A associação ambientalista Quercus criticou o local escolhido para realização do Festival MEO Marés Vivas, junto à Reserva Natural do Estuário do Douro, em Gaia, admitindo recorrer aos tribunais, caso os promotores do evento não optem por outra localização.
“A Quercus manifesta o seu desagrado perante a intenção dos organizadores de promoverem a edição de 2016 do Festival Marés Vivas junto à Reserva Natural Local do Estuário do Douro e espera que o assunto possa ser resolvido fora dos tribunais”, afirma a associação ambientalista.
A Câmara de Gaia já contestou a posição da associação ambientalista, garantindo que “não há qualquer invasão” nem “destruição” da reserva.
Em comunicado, refere que solicitou aos promotores do MEO Marés Vivas que procurem outros locais alternativos para o evento, onde seja possível compatibilizar a realização desta iniciativa cultural com a conservação da biodiversidade.
A Reserva Natural Local do Estuário do Douro situa-se na margem sul do rio Douro, junto à sua foz. Inicia-se na zona da Afurada e termina na zona arenosa do Cabedelo.
Esta reserva natural é atualmente “o sítio de maior importância para a biodiversidade na região do Grande Porto e alberga mais de uma centena de espécies de aves, grande parte delas protegidas e raridades”, sublinha a Quercus.
De acordo com a associação ambientalista, “o local onde o Festival Marés Vivas se realizou desde 2008 até 2015, além de distar cerca de mil metros da área mais importante da reserva natural, continha um morro fortemente arborizado da Quinta Marques Gomes, que reduzia e moderava a propagação do ruído, pelo que o evento tinha um impacto limitado sobre as aves da reserva”.
Por sua vez, salienta, “o lugar proposto para a edição de 2016 é adjacente à reserva natural, sendo que o movimento de pessoas e viaturas vai, fatalmente, perturbar as espécies existentes na Reserva Natural, em plena época de nidificação das aves”.
A Quercus considera que “o ruído, especialmente à noite, aterroriza as aves que voam descontroladamente e vão posteriormente ferir-se ou morrer. Prova disso foi o lançamento do maior foguete do mundo do Porto para o Estuário do Douro. Este evento, que foi denunciado, em 2010, resultou em inúmeras mortes de aves do estuário”.
Chama ainda a atenção para “os impactos das obras necessárias de terraplanagens nos ecossistemas locais”.
“Dado que a área da Reserva Natural contém tanto habitats (como estuários atlânticos, dunas móveis embrionárias e prados salgados atlânticos), como espécies de aves, ‘prioritários’ (todas elencadas no Guia da Reserva Natural, editado com apoio do QREN, em 2012), a realização do Festival Marés Vivas neste local contraria o disposto na lei portuguesa”, afirma.
Contactada pela Lusa, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, garantiu que “não há qualquer invasão” nem “destruição” da reserva, “pelo simples facto de nada lá ocorrer, e não há maiores impactos do que houve durante 13 anos, escassas centenas de metros adiante”.
“Percebo que haja quem queira aproveitar esta oportunidade para levar o Festival para concelhos vizinhos, mas isso não está na agenda da Câmara de Gaia, que trabalhará com equilíbrio e rigor”, referiu.
O autarca recordou que o MEO Marés Vivas dura três dias e realizou-se durante 13 anos no Cabedelo, perto do Estuário do Douro, em terrenos privados.
“Que eu saiba, nunca se questionou a sua realização ou os seus impactos no local”, sublinhou.
“Esses terrenos vão ser ocupados por três loteamentos de prédios de nove pisos, em cima do rio, aprovados em 2008, contra os quais eu estou a lutar, devido aos impactos que acredito venham a existir, seguramente por falha minha na comunicação, não senti qualquer censura pública, cidadã ou ambiental deste licenciamento com sete anos, esse sim estrangulador pelos interesses imobiliários e turísticos acoplados, feito perante os silêncios, muitos deles cúmplices, de quem podia ter falado. Ainda estamos a tempo, espero eu”, acrescentou.
Eduardo Vítor referiu que “à cautela, e com o intuito de manter o evento, encontrou-se um espaço a umas centenas de metros do atual, para os três dias, devidamente vedado e totalmente fora da Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Não há qualquer construção de um recinto, apenas a localização provisória de um evento marcante para a região, em espaço devidamente delimitado”.
“Ora, se durante 13 anos o Festival não teve impactos negativos, não será por umas centenas de metros de distância que o impacto nascerá, nem os decibéis aumentarão. Mais ainda: está totalmente salvaguardada a reserva e toda a instalação será amovível e exclusiva para os três dias. Como não podia deixar de ser, até pelas imposições legais existentes, que respeitamos”, frisou.
Organizado pela Pev Entertainment - Artes & Entretenimento, com o apoio da Câmara de Gaia, o festival MEO Marés Vivas 2016 - que decorre entre 14 e 16 de julho - vai ter um investimento de 2,5 milhões de euros e terá como cabeça de cartaz para o primeiro dia o britânico Elton John.
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