Nunca foram uma banda vulgar, os The Dodos. Tanto na forma, duo composto por Meric Long na voz e “guitarras” (atente-se ao substantivo no plural, fará mais sentido linhas abaixo) e Logan Kroeber na bateria, como no conteúdo, que consegue aliar música folk a uma intensidade que faz lembrar paragens mais pesadas.
O grupo tem encarado este projeto com a mesma tenacidade desde a sua génese, há dez anos, e que teria garantido a sobrevivência da espécie que lhes confere este curioso nome. O seu novo lançamento, "Individ", tido como um retornar à fórmula que os levou à aclamação crítica, foi causa mais do que suficiente para o grupo são-franciscano regressar ao Musicbox, em Lisboa, na passada quinta-feira.
A sala foi um espelho da sua popularidade enquanto preponentes de um indie folk mais idiossincrático: estava quase cheia. Sem grandes palavras ou aparato, os The Dodos subiram ao palco para tocarem de imediato "Goodbyes and Endings" e "Competition", os dois singles do mais recente álbum. O som algo abafado denotou imediatamente que a sonoridade assente em texturas de guitarras em loop sofreria de indefinição e a voz de Long seria engolida, mas isso não ameaçou o imenso regozijo que os fãs da banda tiveram durante cerca de uma hora. Isto porque além da mestria técnica, aquilo que apela às pessoas é mesmo a valência emocional presente em músicas como "Confidence", que provocou as primeiras reações de maior por parte do público.
Assente na capacidade metronómica de Kroeber manter os ritmos ora dançáveis ora urgentes a resvalar o punk e de Long tocar lindos dedilhados por entre espasmos de seis cordas, a performance, essa, foi saudavelmente marcada entre material mais recente, como a marcial "The Tide" ou a quasi-matemática "Retreiver", e retornos saudosos a "Black Night" e a "Red and Purple".
Para o encore estaria reservado o momento mais íntimo da noite, demonstrando novamente o porquê dos seguidores da banda ficarem em êxtase com a sua vinda (a rapariga ao meu lado parecia estar na IURD). Permitindo que as pessoas votassem na página do evento nas músicas que quisessem ouvir, as escolhas recaíram num empate técnico entre "Fools" e "Winter", ambas do já longínquo "Visiter". O resultado não podia ser mais obvio: os “ooohs” da primeira foram cantados em uníssono e o calor intimista que se gerou na segunda fez esquecer o seu lamento solitário. Podíamos estar no pico de janeiro que o inverno não se sentiria no Musicbox.
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