"No teatro e na performance o ponto forte é sempre o da presença dos atores, neste espetáculo desconstruímos isso, ou seja, pegamos num texto dramático clássico, e pensamo-lo e representamo-lo como se ele não fosse um texto", disse à agência Lusa Miguel Castro Caldas.

Porque o teatro é sempre feito no presente e a escrita remete para o passado para haver teatro é como se algo tivesse que morrer, referiu.

Neste espetáculo, tanto os atores como os espectadores estão munidos do texto que lhe esteve na origem, como se se tratasse de um jogo para todos jogarem.

Um espetáculo que, segundo Miguel Castro Caldas, é pautado por um misto de traições e de segredos numa série de justaposições.

"Se eu vivesse morrias" estreou-se na Culturgest em dezembro de 2016, não teve qualquer apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes) e, a partir de determinada altura, com sempre com sala cheia.

"Houve programadores que gostaram muito e que acharam que o texto devia voltar ao palco da Culturgest, o que é uma honra muito grande para nós", disse Miguel Castro Caldas a propósito do espetáculo que arrecadou o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para melhor texto representado em 2016.

O título do espetáculo é tirado do epitáfio de Robespierre, que diz "Passante, não chores a minha morte, se eu vivesse tu morrias".

Dramaturgo e atores acabam a fazer o mesmo em palco que o passante e Robespierre, fazendo com que o dramaturgo morra e o ator o ressuscite sem que se deixe morrer a ele próprio.

Com este espetáculo, Miguel Castro Caldas e o coletivo que o representa pretenderam evidenciar "a não-presença, a fantasmagoria, o outro acontecimento que não é aquele que os atores costumam afirmar como o aqui e o agora", frisou Miguel Castro Caldas.

"Pôr ainda mais o morto em cena sem que convoquemos os mortos para a vida, mas antes a convocarmo-nos para lá, pedindo ao texto que nos leve nesta viagem de morte", acrescentou.

A conceção do espetáculo é de Miguel Castro Caldas - também responsável pela direção e pelo texto -, Lígia Soares, Filipe Pinto, Miguel Loureiro, Tiago Barbosa, Gonçalo Alegria e Catarina Salomé Marques.

A representar no Grande Auditório da Culturgest, sempre às 21:30, o espetáculo tem criação, interpretação e figurinos de Lígia Soares, Miguel Loureiro e Tiago Barbosa.

A criação, cenografia, imagem e figurinos são de Filipe Pinto.

O espetáculo foi coproduzido pela Culturgest e pela Fundação GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas).