Em declarações à Lusa durante o intervalo de um dos ensaios de preparação de “Gulag”, Yealland explicou que “o principal [objetivo] é criar atividades nas quais todos são iguais, para que não haja diferenças entre os grupos, [porque] todos estão a trabalhar juntos para contar a mesma história”.

Isto porque “Gulag” envolve intérpretes provenientes de origens tão diferentes como o Balleateatro, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (que já havia colaborado com o serviço educativo da Casa da Música no espetáculo “Curado”), a Escola Profissional de Música de Espinho e a Santa Casa da Misericórdia da Maia.

No ensaio a que a Lusa assistiu, durante uma cena em que os intérpretes estão sentados no chão a representar um momento em que comem sopa, uma jovem do Balleateatro acompanhou um participante da Associação dos Deficientes das Forças Armadas e ajudou-o a entrar no ritmo da composição.

Yealland realçou que a forma como o grupo interage “é o oposto do que seria num ‘gulag’”, onde havia “muito menos carinho, menos preocupação e muito mais ‘matar ou ser morto’”.

Jorge Prendas lembrou que “no ‘gulag’ estavam desde os ladrões mais comuns ao preso político ao músico, ao artista, à pessoa mais velha, à pessoa mais nova” e sublinhou que “o sumo destes projetos que é o impacto que fica para o futuro, sobretudo nas gerações mais novas”.

“Cresci durante um tempo da Cortina de Ferro, mas uma geração mais nova já não ouve falar tanto dessas coisas, parece muito distante. Também está aí a nossa missão de serviço educativo: manter a memória viva, não apenas das boas coisas”, disse o coordenador do serviço educativo da Casa da Música.

Jorge Prendas destacou as “coisas extraordinárias” que a Rússia - país a ser celebrado em 2016 pela Casa da Música – gerou em termos artísticos, mas recordou “esta página completamente negra, absurda aos olhos de quem preserva ou quer preservar os direitos fundamentais do ser humano”.

“Gulag” tem lugar na sala Suggia da Casa da Música às 21:00 de segunda-feira, com bilhetes a 7,5 euros ou a cinco euros para os menores de 18 anos.