Uma exposição “que não é só para ver, é também para experimentar” e na qual os espectadores serão os “próprios ‘performers’”, pois são eles que “vão habitar a casa”, disse a criadora à agência Lusa, a partir do Uruguai, onde se encontra a realizar montagens para o projeto “Coleção de Amantes”, iniciado em 2014 e que só terminará em 2024.

Numa casa, de tipologia T1, concebida pelo arquiteto e cenógrafo José Capela, que a criadora desafiou, em 2018, para desenharem juntos este projeto, os espectadores serão guiados numa visita ao longo da qual poderão ver imagens captadas ao longo de sete anos, em 13 países, num total de 287 amantes, acrescentou a criadora.

A partir das 7.000 fotografias que compõem o arquivo da artista – organizado por lugar e pessoa - desde que iniciou encontros com desconhecidos, em apartamentos igualmente desconhecidos em várias cidades do mundo, o arquiteto e cenógrafo concebeu uma casa cujos espaços foram totalmente preenchidos por imagens que agora estão organizadas de acordo com o lugar da casa, acrescentou Raquel André.

Paredes, chão, teto da casa, mobília, eletrodomésticos e até a loiça estão completamente forrados com imagens com as quais a criadora procura questionar o espectador sobre “o que é a intimidade”.

Sem constituir um “’blind date’ completamente”, a intenção da criadora para quem vai ver a mostra é “precisamente essa”, admitiu.

“Espero que haja também essa experiência de encontrar o desconhecido, que é o que tenho experienciado ao longo destes sete anos" e agora "poder passar isso para os espectadores" desafiando-os a "terem essa experiência”, realçou.

Sem querer adiantar muito sobre a mostra, até porque acredita que quem a vivenciar pode “também ver a casa sob uma outra perspetiva”, Raquel André não nega que “Exposição de Amantes” contém também um lado de “’voyeurismo’”, já que dá a possibilidade a outros de se encontrarem.

O que deixa a artista com “muita expectativa de ver” é como é que os espectadores vão ter essa experiência e como a vão receber, já que, ao contrário dos espetáculos que tem realizado com o projeto e nos quais está em cena, neste não estará em relação direta com os espectadores.

Na visita a esta mostra, dois espectadores entrarão à vez, por portas diferentes, no interior da casa, para uma visita guiada, com audiodescrição gravada com a voz da criadora e música de Odete.

À semelhança do que faz quando tem os encontros para a “Coleção de Amantes” em que apenas ela e o desconhecido ou desconhecida com quem se vai encontrar estão presentes, referiu.

Chão, teto, lençóis, pratos, móveis e até cortina do duche estão totalmente preenchidos com impressões das imagens selecionadas.

“A proposta aqui é que os espectadores experienciem a casa, a vivam e enquanto a vão habitando vão vendo as imagens”, chegando-se, depois, a um momento em que os espectadores se encontram dentro da casa e, caso queiram, podem “autofotografar-se”.

“Essa é a proposta que faço […], guiar um encontro entre duas pessoas”, explicou, acrescentando, todavia, que as estas “estão livres” para aceder ou não ao desafio, podendo ou não “viver esse encontro”.

“Coleção de Amantes” é um projeto iniciado em 2014 por Raquel André, que deu origem a um espetáculo com o mesmo nome, assim como a três outras coleções e outros tantos espetáculos: coleções de colecionadores, de artistas e de espectadores.

A casa montada no palco do Teatro do Bairro Alto vai combinar com a cenografia montada no ‘foyer’, ambas concebidas por José Capela, numa exposição em que no palco se vai assistindo a outro palco, que é o público.

Um espetáculo que, para o diretor artístico do Teatro do Bairro Alto, Francisco Frazão, se pode explicar com dois versos de Ruy Belo: “Só as casas explicam / que exista uma palavra como intimidade”.

“Exposição de Amantes” está patente até 12 de novembro, exceto à segunda e terça-feira. Durante a semana, as visitas guiadas realizam-se às 17h00 e às 22h00, e ao fim de semana às 15h00 e às 22h00.

Com assistência de António Pedro Faria, a mostra tem desenho de luz de Cárin Geada, colaboração artística de Leonor Buescu e é uma coprodução de Missanga e do Teatro do Bairro Alto, num projeto financiado pela Direção-Geral das Artes.

As fotografias são de Raquel André e Tiago de Jesus Brás.