Numa entrevista à Lusa, em Lisboa, os três coordenadores do programa das celebrações conjuntas dos 200 anos da independência do Brasil, que se assinalam este ano, os dois diplomatas brasileiros Gonçalo Mourão e George Prata, e o embaixador português Francisco Ribeiro Telles, falaram sobre o que, para já, poderão ser alguns dos pontos altos das comemorações em Portugal e de iniciativas que até poderiam ficar para além do bicentenário.

Neste contexto, Francisco Ribeiro Telles anunciou que "há a possibilidade de se criar uma chamada orquestra dos mares, que irá reunir jovens músicos portugueses e brasileiros".

Quanto a eventos, os três coordenadores são unânimes em considerar que um colóquio sobre as migrações cruzadas entre Portugal e o Brasil ao longo do tempo, que deverá realizar-se no Porto, com a colaboração da universidade daquela cidade, será um dos pontos altos do programa.

"Os movimentos migratórios entre Portugal e Brasil, são, dos dois lados, impressionantes e podem ser estudados e, de certa forma, até podem servir de exemplo de como um bom relacionamento entre dois países permite que haja esses fluxos migratórios constantes", justificou Ribeiro Telles.

Do lado do Brasil, o embaixador Gonçalo Mourão sublinhou que se trata de um debate sobre o papel das migrações nos dois sentidos e "o que isso representou" desde a independência, recordando que “já naquela época, a migração representava uma coisa importante nas relações entre os dois países".

"Queremos fazer um seminário que fale sobre a importância desse relacionamento para reforçar as relações" bilaterais, concluiu.

Para Francisco Ribeiro Telles, outro dos pontos altos das comemorações do bicentenário da independência do Brasil em Portugal deverá ser um colóquio, a organizar pela Fundação Gulbenkian, em Lisboa no mês de junho, sobre as relações entre os dois países, mas focado no futuro.

“Não é apenas revisitar o passado, mas projetar o nosso relacionamento para o futuro e quais as áreas em que nos podemos projetar ainda mais. Isso talvez seja o ponto alto do bicentenário aqui em Portugal", sublinhou.

Já na cidade do Porto, mas em outubro, um conjunto de iniciativas da câmara municipal daquela cidade deverão marcar outro dos pontos altos das celebrações.

No dia 12 de outubro, data do nascimento do rei D. Pedro, o monarca português que proclamou a independência do Brasil, "haverá uma cerimónia na Igreja da Lapa, onde serão tocadas partituras de D. Pedro, uma espécie de sessão solene", disse Francisco Ribeiro Telles.

Na mesma altura, é também intenção da câmara "fazer uma exposição no Museu Soares dos Reis, em outubro, sobre D. Pedro", adiantou. A este pacote de eventos deverá juntar-se o "seminário sobre as migrações, que poderá decorrer na mesma altura", referiu.

Pelo Brasil, Gonçalo Mourão adiantou que a Fundação Alexandre de Gusmão, sob alçada do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), uma organização de investigação e estudos académicos, já lançou uma coleção sobre o bicentenário, e vai editar livros sobre o tema histórico.

"Não são só obras clássicas em torno do assunto (...), como também algumas de interpretação moderna e algumas estão a ser lançadas em coedição com o Camões [Instituto da Cooperação e da Língua]", indicou, referindo que já foram publicadas 10 e a ideia é chegar às 32.

"Mas ainda é uma obra em aberto, porque outros títulos podem ser incorporados", explicou o diplomata brasileiro.

Ribeiro Telles destacou também ações que estavam programadas pelo instituto Camões no Brasil, através da sua ação cultural externa, e que agora vão ser canalizadas para o bicentenário.

"Portugal é o convidado de honra da bienal de São Paulo, que é um acontecimento importante, não apenas no Brasil, como em toda a América Latina, e nós vamos aproveitar essa presença para que possa ser referenciada a importância do bicentenário", exemplificou.