No concerto, no Centro Cultural de Belém, Né Ladeiras revelará algumas das canções inéditas e vai repescar temas de álbuns anteriores, juntando-lhe ainda repertório de José Afonso e Fausto Bordalo Dias, essenciais no seu percurso, como contou à agência Lusa.
"Outras vidas" começou a ser trabalhado em 2010 e o processo foi longo e demorado, com vários avanços e recuos, até Né Ladeiras encontrar o tom certo a dar às canções, com produção de Amadeu Magalhães, para que respeitasse uma certa identidade musical que não queria perder.
Arredada uns anos da música, Né Ladeiras voltou a ter vontade de compor depois de ter investigado sobre a história de Avita e Cardilio, um casal que viveu em Torres Novas, durante o período romano, há mais de dois mil anos, e cuja presença é ainda hoje visível num mosaico de azulejos naquela cidade.
"Este casal fez uma viagem enorme de Roma até Torres Novas e deixou escrito que foi feliz aqui, e então comecei a imaginar como terá sido esta vida e fiquei com vontade de compor", disse.
A história de Avita levou Né Ladeiras a outras mulheres com as quais se identifica, como a artista plástica Frida Kahlo, a atriz Greta Garbo ou a pioneira da aviação Amelia Earhart. Daí que o álbum, com letras de Tiago Torres da Silva, se chame "Outras Vidas".
"De certa forma, somos espelhos uns dos outros, e eu vejo-me em certas coisas em relação àquelas mulheres. Este disco mostra que estou aqui e sou isto", referiu.
Né Ladeiras, 57 anos, começou a carreira na música portuguesa ainda na adolescência quando, aos 14 anos, foi uma das fundadoras do grupo Brigada Victor Jara, em Coimbra.
"Foi nessa altura que tomei consciência do que queria fazer, mas era uma coisa ainda amadora. A profissionalização deu-se com os Trovante", em 1979. Só depois se integrou na Banda do Casacco e, em 1982, editou o primeiro álbum a solo, "Alhur".
A cantora tem, portanto, mais de quarenta anos de carreira, marcados por altos e baixos, algumas interrupções - que a desviaram da música -, algum nomadismo entre cidades e seis álbuns a solo, entre os quais "Traz os montes", de 1994, que lhe valeu o Prémio José Afonso.
Atualmente vive em Coimbra, onde tudo começou na sua carreira e onde disse ter encontrado vivacidade para se dedicar à música.
Tantos anos depois da estreia, Né Ladeiras diz que o panorama da música está muito diferente, com as rádios "quase impenetráveis", com as editoras discográficas a decaírem e os concertos ainda a viverem com resquícios da crise económica.
"Fico feliz por ter vivenciado tudo o que vivi, em que as coisas eram feitas com muita ternura, muito amor e alguma ingenuidade. Não sei se hoje ainda é assim, mas parece-me haver uma frieza. Olho para trás e só tenho que agradecer e espero que venha aí um bom ano", disse.
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