Sting cortou o MEO Arena em duas fatias: a dos cinquentões e sessentões, que o viram nascer para a música; e a dos filhos dos cinquentões e sessentões, que o conheceram pela boca dos pais, onde me incluo. De resto, fomos todos farinha do mesmo palco porque cantámos a uma só voz, com ele.
A primeira fatia sentou-se nas bancadas. A segunda ficou de pé na plateia. Talvez porque tenha querido vê-lo de uma perspetiva mais purista, decidi juntar-me aos mais velhos. Ou muito me engano, ou terá sido o primeiro concerto a que fui em que consegui fazer inveja aos meu cotas. Quando as luzes desvaneceram, ele entrou e foi o descalabro. E que belo descabalro.
Começámos bem, com “If I Ever Lose My Faith in You”. Ficámos ainda com mais fezada. Pouco depois, com “Englishman in New York”, Sting é que foi um alien e nós fomos os ingleses na sua Nova Iorque marciana. Na verdade, assim foi durante todo o concerto. Deixou-nos desconjuntados, sem jeito, atónitos, rendidos. Não sei se é alucinação minha, mas por vezes dá a ideia que Sting tem um je ne sais quoi de reggae nas entrelinhas de alguns temas. “Englishman in New York” é um dos exemplos disso. (Não me batam, excelentíssimos peritos na matéria). Bom, adiante. Mais atónitos ficámos quando decidiu apresentar a banda na língua de Camões, depois de afirmar «Estou muito feliz de estar aqui com vocês», fluentemente.
Mais barbudo do que nunca, Sting avançou para “So Lonely”, dos The Police, esfregando-nos na cara o seu à vontade com os falsetes. Aliás, fê-lo recorrentemente. Outro dos bailinhos que nos deu foi com as suas impressionantes oscilações rítmicas: num segundo, o nosso coração está a fritar a pipoca; no segundo seguinte, a ressacar (não alcoolicamente falando). Depois, veio “Message in a Bottle”, também da banda britânica, para nos socorrer. Venha daí esse SOS, e rápido. “De Do Do Do De Da Da Da” foi nova dose de energia. Desde a backvocal a soar como se fosse uma guitarra elétrica, à imponência do violinista, passando pelos devaneios e incursões jazz do pianista, toda a banda embasbacou. Mas calma, não mais que ele.
Antes do primeiro adeus, entoou “Ain’t No Sunshine”, de Bill Whiters. No regresso, trouxe “Desert Rose”, que dá sempre a sensação de estar a pedir uma dança do ventre (não aconteceu!). Seguiu-se “Every Breath You Take”, antes de nova ‘despedida’. O primeiro contacto que tive com Sting foi pouco depois do fatídico 11 de setembro de 2001, ao ver, através do Youtube, um concerto que tinha dado em Itália naquele dia. Nesse concerto, cantou “Fragile” e dedicou-a a todas as vítimas do atentado. Eu chorei. Esta quinta-feira, no último encore, fragilizou-nos a todos. O resto não contamos. Estudassem.
Observação: Só faltou mesmo “Shape of My Heart” e “Fields of Gold”. Mas também já era pedir demais.
Foto: Lusa
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