O concerto visual sinfónico “Prima donna”, de Rufus Wainwright, a partir da sua ópera homónima, estreia-se na sexta-feira, em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, com Joana Carneiro à frente da Orquestra Gulbenkian.
O enredo dramático inspira-se na soprano Maria Callas (1923-1977), apontada por Rufus Wainwright como “o padrão referencial de diva”.
“Maria Callas é a diva, ela é o padrão referencial. Ela foi a maior estrela da ópera de todos os tempos. Não acho que tenha sido a maior cantora operática, terá sido sim, a maior atriz, isto do ponto de vista profissional. Mas há todo o contexto que a rodeou, uma vida glamorosa, as capas na imprensa cor-de-rosa, e ainda, claro, a sua vida trágica, que lhe deu um grande dramatismo”, afirmou o compositor à Lusa.
Cantado em francês, o concerto visual sinfónico baseia-se numa série de entrevistas que Callas deu à BBC e, relativamente à ópera homónima, que se estreou em 2009, no Festival Internacional de Manchester, no Reino Unido, o compositor afirmou que retirou o barítono (a personagem Philippe), tendo-se focado na Diva, na Criada e no Jornalista.
Em Lisboa, o elenco é composto pelas sopranos Sarah Fox, no papel de “Regina”, a diva, e Kathryn Gutrie, no papel de “Marie”, a Criada, às quais se junta o tenor Antonio Figueroa, no papel de “André”, o jornalista, e ainda os artistas visuais Francesco Vezzoli, realizador do filme que será exibido, em absoluta estreia, e a atriz Cindy Sherman, que surge no papel de uma diva em transformação, utilizando vários retratos de Maria Callas, alterados pelo realizador.
Sobre Cindy Sherman, Wainwright afirmou que “foi fantástico trabalhar com ela, que é ela própria uma diva, [e] sendo loura, afasta de imediato uma ligação a Callas”.
Esta versão do concerto visual sinfónico foi já apresentada na acrópole de Atenas, mas com um filme mais curto, de cerca de 15 minutos, enquanto em Lisboa, se estreia a versão de 60 minutos. O filme foi uma encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, do Festival de Atenas e da Los Angeles Opera, nos Estados Unidos.
Cindy Sherman surge a acompanhar a ária final do concerto, “Les feux d'artifice”, interpretada pela protagonista Régine.
“O filme é exibido na primeira parte do concerto visual sinfónico e retoma a estrutura original da ópera ‘La prima donna, enquanto, que, na segunda parte, Rufus Wainwright sobe ao palco para apresentar recriações orquestrais de algumas das suas músicas mais conhecidas e alguns temas do reportório operático”, segundo comunicado da Fundação.
Tendo sido esta a sua primeira ópera, Wainwright reconhece influências, mais claras de Giuseppe Verdi, o seu favorito, mas também de Giacomo Puccini e de Richard Strauss, e justificou: “Todas as primeiras obras de grandes compositores refletem influências de outros, vemos isso em Wagner, onde notamos nos primeiros trabalhos influências de 'Werther' [de Goethe] e de Mendelssohn”.
As duas sessões de “Prima donna”, na sexta-feira e no sábado, sempre às 21:00, estão já esgotadas, adiantou à Lusa fonte da Fundação, o que, para o compositor, “é maravilhoso”.
Depois de Lisboa, este concerto visual sinfónico é apresentado no Festival de Hong-Kong, a 01 de março do próximo ano.
Entretanto, Rufus Wainwright trabalha já numa outra ópera sobre o imperador romano Adriano e a sua relação com o escravo Antínoo, uma encomenda da Canadian Opera Company, que será cantada em inglês, com citações em latim e grego, e que se estreará em Toronto, no Canadá, em 2018.
“Atualmente sinto-me confortável a escrever ópera em inglês, o que não aconteceu nesta primeira”, disse o compositor à Lusa, referindo-se ao libreto em francês de "Prima Donna".
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