O clássico da literatura do pós-guerra “Comboios rigorosamente vigiados”, do escritor checo Bohumil Hrabal, datado de 1965, que teve apenas uma publicação em Portugal, pela Caminho, há mais de 30 anos, chegou este mês às livrarias, editado pela Antígona.

Considerado “uma pequena obra-prima de humor, humanidade e heroísmo”, este é o segundo livro do autor checo que a Antígona publica, depois de “Uma solidão Demasiado Ruidosa”, com tradução direta do checo de Anna Nemcová de Almeida. Foi adaptado ao cinema por Milos Forman em 1966 e ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A história acompanha a vida numa pacata estação ferroviária da Checoslováquia ocupada pelos nazis, nos últimos dias da II Guerra Mundial na Europa, onde trabalha Milos Hrma, um jovem aprendiz com um “hilariante historial de família”, no qual se destaca um avô que quis deter os tanques alemães pelo poder da hipnose, descreve a editora.

“Quando os alemães atravessaram a nossa fronteira para ocupar todo o país e avançavam em direção a Praga, o meu avô foi o único a ir ao encontro deles, o único a enfrentar os alemães como hipnotizador, para impedir, com a força do pensamento, que os tanques prosseguissem”, lê-se num excerto do livro.

Entre o ramerrame de chegadas e partidas, gélidos cais e ruidosos vagões e locomotivas, esvoaçam os pombos prediletos do chefe de estação, asas de aviões tombam no jardim do reitor da vila, a telegrafista arrebata corações e Milos Hrma morre de amores pela bela Mása.

O tímido e jovem aprendiz dos caminhos-de-ferro estatais também um dia se decide a desafiar os invasores, tal como fizera o seu avô, demonstrando que a resistência habita por vezes os homens e nos locais mais improváveis.

“Comboios rigorosamente vigiados” foi adaptado ao cinema por Jiri Menzel, em 1968, e venceu o Óscar para o então designado Melhor Filme Estrangeiro.

Em 2019, a Antígona publicou “Uma solidão demasiado ruidosa”, obra original de 1976 - época de plena vigência da repressiva União Soviética no antigo Bloco de Leste -, que foi censurada e publicada em ‘samizdat’, uma prática da altura destinada a evitar a censura imposta pelos governos dos partidos comunistas leais a Moscovo, através da qual algumas pessoas copiavam e distribuíam clandestinamente livros proibidos.

Bohumil Hrabal (1914-1997) é até hoje considerado um dos maiores escritores checos do século XX, a par de Hasek, Capek e Kundera.

Viveu a ocupação nazi e o estalinismo do pós-guerra, e teve um sem-fim de ofícios, nos quais beberia a inspiração para os seus livros: de ferroviário durante a guerra, a prensador de papel, contrarregra e telegrafista.

As suas obras circularam clandestinamente após a Primavera de Praga, foram banidas e queimadas, e, a par de outros intelectuais, Bohumil Hrabal foi acossado pelo regime comunista e pelos censores do Estado.

Distinguiu-se pela publicação de obras como “Eu que servi o rei de Inglaterra” (1971), “A terra onde o tempo parou” (1973), ambos publicados em Portugal pela Afrontamento, e “Terno bárbaro” (1973), em versão portuguesa da Teodolito.

As suas obras caracterizam-se pelo humor grotesco e irreverente e pela obsessão com o discurso autêntico e pitoresco do seu povo.

No seu último dia de vida, caiu da janela do quinto andar, num hospital de Praga, ao dar de comer aos pombos.

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