David Fonseca tem um novo álbum, "Futuro Eu", o primeiro em língua portuguesa e que é também uma reação de "resistência a uma certa forma de estar", disse à agência Lusa.
O álbum, que sai na sexta-feira, 16 de outubro, foi feito há mais de um ano, numa espécie de retiro em casa dos avós em Peniche, numa altura em que o músico de Leiria andava em ensaios e concertos com o breve regresso dos Silence 4.
Do trabalho de composição nasceram 40 canções escritas em português, mas metade foi para o lixo. Das restantes, foram escolhidas 11 para "Futuro Eu".
"Mais pessoal do que este [disco] é impossível. É pessoal tanto do ponto de vista do conteúdo como da forma, porque uso a minha língua-mãe, já não tem máscara nenhuma, não há nenhuma capa no meio disto tudo", disse o músico.
David Fonseca diz que se sentiu "infantilizado" a escrever em português: "Percebi que tinha que fazer muitas coisas antes. Escrevi muito conto, muito poema parvo, muita crónica, cartas, diários, escrevi durante dias e semanas. Tinha de me relacionar com a língua de forma muito mais emocional e com vista a vir um dia fazer uma canção".
Quando foi anunciado que sairia um novo disco, David Fonseca escreveu que "Futuro eu" é "emocionalmente político", ou seja, tem uma declaração emocional em relação aos tempos atuais, como explicou à Lusa.
"Vivemos num tempo muito absurdo em que a rapidez com que nós encaramos a forma de nos relacionarmos, e a forma superficial com que nos olhamos uns aos outros, tornou-se insuportável. Porque não me atrai a ideia de estar ligado a outras pessoas de formas tão superficiais", lamentou David Fonseca.
Falando indiretamente sobre o país, o músico de 42 anos diz que "pior do que não ver as coisas tristes e melancólicas é fingir que elas não existem".
"Quando comecei a escrever este disco, se calhar devia falar sobre as coisas que me preocupam. Ao fazê-lo – escrevo sempre do ponto de vista emocional - achei que esse era um 'statement' político e emocional", continuou.
"Futuro Eu" é também o título da primeira música do alinhamento, uma carta que alguém escreve a si próprio, sem atalhos nem metáforas, cheia de lugares comuns. "É uma pregação a mim próprio, mas irónica".
"O disco não é muito de 'easy listening', não fala sobre as relações humanas de uma forma muito cândida; não entro no 'mainstream' com um disco destes, a falar sobre um amor maravilhoso. É tudo ao contrário", descreveu.
Apesar de já ter tocado, a solo e com os Silence 4, nas mais relevantes salas de espetáculos do país, ainda assim, David Fonseca fará uma estreia com os concertos de "Futuro Eu". No dia 30 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e no dia seguinte na Casa da Música, no Porto.
As canções novas estarão presentes no alinhamento, mas David Fonseca não renega o passado. "Não há coisa pior do que pagar o bilhete para ouvir uma música e depois não a tocar. É o que as pessoas querem ouvir. Não vou defraudar as pessoas", disse.
David Fonseca, que se deu a conhecer nos anos 1990 nos Silence 4, iniciou carreira a solo em 2003 com o álbum "Sing me something new". Antes de "Futuro Eu", tinha editado o álbum "Seasons" (2012), repartido em dois discos, "Rising" e "Falling".
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