A exposição retrospetiva “Leonilson, Drawn 1975-1993”, a primeira do artista brasileiro, da Geração 80, apresentada na Europa, chega agora a Portugal, e é hoje inaugurada em Serralves, no Porto, reunindo cerca de 250 trabalhos entre desenhos, bordados e esculturas.

“A exposição é uma retrospetiva. É a primeira retrospetiva do Leonilson na Europa e a primeira em Portugal. É uma exposição que está a ser trabalhada há mais de dois anos. Foi apresentada primeiro em Berlim [Alemanha], depois foi apresentada na Suécia, e vem agora para Serralves”, disse à Lusa Filipa Loureiro, responsável pela coordenação da exposição “Leonilson, Drawn 1975-1993”, organizada pela Fundação Serralves, à margem da conferência de imprensa.

A exposição, que fica em Serralves até dia 18 de setembro próximo, reúne cerca de 250 obras num amplo espetro de meios e estilos, passando pela pintura, colagem, desenho, escultura, bordado, bem como revela documentação que remete para a relação com outros artistas como Albert Hien e amigos, correspondência, e a sua relação com as viagens à Europa, explica Filipa Loureiro.

“É uma exposição que cria uma narrativa cronológica sobre o trabalho do Leonilson. (…) Ela vai de 1975 a 1993, ano em que o Leonilson morre, e apresenta-nos (…) uma narrativa cronológica, e também uma vasta e diversa utilização dos diferentes meios que o Leonilson utilizou no seu trabalho”.

Na primeira sala da exposição há trabalhos das décadas de 1970 e 80, onde se pode apreciar, por exemplo, desenhos de Leonilson sobre uma “meretriz gicolete”, uma “strip-girl”, ”uma pederasta”, uma “balconista” ou “uma massagista táxi girl”, mas também colagens e uma capa da revista de moda Vogue, idealizada por Leonilson.

Outra secção da exposição “Leonilson, Drawn 1975-1993”, destacada pelo curador Krist Gruijthuijsen, corresponde aos trabalhos do artista brasileiro realizados com a técnica do bordado em tecido, onde se podem ler mensagens como “Leo não pode mudar o mundo, porque os deuses não admitem qualquer competição com eles”, “bom coração”, “falsa moral”. Ou versos soltos como este: “Honestidade não dói, Dignidade não fere, Namorar faz bem”.

Em declarações à Lusa, a irmã de Leonilson, Nicinha Dias, hoje presente na apresentação da mostra em Serralves, explicou que o artista aprendeu a gostar de bordados e de tecidos com os progenitores.

“A minha mãe bordava e o meu pai trabalhava com tecidos e então, [Leonilson] juntou as duas coisas”, recordou, soltando sorrisos de saudade, e referindo que, para o irmão, “era muito importante” trazer a arte que realizava para a Europa.

Nicinha Dias observa que o seu irmão Leonilson fez “3.400 obras em 20 anos”.

“Ele trabalhava muito. Não parava”, disse Nicinha, revelando que ele estava sempre munido com uma “sacola, com lápis e papel” para desenhar mesmo quando viajava.

Leonilson começou a visitar a Europa em 1981 frequentemente, tendo visitado Milão, Madrid, Bolonha, Paris e Amesterdão, bem como várias cidades alemãs.

A exposição termina com uma instalação, a última exposição de Leonilson em vida, que é dedicada à Capela do Morumbi (1993), em São Paulo, Brasil.

Essa instalação é acompanhada por seleção de um conjunto de 101 desenhos realizados entre 1991 (ano em que foi diagnosticado com Sida) e 1993 (ano da sua morte) e que chegaram a ser publicados, na altura, no jornal brasileiro Folha de São Paulo.

O curador da exposição, Krist Gruijthuijsen, destaca que quando Leonilson foi diagnosticado com Sida, a sua linguagem visual sofreu uma profunda alteração. Os seus últimos anos foram marcados pela deteriorização da sua saúde e pela sua preocupação com a morte, e que está patente, por exemplo, nas obras "O apaixonado”, “Ziz”, "Zag” e “5 minutos” (1991).

“As obras desta fase tardia deixam transparecer uma sensação de melancolia, como é o caso de “Puros Duros” (1991), onde a dureza da pedra usada como material se torna uma antítese do corpo humano deteriorável”, lê-se no dossiê de imprensa.

Leonilson (1957-1993) nasceu numa família originária do Nordeste brasileiro. O pai era um comerciante de tecidos conhecido. Entre 1979 e 1981, estudou arte em São Paulo.

O artista procurou desde sempre um “sentido de pertença e sofreu a discriminação generalizada de que os homossexuais eram vítimas nesse tempo”, recordam as notas do dossiê de imprensa.

A exposição pode ser vista até dia 18 de setembro deste ano.