O palmarés da entidade é anunciado anualmente no decorrer da Semana Acesso Cultura, durante a qual a diferença e a inclusão na acessibilidade cultural estão em foco, de segunda-feira a domingo, com várias iniciativas, este ano em formato online, envolvendo debates com agentes culturais e investigadores.

O júri do Prémio Acesso Cultura 2021 decidiu atribuir o Prémio Acesso Cultura – Acesso Integrado (físico, social e intelectual) à Casa Fernando Pessoa e ao São Luiz Teatro Municipal, duas instituições que "têm apresentado um trabalho inclusivo, consistente, consciente e sustentável".

"São equipamentos culturais que colocam a acessibilidade e a inclusão na sua agenda diária, procurando implementar práticas de promoção da inclusão na dinâmica das suas instituições, junto do público, mas também das próprias equipas, que têm vindo a fazer formação contínua", sustenta o júri na decisão a que a agência Lusa teve acesso.

A Casa Fernando Pessoa reabriu em 2020 com um espaço físico que promove a autonomia de pessoas com deficiência, e as visitas, com recursos de Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição, realizadas com regularidade, pesaram nesta opção do júri do prémio.

"Criou-se aqui um exemplo para todo o setor português que partiu da criatividade e multidisciplinaridade, aliada ao desenho sistémico de toda a experiência", adianta.

Em 2007, o São Luiz Teatro Municipal "foi a primeira instituição cultural portuguesa a apresentar com regularidade espetáculos com interpretação em Língua Gestual Portuguesa", sublinha a Acesso Cultura, apontando que, "até então, o público surdo não tinha uma oferta regular de teatro".

Gradualmente, "tem vindo a implementar mais recursos de programação acessível, tendo frequentemente sessões descontraídas e com audiodescrição”, com "o espaço físico a tornar-se cada vez mais acessível, bem como a sua comunicação institucional".

Pelas razões indicadas pelo júri, tanto a Casa Fernando Pessoa como o São Luiz Teatro Municipal "são referências de boas práticas, acessibilidade e inclusão para o setor cultural português".

Quanto Prémio Acesso Cultura 2021 – Acesso Social, foi entregue à Sou Largo (Largo Residências), uma Cooperativa Cultural e de Solidariedade Social sem fins lucrativos, dedicada à regeneração urbana e cultural da área lisboeta compreendida entre a avenida Almirante Reis, a freguesia de Arroios e o bairro da Mouraria.

Com sede no Largo do Intendente Pina Manique, desde 2011, desenvolveu-se como cooperativa em 2012, alargando as suas componentes de inclusão social, criação de parcerias e de trabalho em rede com parceiros institucionais e privados, locais e internacionais.

"A relação criativa da Sou Largo com a comunidade tem crescido através de encontros entre artistas em residências temporárias e a população local, da criação de negócios sociais para a sustentabilidade e promoção da economia do bairro, abrindo novas perspetivas de trabalho, de conhecimento e de fruição a todos os envolvidos", enquadra o júri.

Ao atribuir o Prémio Acesso Cultura – Acessibilidade Social à Sou Largo o júri reconhece “o mérito do trabalho persistente e consistente em prol do desenvolvimento cultural e social de uma comunidade diversa e fragilizada - nas freguesias de Arroios e Mouraria - que apoiou, dinamizou e celebrou ao longo de 10 anos, e cujo reconhecimento já foi manifestado por instituições e entidades públicas e privadas".

Foi ainda entregue nesta categoria uma menção honrosa ao Circo Coliseu Porto Ageas 2020 pelos "princípios manifestados na conceção do programa do Natal de 2020, nomeadamente a pluralidade e a inclusão na criação de um espetáculo para todos, incluindo famílias com bebés no público, e famílias de artistas portugueses em atuações tradicionais, a par de interpretações inovadoras de artistas independentes, onde se incluiu a estreia nesta programação de uma bailarina com deficiência".

Quanto ao Prémio Acesso Cultura 2021 – Acesso Intelectual foi entregue à Buala - Associação Cultural, um "fórum virtual trilingue, cultural e humanista onde criadores se encontram numa troca de conhecimento e discurso crítico que se pretende polifónico, o que é garantido por cerca de 600 colaboradores e 30 galerias de artistas, e abrangente nos temas e perspetivas dando voz e visibilidade ao Sul Global".

A área de atividade da plataforma Buala incide no debate e reflexão sobre as questões da descolonização, das crises sanitária, ecológica, económica e social, "que aumentam a desigualdade e limitam os direitos sociais e culturais das comunidades mais fragilizadas, nomeadamente no continente africano".

Ao distinguir a Buala, o júri "releva o impacto na divulgação de reflexões, visões, discussões multidisciplinares diversas e plurais, quer no acesso como na participação, na cultura e correntes do pensamento atual".

Quanto ao Prémio Acesso Cultura 2021 – Acesso Social e Intelectual, foi entregue, em ex-aequo, a Pedro Melo Pestana - pelo projeto “Histórias do João Balão” - e ao Museu das Marionetas do Porto, pelo projeto “Quem sou eu?”.

O projeto de Pedro Melo Pestana “Histórias do João Balão” abrange a literacia e a música destinados ao público infantil, do primeiro ciclo ao 5.º ano, através de um audiolivro, acessível aos leitores com dislexia e/ou défice de atenção, e uma edição em Braille.

Conta, ainda, com a apresentação de um mini-espetáculo interativo, dinamizado nas escolas, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa, com a missão de reduzir as barreiras de acessibilidade entre o “leitor-ouvinte” e o conteúdo literário-musical, para as crianças.

Com o intuito de se aproximar da comunidade local, o Museu das Marionetas do Porto decidiu desenvolver o projeto “Quem Sou Eu?”, um trabalho artístico com dimensão social, dirigido à comunidade sénior vizinha do museu, habitantes do centro histórico do Porto e Campanhã.

O processo culminou na criação de um espetáculo, e a sua ação, segundo o júri, "distinguiu-se pela integração ativa do indivíduo, a forma como os participantes se envolveram com os elementos artísticos que compõe a matéria da cena, pela capacidade de mudança provocada nas rotinas diárias dos participantes, e como estes assumiram um protagonismo na sua voz individual e coletiva frente as questões trazidas durante o processo".

Quanto ao Prémio Acesso Cultura 2021 - Acesso Físico, foi para a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (Bibliopolis), em Braga, por várias ações, nomeadamente, "o trabalho desenvolvido na adaptação do espaço físico que promove a autonomia e equidade, tendo como exemplos: rampas, faixas de aproximação, balcão rebaixado, WC acessível e sinalética acessível".

Na chegada à Biblioteca, os visitantes têm à sua disposição materiais em braille, audiolivros, audioguias e outros equipamentos tecnológicos de apoio ao usufruto e utilização, destacou o júri, sobre a escolha.

Iniciativas da Acesso Cultura - Associação Cultural, os prémios de boas práticas e a semana são realizados para promover a reflexão e uma maior consciência em torno do acesso físico, social e intelectual à participação cultural.

A Acesso Cultura tem vindo a promover várias iniciativas, desde formação, estudos, palestras, debates, e as chamadas Sessões Descontraídas - sessões de teatro, dança, cinema ou outro tipo de oferta cultural, que decorrem numa atmosfera com regras mais tolerantes quanto a movimento e barulho na plateia, dirigidas a públicos com necessidades especiais.

Esta entidade sem fins lucrativos, reconhecida oficialmente em fevereiro deste ano, pela sua utilidade pública, trabalha em regime de voluntariado e com parcerias para promoção do acesso físico, social, e intelectual à participação cultural.

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