A novela desenrola-se em torno da jovem Littegarde, difamada pelo conde Jacob Barba-Ruiva, que almeja ficar com a coroa, e a usa como álibi quando acusado da morte do irmão. Littegarde, apaixonada por Frederico von Trota, camareiro de Duque de Breysach, pede-lhe ajuda, para desmontar a mentira. Impelido em livrar a sua amada da acusação de desonra que sobre ela caíra, o camareiro desafia o conde para o desfecho que o nome da peça deixa antever, o duelo. E é neste jogo de “honra e sinceridade que o triângulo de protagonistas se envolve", lê-se no dossiê de imprensa entregue aos jornalistas durante o ensaio de hoje.

Questionado sobre os temas da peça, o diretor cénico de “O Duelo", Carlos Pimenta, enumera-os: "a injustiça, a inocência, a pré-intervenção divina”, “a justiça dos homens, a justiça de Deus, o amor puro, a inocência, a artimanha".

"Gosto muito de trabalhar com os atores numa relação de um para um”, prossegue Carlos Pimenta. É um processo que facilita o entendimento, como afirma. E gosta também de ver atores que têm potencialidade, “desenvolverem essas potencialidades”.

“Todo o texto é muito complexo”, considerou Carlos Pimenta, sobre a obra de Kleist, um dos nomes de referência do Romantismo alemão, que a história da literatura europeia coloca no lugar dos precursores do teatro moderno.

Pimenta destaca a apresentação cénica de uma novela em que o ator tem “um protagonismo grande”, no sentido em tem de fazer três abordagens.

O Duelo

“Ele [o ator] tem a consciência de que é um ator a fazer este papel, ele interpreta a maior parte das personagens que estão na novela e, ao mesmo tempo, comenta tanto as incidências na novela, como o próprio texto de Kleist”, acrescenta Carlos Pimenta, referindo que o cenário da peça é “minimalista”.

Basicamente, segundo Carlos Pimenta, o que a equipa pensou ao fazer esta peça foi centrar-se, dar destaque à “condição de leitor, muito mais até que a condição de espectador”.

“O que fazer quando lemos um livro? Paramos, imaginamos coisas que até nem estão lá. Há imagens que surgem na nossa cabeça; depois folheamos, depois descansamos, depois não lemos. Depois retomamos passado um bocado e lemos outra vez”, descreve.

No palco, o espectador vê um chão repleto de “trufas do bosque”, um “cubo branco” que irradia luz e que serve para transmitir imagens relacionadas com o monólogo de 40 minutos, dito pelo ator Miguel Loureiro, e uma neblina serrada que se vai desvanecendo ao longo da ação, que decorre no século XIV.

No dossiê de imprensa lê-se que Kleist criou uma obra em “desajuste com a sua época e as suas leis”, na qual se observa um “rigor impiedoso”, nos inquéritos e na instrução jurídica do século XIV, nos quais a crença religiosa prevalecia.

“O juízo divino, os triunfos da espada, a lei e o sentido de justiça acabam por ser colocados em causa quando o vencido do duelo recupera das terríveis feridas do confronto e o vencedor sucumbe no seguimento de uma leve arranhadura”.

"O Duelo" foi uma das poucas novelas escritas pelo mestre da dramaturgia, que viria a ser posta em cena. O romancista Thomas Mann considerou-a "uma das grandes obras da literatura alemã".

"Sobre o Teatro de Marionetas", "Michael Kohlhaas", "O Rebelde", "A Marquesa de O…", "O Terramoto no Chile" são outros textos de Kleist, que marcaram o teatro e a história da literatura europeia.

O espetáculo, que resulta de uma coprodução Teatro Nacional São João, Centro Cultural de Belém e Horta Seca, pode ser visto de 1 a 10 de julho, estando em cena de quarta-feira a sábado, às 19h00, e ao domingo, às 16h00.

“O Duelo” contou com a tradução e dramaturgia de Maria Filomena Molder. A interpretação está a cargo de Miguel Loureiro.

A representação de "O Duelo", no dia 2 de julho, conta com uma conversa pós-espetáculo com o dramaturgo e professor Jorge Louraço Figueira.

O valor dos ingressos é de 10 euros.