullinex, e novos sons - uns mais psicadélicos e deep que outros - que dariam a novidade necessária para fazer o público mexer-se da sua zona de conforto.
À 1h10, o Lux Frágil ouvia os primeiros acordes. Cinco pessoas em palco: Xinobi na liderança, Moullinex a acompanhar, Ana Margarida nas vozes femininas, Óscar Gibóias na guitarra e, a finalizar, Luís Clara Gomes na bateria. Dos primeiros acordes até à batida forte em crescendo foi um tiro. Pouco depois já ouvíamos uma versão mais introspetiva da música de abertura do álbum: They All Feel The Same. "They say the same", repetiam incessantemente, quase a fazer lembrar os britânicos The XX em momentos mais calmos.
"Bem-vindos! Estou fascinado" - foram estas as primeiras palavras de Xinobi para quem o veio ver. Do público, a reação foi positiva, principalmente quando - já a iniciar uma nova música - Xinobi brinca com a banda e faz uma pequena dança sincronizada ao estilo de qualquer banda dos anos 1980 com os passos todos estudados e programados. O cenário, vermelho e preto, completava o ambiente, assim como as pinturas faciais de cada elemento em palco, levando-nos a crer que Xinobi nos quer aqui mostrar algo mais selvagem, no seu estado natural, sem os constrangimentos exteriores. A naturalidade, no fundo.
Os instrumentais minimalistas continuam a polvilhar a apresentação de 1975 e, na verdade, sente-se a falta das vozes viciantes que, por muito que se repitam, transmitem uma profundidade essencial. Após mais um solo, é tempo de dedicar uma música aos pais: Mom and Dad. Presentes no espetáculo, os pais são o alvo desta música: "é sobre eles e não é sobre eles", reflete reforçando a ambiguidade. No entanto, logo no início, um contratempo faz voltar atrás no tempo e regressar aos primeiros acordes. "Quem nunca errou na vida?", perguntou logo Xinobi. "I think I'm going back", ouviu-se - mais uma vez - incessantemente.
Depois de vários mergulhos pelo álbum, foi Real Fake que se destacou: "it's all a mistake; real is fake", anuncia a canção. Nesta música são as múltiplas vozes, contrastando com a doce voz feminina, que trazem algo de mais a esta interpretação. Parece que estamos todos, em uníssono, em conflito com a realidade porque na verdade tudo o que nos rodeia é falso. Como se a própria música não fosse mais do que uma ilusão musical bem conseguida. E bem conseguido é, de certeza.
Já a caminhar para o final, foi Radio Radio que proporcionou os últimos acordes de um concerto curto mas eficaz. Cerca de 55 minutos depois de ter começado, Xinobi despede-se do público e, para infelicidade de quem queria ouvir uma versão alongada de They All Feel The Same como encore, não mais voltou. Contudo, cumpriu - e bem - o seu papel.
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