É na Rua de São Bento, no número 269, que pode, a partir de hoje, conhecer alguns dos trabalhos de Ai Weiwei, artista plástico chinês, que o fará percorrer um bocadinho pela história do autor.
Foi também a percorrer a cidade de Lisboa, que Ai Weiwei descobriu a loja de antiguidades de Mário Roque, a São Roque - Antiguidades e Galeria de Arte, e percebeu que partilhava com o proprietário o mesmo gosto pela porcelana. De um breve diálogo surgiu a oportunidade de, portas ao lado, serem expostas algumas das suas peças da coleção de porcelana.
A primeira obra da exposição “Paradigma” que salta à vista é uma estrutura colorida de porcelana – Porcelain Rebar – que representa o terramoto de Sichuan que, em 2008, vitimou cerca de 80 mil pessoas.
Através do seu blog – fechado pelo governo chinês em 2009 – promoveu uma investigação popular sobre terramoto, numa afronta à falta de transparência e inatividade do governo. Desta iniciativa foram identificados de 5000 nomes de crianças que morreram nas escolas. Este evento não só marcou o início do confronto entre o artista e o governo chinês, como também tornou o tema recorrente nas suas obras de arte. Nesta obra usa a porcelana para replicar o emaranhado de aço das barras relembrando assim as vítimas.
A porcelana azul e branca é muito tradicional na China, principalmente no final da dinastia Yuan e no início da dinastia Ming. Foi nesta arte que Ai Weiwei se inspirou em várias das suas obras, como na coleção de 6 peças, “Blue and White porcelain Plates” (2017) que pretende correlacionar a Odisseia de Homero com a crise global dos refugiados e o caminho que fazem, ou no vaso "Ghost Gu Descending a Mountain" (2007) que faz alusão ao vaso do período Yuan vendido em leilão por um valor recorde.
A galeria tem dois andares, e na parte superior pode encontrar-se uma obra que bem podia ser de Bordallo Pinheiro, uma vez que frutas e legumes coloridos feitos de porcelana enchem a vista. A replicação de objetos naturais tem sido historicamente uma das técnicas utilizada na arte ocidental. Ai Weiwei inspirou-se nos mercados que foi visitando ao longo das suas viagens, nomeadamente o mercado Pazar na Turquia, que dá título à obra.
Nesta exposição, esculturas de porcelana convivem com uma série de retratos em Lego, material que o artista também gosta de explorar pela sensação de ter imagens pixelizadas.
Para Ai Weiwei a realidade e a arte são indissociáveis e, por isso, as suas obras representam o contexto social, político e pessoal em que viveu e vive.
Se quiser visitar hoje a exposição saiba que deve marcar através do email geral@saoroquearte.pt e escolher a faixa horária que pretende. A galeria estará aberta ao público do 12h00 às 20h00, e as entradas acontecem de meia em meia hora.
Nos dias seguintes pode visitar, de segunda a domingo, das 10h30 às 19h30 sem necessidade de marcação. A entrada é livre.
Ai Weiwei atualmente mora em Montemor o Novo, onde está a construir um grande atelier, uma réplica quase perfeita do que tinha construído em Xangai.
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