As Festas de Lisboa de 2015 estão a chegar ao fim, mas o grande final foi deixado para duas noites de Voz e Guitarra, um projeto nascido no ano de 1997 que deu origem a um disco duplo e que se repetiu em 2013 com a participação de 33 nomes da música popular portuguesa. O SAPO On the Hop esteve lá para acompanhar.

Os nomes eram muitos. A expectativa era considerável. E tudo junto dava espaço para a impaciência que se gerava em plena Praça do Comércio, em Lisboa, com os espectadores a pedir pelo arranque dos concertos quando ainda nem eram horas disso. E falando na plateia, podemos concluir que o número de lugares sentados não foi suficiente, não fosse a praça ter sido preenchida por completo de nacionais e turistas.

Tim, dos Xutos e Pontapés, artista pioneiro deste projeto, foi o primeiro a pisar o palco nesta noite de 3 de julho, com "Por Quem Não Esqueci". Atrás de si era fácil de verificar aquela que seria a distração da noite para muitos: as ilustrações ao vivo de António Jorge Gonçalves.

"Eu sou o primeiro de vinte e tal. O espetáculo começa hoje e acaba amanhã, por isso deixem já lugar marcado!", brincava antes de passar à sua segunda e última atuação, com uma faixa que está perfeitamente adequada ao tema do projeto, pelo facto de não estar gravada nem editada. Para já, foi-nos apresentada como 'Vento Louco'. No futuro? Quem sabe...

Em seguida, chegando entusiasmada para o seu momento, Luisa Sobral encheu-nos com o seu sorriso e jeito fácil, brindando-nos com "Fora do Tempo", de Luís Represas. No seu curto espaço de tempo, bem como todos os outros artistas que apenas tiveram oportunidade para apresentar duas canções, ainda houve espaço para elogiar a Praça do Comércio e fazer menção à influência do projeto 'Voz e Guitarra' na sua infância: 'Ouvia-o vezes sem conta no carro, na altura em que as viagens ao Algarve demoravam umas quatro horas! Mas nunca imaginei vir a fazer parte dele'.

Sai a voz doce, entra a voz rouca, e Olavo Bilac pisa o palco para nos brindar com "É Doce Morrer no Mar", de Marisa Monte e Cesária Évora.

$$gallery$$

Uma vez mais, a paisagem não foi esquecida, e até a lua parecia ajudar para tornar todo o ambiente ainda mais poético. Entre coros tímidos e uma homenagem a Eusébio pela sua trasladação para o Panteão, foi a vez de ouvir algo de Rui Veloso com a faixa "Primeiro Beijo" que, sem precedentes, foi recebida em pura sintonia com o público presente.

Dando de novo lugar às mulheres, era a vez de Mafalda Veiga nos brindar com "Cavalo à Solta", de Fernando Tordo e Ary dos Santos. Contudo, algo que a cantora não conseguiu soltar foram os papeis à sua frente, tendo perdido a conexão com o público por oscilar entre um olhar fixo para o papel ou ter simplesmente os olhos fechados. Redimindo-se, a faixa "Imortais", de sua autoria, foi um momento mais libertino com o apoio de Tim no baixo, faltando ter anunciado o próximo artista como todos os outros haviam feito.

Quanto a Moz Carrapa e aos Dead Combo, não existe muito a acrescentar. Nem olá, nem adeus. Os acordes foram simplesmente tocados e o lugar foi cedido. Contudo, ainda houve tempo para uma colaboração dos últimos, num tom mais sombrio, com a cantora Márcia que rapidamente ocupava o seu lugar em palco e a solo.

Já em lugar de destaque, a cantora apresentou-nos a sua interpretação de "Às Vezes o Amor", de Sérgio Godinho, bem como um original seu, acompanhada à guitarra pelo marido.

Continuando num momento feminino, Gisela João foi a artista que se seguiu, surgindo com um grande vestido florido que combinava na perfeição com o seu ar doce e de menina. Ainda assim, com um público repleto de turistas, que a cantora foi a única a não esquecer. Se houve alguém que se deixou enganar pelas aparências, rapidamente estas foram desfeitas com Gisela João a presentear-nos com "Que Amor Não Me Engana", de Zeca Afonso.

Por esta hora, também a brisa já se começava a sentir, chegando a arrepiar aqueles que menos se haviam precavido de agasalho, restando-nos a música para acalentar os corações.

"Vou-vos deixar com quem encheu tanto a minha vida, Vitorino!" - anunciava, dando lugar ao cantor que, antes de mais, sentiu a necessidade de fazer uma pequena homenagem ao canto alentejano. "Uns 40 segundos", referia o cantor a Tim, confirmando ser esta uma noite de improvisos.

Antes de partir, Vitorino fez ainda a sua apresentação para o próximo artista: "Agora vem o charmoso, sempre muito elegante, é... quem é que é mesmo?!", brincava dando depois espaço para a entrada de David Fonseca.

O cantor de Leiria terá sido o mais nervoso da noite, começando com uma versão de Jorge Palma, que o substituiria de seguida. "Não existe melhor razão para me sentir nervoso como saber que o Jorge está aqui! Jorge, esta é de coração", garantia ainda inquieto apresentando a faixa "A Gente Vai Continuar" que, com voz, cordas e sopro, podemos garantir que não desiludiu, tendo sido surpreendido com a presença do autor da mesma já nos últimos acordes para o felicitar com um abraço.

Para terminar, Jorge Palma brindou-nos com "Essa Miúda", da sua autoria, onde uma falha técnica fez com que a voz do artista se deixasse de ouvir: "Como correu mal, agora vamos repetir!", brincava explodindo numa gargalhada.

Contudo, a plenitude foi restabelecida com "Foi Por ela", de Fausto Bordalo Dias, dando-se a noite por encerrada com direito a uma ovação de pé por parte de todos aqueles que assistiram a esta noite e preencheram por completo a Praça do Comércio.

Agora, após esta roda viva de concertos, apenas podemos aconselhar um retorno para o verdadeiro encerramento das Festas de Lisboa de 2015. Bom tempo, boa música, de forma gratuita e com um plus de fogo de artifício no fim? As desculpas parecem esgotar-se... Até lá!

Fotografia: Ana Castro